Desporto

Adriano: O homem do golo mais rápido do Girabola

Matias Adriano

Jornalista

Abriu o marcador aos nove segundos no Interclube-Desportivo da Chela para a edição de 1987

13/02/2021  Última atualização 18H41
© Fotografia por: DR
Integrou a sensacional equipa do Desportivo da Chela , treinada, à época, por João Machado, que viria a falhar o título do Girabola'85 de forma que, até hoje, poucos saberão  explicar. Chama-se Adriano Moreira de Azevedo, ou, simplesmente Adriano, dono de um "pé canhão" fenomenal, responsável por muitos golos que marcou durante a carreira.  
No Chela era um verdadeiro "carregador de piano", embora existisse no plan-tel outros activos de alta serventia.

Basílio, Docas, Arsénio, Chiquinho, Didinho, Currulá e outros, cujos nomes escapam ao alcance, são só as outras valiosas  unidades de uma equipa que, em 1985, tinha tudo para levar o título do Girabola à  galeria do clube com sede na Rua Comandante Satanás, na cidade do Lubango. "O excesso de confiança  terá determinado o inexplicável fracasso que tivemos naquele campeonato”.Conta Adriano.

A ele é atribuída a autoria do golo mais rápido na história do Girabola. Fê-lo no jogo  Interclube-Desportivo da Chela (3-3), no Estádio Municipal dos Coqueiros, para a edição de 1987, aos nove segundos de jogo. Registaram-se outros golos rápidos, marcados por outros jogadores, mas nenhum superou, em termos de tempo, o registo dos nove segundos de jogo.
Em entrevista ao Jornal de Angola, lembra como foi o golo que até hoje mantém o recorde de ser o mais madrugador.

"Nós como, à partida, já conhecíamos as debilidades do Salvador, guarda-redes do Interclube, mesmo já dos jogos do bairro, e como coube o centro  ao Chela,  combinamos a jogada. Assim que o árbitro(Cruz Lima) apitou, o Currulá tocou à bola para mim e eu disparei direitinho para a baliza. O Salvador andou à procura da bola, supondo que  ela tivesse passado ao lado,afinal morava lá dentro. Eram decorridos nove segundos de jogo".

Lamenta o facto de a Federação Angolana de Futebol não ter a preocupação de fazer o registo oficial de algumas marcas do nosso futebol.
"Por falta de registo ,este recorde tem, às vezes,  levantado algumas discussões,, porque há outros que também tiveram golos rápidos. Mas nenhum foi abaixo dos nove segundos de jogo. Penso que único registo existente, e que não deixa margem para dúvidas,  são os 29 golos de Alves no Girabola'80 que até hoje não foi superado por outro jogador".
De 1987,  à presente data, passam 34 anos e o recorde resiste à passagem do tempo e de gerações. Quisemos saber se receava que alguém possa vir quebrá-lo. Firme e convicto nas palavras, disse que tudo é possível, mas não será fácil. "Não posso dizer que não apareça alguém que o possa quebrar, mas não tão cedo".

Justifica a sua convicção com a falta nos dias correntes de pontas de gema. "Já não temos jogadores do sector atacante como no outro tempo. Só assim se explica que algumas marcas sobrevivam ao tempo. Os 29 golos de Alves constituem o exemplo mais claro. Os melhores marcadores de hoje estão a se sagrar com metade de golos que o antigo goleador do 1º de Agosto marcou em 1980".

A falta de jogadores que devem actuar como cabeças de área é, no seu dizer,  um dos factores que concorre para a baixa marcação de golos nas nossas equipas.  "Antigamente havia estas figuras. Lembro-me do Arsénio no Chela, Raul no Interclube e  Zico no Petro".
No Girabola Adriano representou apenas duas equipas. Desportivo da Chela e FC Cabinda. Por razões pessoais diz que foi em Cabinda onde se sentiu melhor, onde melhor foi recebido e também onde a adaptação foi mais fácil.

"A minha recepção em Cabinda foi fantástica. O clima, quer na quadra, quer fora dela, era bom. Aliás, com um treinador fantástico como Ruben Garcia, não havia de ser diferente. Tinha também bom relacionamento com colegas de equipa, de modo que aos domingos, às vezes, eu acabava por ter três convites para almoço, e tinha de andar de casa em casa para evitar desfeita aos anfitriões".

O FC Cabinda tinha até então enormes dificuldades para superar equipas como Taag e 1º de Agosto. Com estas equipas o máximo que podia obter é um empate, quando não fosse derrota. Porém, com a sua chegada ao plantel o quadro conheceu uma evolução positiva.
"Quando cheguei na equipa o FC Cabinda começou a jogar com os grandes de Luanda de igual para igual. Lembro-me de um jogo em que vencemos o 1º de Agosto por 3-1 em que fiz um golo a meio da rua".


