Opinião

A “economia ecológica” e questões pertinentes

Na corrida que o mundo desenvolve por uma “economia ecológica”, para preservar o planeta de danos maiores, por causa das emissões de dióxido de carbono, chegam-nos notícias que nos dão conta do que está a ser feito, da assimetria que existe em termos de avanços tecnológicos e de implementação das soluções já conseguidas, e até mesmo de divergências em relação às estratégias que estão a ser seguidas.

14/05/2021  Última atualização 06H00
O ramo da indústria automóvel é dos que mais nos dá a ver, pelos resultados que são obtidos, a forma abnegada como os especialistas procuram vencer essa corrida de modo a poderem proclamar, daqui a 30 ou 50 anos, que os motores a diesel ou a gasolina já não são necessários. Mas há quem não pense assim e o faça com razões fundadas.

Por via do Luiz Antonio, um amigo e profissional brasileiro de mão cheia - jornalista, diagramador, designer gráfico e conhecedor destas coisas de impressão de jornais -, que já esteve por várias vezes em Angola a dar o seu contributo e que, a partir de Salvador da Baía, segue interessado o que vamos publicando no Jornal de Angola, fiquei a saber da existência do "Razão Automóvel”, uma publicação 100% digital, criada em 2012. Dos subsídios que ela nos dá, partilho aqui algumas passagens.

Especializada em informação sobre a indústria automóvel, essa publicação dá conta, numa das suas edições recentes, que a multinacional alemã Bosch, um dos maiores fornecedores do ramo, planeia continuar a investir nos motores de combustão interna nos próximos 20 a 30 anos. De acordo ainda com esse sítio na Internet, que cita o Financial Times, o CEO da Bosch, Volkmar Denner, criticou a aposta da União Europeia apenas na mobilidade eléctrica e a falta de investimento nas áreas do hidrogénio e dos combustíveis renováveis.

Denner afirmou ao Financial Times que "a acção climática não é acerca do fim do motor de combustão interna (…) é sobre o fim dos combustíveis fósseis. E enquanto os carros eléctricos tornam o transporte rodoviário neutro em carbono, os combustíveis renováveis também o fazem”. No seu entender, ao não apostar noutras soluções, a União Europeia está a "cortar” potenciais caminhos para a acção climática. Além disto, Denner revelou-se ainda preocupado com o possível desemprego que esta aposta pode motivar. A multinacional alemã é de opinião que os motores diesel e a gasolina estão já num estágio evolutivo que lhes permite não ter um "impacto apreciável na qualidade do ar”.

As abordagens são interessantes e prosseguem. Num editorial recente, a "Razão Automóvel” questiona se "não é demasiado cedo para largar o motor de combustão interna.” É olhando para a configuração do mercado mundial que a publicação considera ser prematura a mudança, ou seja, a ideia da mobilidade 100 por cento eléctrica, até porque, realça, "o mundo gira a velocidades distintas”, as adaptações levariam a despender esforços financeiros colossais, todo um conjunto de situações que teria impacto negativo brutal nas receitas e nos lucros dos fornecedores globais, ou seja, as empresas que fabricam e vendem para todas as partes do mundo.

A realidade actual, sublinha o "Razão Automóvel”, mostra que, em mercados como a América do Sul, Índia, África ou grande parte do Sudeste Asiático, a electrificação ainda está a dar os primeiros passos ou ainda está por começar. "E a maior parte dos construtores, que, cada vez mais, colocam todos os ovos no mesmo cesto, têm presença global!” Para rematar o raciocínio, a publicação lança a seguinte interrogação: "tendo em consideração a mudança de paradigma desejada, o esforço titânico que exige e os riscos elevados que acarreta (os custos exorbitantes desta mudança poderão colocar em causa a viabilidade de vários construtores, caso os retornos não apareçam), não deveria estar o mundo melhor coordenado neste tema, para até dar melhores probabilidades de sucesso à mudança exigida?”

Portanto, uma questão pertinente que nos leva a aconselhar, mais uma vez, a não encararmos apenas de forma entusiástica a perspectiva da construção de uma "economia ecológica”. É pertinente e é de todo desejável que o mundo queira e desenvolva esforços no sentido de reverter a degradação ambiental do planeta. Mas é preciso fazê-lo com os pés bem assentes no chão. Está claro que há uma evidente desigualdade entre países, resultante do diferente nível de desenvolvimento de cada, na hora de lutar por um planeta melhor. Isso não quer dizer, obviamente, que devem ficar relaxados ou devem fazer menos, só porque também não são os que mais contribuem para a poluição do ambiente a nível mundial.
A luta pela preservação do planeta é uma responsabilidade de todos os países, até mesmo de todas as pessoas, a nível individual. Se cada um fizer a sua parte, todos sairemos a ganhar.

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