Opinião

A dopamina das redes sociais

Osvaldo Gonçalves

Jornalista

Nesta pandemia, as novas tecnologias têm-se revelado um aliado importante de avôs e netos para “matar” as saudades. Uns e outros têm sempre muita coisa a dizer entre si, quanto mais não seja para chorar e mandar beijinhos.

07/01/2021  Última atualização 13H45
Países como o nosso estão longe de ser o melhor dos cenários, por falta de cobertura da rede e pelos altos preços praticados pelas operadoras.No outro tempo, quando só havia telefones fixos, famílias há que tiveram as ligações cortadas, tão alto era o valor a pagar pelas chamadas para o exterior. Quando vieram os telemóveis e as chamadas eram pagas a dólares, reservava-se um cartão só para os avôs e as avós falarem com os netos lá fora.

Estudos e relatos recentes revelam que as saudades de parte a parte são maiores que o novo coronavírus. Mas isso não dignifica as redes sociais, sobre as quais muito se tem dito e escrito, nem sempre sobre as melhores razões. A respeito da influência das redes sociais na sociedade, em particular nos jovens, Shirley Cramer, directora executiva da britânica RSPH - Royal Society for Public Health, instituição de caridade independente e multidisciplinar dedicada à melhoria da saúde pública, afirmou: "Os media sociais são descritos como mais viciantes que os cigarros e álcool e agora estão tão arraigados na vida dos jovens que não é possível ignorá-los”.

Cramer alertou para o impacto das redes na saúde mental e bem-estar da juventude, pois as plataformas estão viradas para a imagem e isso pode gerar "sentimentos de inadequação e ansiedade”.  Apesar de todas as advertências e constatações, a ideia que se tem é que cada vez mais jovens aderem às redes sociais. Para a maioria, ter perfil numa plataforma qualquer, além de status, é uma questão de sobrevivência. Algumas chamadas de atenção são bastante veementes. "O meu conselho é: se puder sair das redes sociais, saia” - a afirmação é de Tristan Harris, ex-especialista em ética de design do Google, numa entrevista à revista brasileira "VEJA”, publicada em Setembro último.

O norte-americano, cientista da computação e empresário, presidente e cofundador do Center for Humane Technology, é um dos ouvidos no documentário da Netflix "O Dilema das Redes”, que fala sobre os riscos à privacidade das pessoas que aderem a plataformas como o Facebook, Instagram, Twitter e outros. O conselho de Harris surgiu num momento de grande polémica sobre as novas tecnologias e, em particular, o uso das redes sociais. Após vários estudos análogos, uma pesquisa realizada pela agência de pesquisa Dentsu Aegis Network, em que foram entrevistadas 32 mil pessoas em 22 países, em Março e Abril de 2020, permitiu concluir que, na chamada Geração Z, isto é, jovens entre 18 e 24 anos, um em cada cinco desactivou as suas contas nas redes sociais.

A pesquisa foi realizada no estágio inicial da pandemia provocada pelo novo coronavírus, pelo que é legítimo reclamar-se da sua actualização, mas os resultados são claros sobre o desejo dos jovens aproveitarem mais a vida real, até porque se fala de pessoas que saíram desse mundo. Alguns analistas avançam que os mais recentes estudos sobre a questão apontam que os medias sociais não têm sobre os jovens a influência hegemónica que se pensava.Acreditar nisso? Eu, já com alguma idade, também quero acreditar que sim...

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