  OS CONTORNOS DE UMA CARREIRA
"Foi difícil chegar à primeira divisão”

Como em tudo, o começo de Adriano na alta-competição não foi fácil. Ele, que se iniciou no Maxinde de Luanda, passou pela Refrinor e soma títulos nacionais no Desporto Escolar, passou por várias vicissitudes para conseguir se impor na primeira divisão. Aliás, como conta, só chegou onde foi possível à custa de muita resiliência.

O primeiro clube grande que contactou, à saída da Refrinor, foi o Interclube. Lembra que apesar de ter sido bem sucedido nos treinos iniciais, não ficou na equipa. "O técnico Joka Santinho apresentou os seus argumentos, disse que já tinha o plantel completo e nele não cabia mais ninguém.  Estou bem recordado que o Mendinho e o Feliciano ainda saíram em minha defesa, mas o técnico estava irredutível na decisão".

Certo que na vida a persistência é uma poderosa arma à conquista dos objectivos , não ficou por ai. Continuou a arrepiar caminhos à procura de um lugar ao sol. Pensou na Taag, e lá foi ter ao clube do aeroporto.  "Na Taag também treinei alguns dias e muitos gostaram da minha entrega, mas o treinador veio com a mesma conversa: tinha o plantel já formado e não havia mais lugar seja para quem fosse, mesmo com a intervenção de Luntadila".

Entretanto, antes destas curvas e contra-curvas já tinha recebido um convite de Pepé António para ir jogar no Desportivo da Chela, mas que não deu importância no momento. Perante a recusa no Interclube e na Taag achou por bem seguir para a Huíla. No Desportivo da Chela, João Machado sequer o queria observar.

"João Machado disse, igualmente, que já tinha o grupo completo. Inclusive tinha dispensado mais de 150 outros atletas que tinham tentado a sorte. Dou graças ao Pepé António que insistiu ao técnico para que, ao menos, me pudesse observar, pedido a que anuiu quase que contrariado".

Chegado o dia, conta Adriano, João Machado  terá dito "ipsis verbis" a Pepé António hoje vamos testar este seu jogador. "E à tarde fomos ao treino. Só tirou-me do banco quando faltavam 15 minutos do fim da sessão. Mas naquele breve instante mostrei-lhe que não era jogador de meia-tigela".
Em um quarto de hora correu, chutou e fez golos, acabando por convencer. "Não sei como é que a cidade foi comunicada. Muitos tomaram conhecimento que tinha chegado alguém no Chela que chutava e marcava muito. No treino do dia seguinte o campo do Chela ficou completamente cheio. Muitos foram ver o treino".

Por sorte, dias depois disputa-se, no Lubango, um torneio da Sonangol, em que participam, para além do Chela, Petro do Huambo, Taag e Interclube.
"É nesse torneio, que serviu de despedida de Manecas Leitão, que dou a cara. Vencemos na final o Petro do Huambo por 1-0 e fui melhor marcador. Começava aí o meu percurso, que teve também passagem pelo FC Cabinda".


  Insólito
"Ndunguidi fez o mudo falar”


Para Adriano, que já teve convites do 1º de Agosto, 1º de Maio, Petro de Luanda e Mambrôa, para além de ter estado também às portas do Farense, não pode haver comparação entre o futebol de ontem e o de hoje.
"O futebol perdeu muito em termos de qualidade. Devia estar melhor, porque ficou profissionalizado. Os jogadores são bem remunerados ao contrário do que acontecia no passado, em que jogava-se por amor à camisola. Antigamente, sem serviço de taxi nas cidades, as pessoas andavam distâncias para ir aos jogos. Isto já não se verifica".

Diz que mesmo no que se refira a jogadores, antigamente havia mais escolha. Não se chegava à selecção com mera cantiga, porque a praça tinha muita prata. "Nós já tivemos no nosso futebol dainteiros que só vendo, com todas as qualidades técnicas".
Aponta  Ndunguidi como o maior de todos que no pós-independência povoaram o universo do nosso futebol. "Há uma discussão sobre quem foi melhor entre Dinis e Ndunguidi. Para mim foi Ndunguidi. Foi uma pena não lhe terem deixado sair. Seria uma grande referência, porque o seu destino seria em equipas grandes.

 O futebol  dele era de um extra-terrestre. Havia no Luta Sport de Cabinda um defesa que era mudo, o Daniel fê-lo falar. Depois de umas fintas ele falou: Dobra"!
Perfil

Nome
Adriano Moreira de Azevedo

Filiação
Pedro Monis e Eva Baião

Naturalidade
Luanda

Nascimento
22 de Dezembro de 1966

Estado Civil
Solteiro

Filhos
Seis

Signo
Capricórnio

Cor
Vermelho e branca

Sapato
43

Prato
Cachupa

Bebida
Água e sumo natural

Música
Semba e kuduru

Cantor
Bonga

Perfume
Paco Rabane

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