Opinião

A realidade, a ficção e as redes sociais

Filomeno Manaças

O Presidente João Lourenço foi, quinta-feira, 13.05, vacinado contra a Covid-19, no complexo Paz Flor, e, com esse gesto, simples mas carregado de forte simbolismo político, desfez o castelo de inverdades erguido e replicado em diferentes redes sociais, aquando da sua deslocação, em Março, ao Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

21/05/2021  Última atualização 07H55
Nessa altura, a deslocação do Chefe de Estado àquele país foi motivo para uma série de especulações, entre as quais a de que o casal presidencial teria aproveitado a estada no Dubai para apanhar a vacina russa. Associada a essa ideia, plantada como se fosse um facto verdadeiro, passou-se a mensagem de que ambos teriam preferido fazer-se vacinar no estrangeiro, porque, alegadamente, teria sido mais seguro, enquanto reservavam para os seus compatriotas um tratamento inferior, de segundo plano, com vacinas de eficácia duvidosa.

Quinta-feira, 13.05, João Lourenço e Ana Dias Lourenço, bem como os demais membros do Executivo que acompanharam o casal presidencial e também apanharam a vacina Sputnik V, no Paz Flor, trataram de, com esse gesto, sublinhar que têm toda a confiança nas autoridades sanitárias angolanas, têm toda a confiança no programa de vacinação estabelecido e que está em curso e que o país está a trabalhar de forma séria para combater a pandemia da Covid-19.

Não o verbalizaram - nem era necessário fazê-lo -, mas, com esse gesto, também disseram a todas as pessoas para não acreditarem em tudo o que é colocado nas redes sociais acerca do país, acerca da governação do país. Nos últimos tempos, as redes sociais foram transformadas em campo de batalhas políticas acérrimas, entre os críticos à governação do Presidente João Lourenço e os defensores do Executivo. Por extensão, entre quem faz oposição à governação do MPLA e quem o defende. É próprio de uma democracia que haja esse confronto de pontos de vista. O que não é bom para o fortalecimento da democracia, o que não é ético, é que se faça recurso a mentiras. E estas são abundantes, com matérias que, aparentemente inofensivas, na realidade, configuram uma campanha que visa o desgaste e tornar difusa a imagem do Executivo aos olhos dos cidadãos.

No gesto do Presidente da República, podemos encontrar um paradigma de actuação eficaz, para contrapor as informações falsas que é comum terem, nas redes sociais, espaço privilegiado de disseminação. Provar com actos que o que está a ser ventilado não corresponde, nem um pouco, à realidade dos factos é o caminho acertado, para desconstruir narrativas perniciosas, que têm como objectivo desacreditar as autoridades e todo o esforço que tem vindo a ser feito para, apesar da crise económica e sanitária mundial, manter o país de pé.

E porque o objectivo é manchar a imagem da pessoa ou entidade visada, e porque se enquadra numa campanha com esse propósito, a informação falsa não é retirada do ar, não é rectificada por quem a terá posto a circular. Diferente do procedimento a que está obrigada a Media tradicional, que tem de apurar e confirmar os factos antes de os publicar/divulgar, porque a isso está vinculada, por dever de ofício que o Código de Ética e Deontologia lho impõe, por um lado, e, por outro, porque a lei assim disciplina, nas plataformas digitais, vamos encontrar uma série de actores que entende não lhe serem aplicáveis essas regras. Ou seja, que as redes sociais são uma avenida para transgredir. Daí a facilidade com que se entregam à ficção.

 O jornalismo não é, todavia, o campo predilecto para a ficção. Se o género jornalístico crónica abre, de forma excepcional, espaço para a ficção, todos os demais têm um forte vínculo com factos reais, com os acontecimentos do dia-a-dia, com a vivência das pessoas, das entidades, com o que acontece ou deixa de acontecer.

Mas também sabemos que é inútil estar a insistir em lembrar as diferenças entre jornalismo e ficção, porque quem dá livre curso à imaginação não o faz de forma inocente. Sabe da finalidade e do interesse em inventar estórias e/ou distorcer os factos. Aqui, o tratamento deve ser outro. Não é porque as coisas se dão nas redes sociais que deixam de ser uma actuação susceptível de merecer a atenção das autoridades judiciais.

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