Opinião

A pandemia como teste à resiliência dos Executivos

Filomeno Manaças

Apesar de ser uma situação anómala - nenhum Governo esperava ter como adversário uma crise sanitária mundial -, a pandemia da Covid-19 está a funcionar, à escala planetária, como um factor de teste à resiliência dos Executivos.

26/03/2021  Última atualização 14H10
Governar em tempo de pandemia está a requerer esforços extraordinários. Quase ou os mesmos esforços como se todo e qualquer país estivesse engajado numa frente militar. Não obstante ser uma situação imprevista, que apanhou todo o mundo despreparado e está a obrigar a adaptações rápidas, no campo político não há tréguas. O escrutínio é permanente e os desacertos pagam-se caro, quer em relação à gestão do combate à pandemia, quer no que diz respeito à atenção que é dada ao trato de outros aspectos fundamentais da vida económica e social.

A pandemia ajudou a afastar Donald Trump da Casa Branca e toda a linha de pensamento político que o ex-Presidente representava ficou fragilizada. No Brasil, onde Trump tinha um dos seus mais fortes aliados políticos, na pessoa do Presidente Jair Bolsonaro, a tensão política subiu na quarta-feira, dia em que o país ultrapassou a marca dos 300 mil mortos pela Covid-19. O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou, na sequência das notícias sobre o assunto, que o Brasil vai acelerar o programa de vacinação, passando dos actuais cerca de 300 mil para um milhão de doses aplicadas por dia.

Entre os factores apontados como tendo contribuído para que o Brasil passasse a barreira dos 300 mil óbitos estão os velhos problemas económicos e sociais do país, a aversão ao cumprimento do confinamento, do distanciamento social, do uso da máscara e, também… a falta de vacinas! Este último dado deixa meio mundo boquiaberto, tendo em conta as capacidades tecnológicas do país e o facto de que estavam em teste, no Brasil, pelo menos duas vacinas, nomeadamente, a da Oxford-Astrazeneca e a da Sinovac.

De acordo com a enfermeira Ethel Maciel, doutorada em epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, citada pela BBC News, "o negacionismo é o eixo central que permitiu a sucessão de erros e a total ausência de preparação para um momento como este”. A corrente negacionista tem no Presidente Bolsonaro o seu expoente máximo.
Os números levaram o ambiente político a aquecer e, na reunião de quarta-feira de manhã, o presidente da Câmara do Congresso, Arthur Lira, pressionou o Governo a "restabelecer as relações diplomáticas com países considerados chaves para a ampliação da vacinação dos brasileiros”.

Dirigindo-se ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, Lira afirmou ser " preciso que o Governo tenha diálogo constante com a China, a Índia e os Estados Unidos”. Segundo o presidente da Câmara, "o Brasil precisa desbloquear, o quanto antes, a chegada ao país do Ingrediente Farmacêutico Activo (IFA) para a produção de vacinas contra a Covid-19, e que, por isso, não há mais espaço para relações beligerantes, principalmente com a China”.

Arthur Lira disse também que "os EUA têm capacidade de doar vacinas a outros países e que o Brasil precisa de voltar a ter relações com aquele país”. O presidente da Câmara afirmou, segundo reportou a CNN, que "o Congresso tem actuado para desbloquear o que está ao alcance do Legislativo para a produção de vacinas, mas que as relações diplomáticas são da competência do Itamaraty”.

Do que até agora foi relatado, pode-se inferir que, depois da saída de Donald Trump da Casa Branca, Bolsonaro ainda não cuidou de reformular a sua política interna e externa para lidar da melhor maneira com a pandemia da Covid-19.

Os Estados Unidos já deram início ao seu programa de vacinação. A Rússia e a China lançaram os seus próprios planos de produção e de administração de vacinas e têm estado a enfrentar a crise sanitária com particular sucesso. O Reino Unido e a União Europeia estão em sintonia em relação à questão das vacinas e decidiram cooperar para expandir o seu fornecimento. A Índia, considerada a farmácia do mundo, está engajada na vacinação massiva da sua população.

E por não ser um adversário qualquer, por ser um factor com muito mais força, com muito mais poder, com muito maior capacidade de provocar danos na credibilidade, na reputação de quem está a governar do que, em muitos casos, todos os partidos da oposição juntos, o Executivo angolano tem estado a dar particular atenção à gestão do combate à pandemia da Covid-19. A imposição do Estado de Emergência no país, como medida para enfrentar logo no início a situação, a sua prorrogação e mais tarde a transformação em situação de Calamidade Pública, permitiram conter o choque da primeira vaga de infecções e, depois, as subsequentes.

Com o lançamento, a partir do dia 2 de Março, do Plano de Vacinação contra a Covid-19, Angola situa-se na linha da frente dos países que estão a enfrentar com êxito e de modo assertivo os desafios que a pandemia está a colocar a todo o mundo. Que não são poucos. Neste quesito, a resiliência do Governo angolano tem sido realçada pelas organizações internacionais que acompanham e avaliam o desempenho de cada Estado. Os países que conseguirem sair com menos estragos possíveis da asfixia económica e social que a crise sanitária mundial está a provocar terão, sem dúvidas, realizado uma grande obra.                            

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