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Acusação reata julgamento do polícia que matou Floyd

Derek Chauvin, o agente da Polícia que provocou a morte do afro-americano George Floyd, ao ajoelhar-se sobre o seu pescoço durante nove minutos, começou, ontem, a ser julgado em Minneapolis, no Norte dos Estados Unidos.

30/03/2021  Última atualização 07H50
Dias antes do reinício do julgamento foram realizadas várias manifestações em Minneapolis © Fotografia por: DR
As declarações de abertura da acusação e da defesa foram feitas ontem e na sequência, serão ouvidas as testemunhas e terão início os interrogatórios. Esta parte do julgamento deve durar de duas a quatro semanas, seguidas pelos argumentos finais. Só então o júri iniciará a deliberação, esperada para Maio.

O júri levou 11 dias para ser constituído. Cerca de 300 pessoas participaram de uma complexa selecção. Foram escolhidos 15 jurados, entre eles, quatro negros, duas multirraciais e nove brancos. Uma pessoa deve ser dispensada e duas ficarão de suplentes. Segundo especialistas, esse júri já é muito mais diversificado do que o costume nos julgamentos em Minneapolis, onde 74 por cento da população é branca.


Acusações e defesa
Derek Chauvin, de 45 anos, 19 anos na Polícia, enfrenta acusações de homicídio doloso e homicídio culposo - ou seja, com e sem intenção de matar - e de assassinato de terceiro grau, que em alguns sistemas de Justiça é similar à lesão corporal seguida de morte. Chauvin foi demitido e está em liberdade condicional desde Outubro, depois de ter pago 1 milhão de dólares.

O arguido declarou-se inocente e alegou que, para abordar Floyd, seguiu correctamente o treinamento policial. Esse deve ser, também, o argumento da defesa, que vai tentar convencer o júri de que a vítima morreu por estar sob efeito de drogas. Floyd, de 46 anos, foi abordado por quatro agentes em Minneapolis, sob alegação de que havia usado uma nota falsa de 20 dólares.

A acusação deve argumentar que a violenta acção de Chauvin, a 25 de Maio de 2020, não foi um excepção, mas uma estratégia utilizada por ele durante todo o tempo em que esteve na Polícia. Há registos de, pelo menos, outros seis incidentes anteriores à morte de Floyd, nos quais o ex-polícia imobilizava as pessoas pelo pescoço ou ajoelhava-se em cima delas.

Se condenado por assassinato em segundo grau, Chauvin pode cumprir até 40 anos de prisão, 25 anos por homicídio em terceiro grau e até 10 anos por homicídio culposo. Os outros três agentes, que participaram da operação também foram demitidos, mas serão julgados separadamente em Agosto.


Símbolo do racismo estrutural
Entre a população de Minnesota, há muita expectativa em relação ao julgamento de Chauvin, mas também falta de esperança. George Floyd tornou-se num dos maiores símbolos do racismo estrutural nos Estados Unidos e da violência policial. A morte deste afro-americano causou revolta, indignação e suscitou os maiores protestos dos últimos 50 anos no país.

Por um lado, neste mês de Março foi assinado o maior acordo préjudicial de um processo por homicídio culposo na História dos Estados Unidos: a família de Floyd vai receber da cidade de Minneapolis uma indemnização de 27 milhões de dólares, o que mostra a importância desse caso.
Segundo analistas, a revolta nacional após a morte de Floyd influenciou até mesmo as eleições presidenciais de Novembro de 2020.

Mais pessoas foram às urnas para tentar reverter essa disparidade racial. Além disso, foi aberto um grande debate sobre a reforma da Polícia americana. As pessoas perderam a fé na Justiça - um sentimento baseado em julgamentos anteriores. Muitos não acreditam que Chauvin possa ser condenado, já que os agentes policiais contam com uma grande imunidade nos Estados Unidos, e teme-se que  população volte para as ruas.

No domingo, na véspera do início do julgamento, foram realizadas novas manifestações e vigílias para homenagear a Floyd. O reverendo Al Sharpton, activista dos direitos humanos, resumiu o sentimento actual do país neste momento: "Chauvin está na sala do tribunal, mas os EUA estão a ser  julgados. É o sistema de justiça criminal que está em julgamento", declarou.

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