Opinião

A Astra Zeneka ximbica o meu sangue

José Luís Mendonça

No dia 18 de Março, fui ali ao cume da Samba apanhar a vacina contra a Covid-19, a Astra Zeneka. Pessoas amigas e familiares meus já a transportavam no sangue. Um deles, teve febre por três dias, o outro só um dia, os dois acusavam uma dorzita no ombro, um colega relatou no Facebook sintomas de katolotolo durante uma semana, alguns outros, dores de cabeça.

28/03/2021  Última atualização 11H21
A princípio, também tive medo. Muitas das funções e missões das redes sociais, com o WhatsAap à cabeça, é criar terrorismo mental. Recebemos mensagens ‘divinas’ terríficas, com o nome e a imagem de Jesus Cristo para dar mais autenticidade, a dizer que se as ignorarmos podemos morrer com um certo presidente argentino, só que nunca identificam o tal presidente, de modos que quando as recebo, a primeira coisa que faço é apagá-las. Nem as leio.

Mas, sobre a vacina anti-Covid, ainda na fase de estudos laboratoriais e de ensaios, já cá se lia sobre os efeitos directos e os colaterais, numa etapa em que nenhum mortal a tinha sequer experimentado. Desses ‘alertas’, o que mais me deu comichão cerebral foi o de que o próprio Bill Gates era um conspirador de uma grande teia mundial para se enriquecer e para diminuir a população do planeta, principalmente matar os africanos (entenda-se negros).

Só quando Boris Johnson, o Primeiro-Ministro inglês que fica na bicha do metro com mochila nas costas e não penteia o cabelo loiro e farto, foi picado e inoculado com a vacina é que muitos de nós caíram na real: afinal, não era nada para matar os pretos do planeta. E o Marcelo Rebello de Sousa, ali de camisa descaída a receber a agulha no braço também ajudou a debelar a desconfiança da malta cá das terras tórridas. Desculpe-me Vossa Excelência Ti Celito, mas Boris é Boris e Vossa Excelência luso é o Marcelo por causa que nunca, nem mesmo na era colonial, um varão assinalado da ocidental praia lusitana ficou tão povo como o senhor, de ir em tronco nu e calção se banhar na nossa contra-costa.

A mim, a Astra Zeneka me deu na primeira noite uns esticões ligeiros na barriga, tive uma dor de amasso no ombro e tudo passou no dia seguinte, de modos que o medo que tinha se dissipou como fumo como naquela queimada que o Neves e Sousa pintou e guardou na tela sem queimar a posteridade. Fui à Internet e fiquei a saber que Astra Zeneka é o nome de uma firma bio-científica com ramificações pelo mundo e uma experiência em pesquisas e produção diversa de causar inveja e até vergonha às nossas instituições de medicina ainda muito longe de nos darem respostas para as questões sanitárias que nos molestam, como a malária, por exemplo.

Ademais, se o próprio secretário Mufinda esteve ali sentado de camisa toda ao léu a se receber a pica contra a Covid, quem sou eu para duvidar da orientação contida nas células da Astra Zeneka e pensar que veio para nos matar a todos de uma só cajadada? Trata-se, isso sim, daquela função da sociedade das Nações que é a de repartir pelas aldeias a panaceia para impedir o colapso mundial da sobrevivência humana, por um vírus invisível.

Nesta etapa das nossas vidas, em que, a exemplo da condessa Meghan Markle e o seu marido traumatizado pela perda precoce da mãe em núpcias com um árabe, as conversas sobre o estigma da raça e a perfídia do sangue azul percorrem o planeta, esquecemo-nos que, hoje em dia, temos, pela primeiríssima vez na história da Fórmula Um, um pardo Lewis Hamilton com todos os recordes no papo, mais o título de Sir britânico. Portanto, tudo seria de desconfiar dessa vacina, menos a de ter sido criada para acabar com a nossa raça. Eu, pelo menos, sinto a Astra Zeneka ximbicar no meu sangue. Como se fosse kisângua.

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