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Aldeias são abandonadas devido aos efeitos da seca

O município do Curoca constitui o epicentro da seca na província do Cunene, com o registo de centenas de habitantes a abandonar as suas casas.

09/03/2021  Última atualização 10H50
Há desolação entre as comunidades, porque as chuvas não caem, os campos não são cultivados © Fotografia por: Edições Novembro
Verifica-se actualmente intensa movimentação de pessoas que abandonam o Curoca, localizado a 333 quilómetros da cidade de Ondjiva (capital da província), em direcção aos municípios da Cahama, Ombadja e Cuvelai e também para a vizinha República da Namíbia, à procura de condições de subsistência.
Os cidadãos, levando consigo animais de diferentes espécies e outros haveres, deslocam-se para as regiões sul e norte da província, percorrendo centenas de quilómetros a pé, à procura de alimentos e água para o consumo e para o gado.

O soba grande do Curoca, Joaquim Mutchila, disse, à Angop, que a situação nas comunidades é preocupante, as famílias não dispõem de alimentos e o gado caprino, tido como fonte de renda, está a debilitar-se cada vez mais e já se registam mortes de animais.
Afirmou que este ano a seca atingiu níveis inesperados e os idosos estão a ser abandonados à sua sorte, nas aldeias, por não conseguirem percorrer longas distâncias, enquanto as escolas estão a ser fechadas, porque as crianças acompanham os pais na transumância.

"Há desolação entre as comunidades, porque as chuvas não caem, os campos não são cultivados e os animais estão extremamente debilitados”, sublinhou.
O administrador municipal do Curoca, Mbambi dos Santos, disse que diariamente acima de 50 pessoas abandonam o município, num processo migratório que teve início no princípio do mês de Fevereiro do corrente ano.
De acordo com o administrador, as comunidades estão desprovidas de alimentos e de água, sobretudo as populações de Oncócua, Ombwa, Embunde, Chipa, Waru, Elola Tapela, Mambonde Namatumba, com o registo da morte de muitos animais.

Lembrou que a solução da falta de água no Curoca passa pela construção de uma conduta, num percurso de 50 quilómetros, a partir do rio Cunene, da localidade de Monte Negro ao Oncóncua.
"Pensamos que com a materialização deste projecto estaríamos a resolver este problema antigo, possibilitando a criação de lavras familiares, com auxílio do sistema de irrigação e produção de feno para o gado”, sublinhou.

Segundo Mbambi dos Santos, os furos de água subterrâneas construídos e reabilitados estão secos, porque o lençol freático reduziu consideravelmente.
Realçou estar em curso o levantamento dos dados de habitantes que abandonam o município, numa acção conjunta com as autoridades tradicionais, para se saber o número exacto e socorrer-se os idosos.


Casos de má nutrição aumentam

Em consequência da seca , as autoridades sanitárias do município do Curoca registam o au-mento de casos de má nutrição, com o registo diário de dez casos, sete de tuberculose e seis de doenças diarreicas agudas.
Outra consequência tem a ver com o surgimento de uma doença, ainda por identificar, cuja origem, presume-se, está relacionada com o consumo de carne de animais que morreram devido à seca.
Dores nas articulações dos membros inferiores, lesões na estrutura dentária, febre, distúrbios gastrointestinais e sangramento são os principais sintomas da enfermidade.

De acordo com Emanuel Dombaxi, médico de clínica geral do Hospital Municipal do Curoca, nos últimos 14 dias deram entra-da na unidade sanitária 75 pacientes, com sintomas idênticos e relatam o consumo de carne de animais mortos.
Emanuel Dombaxi lamentou o facto de muitos pacientes chegarem ao hospital em estado avançado da doença, porque, primeiro, recorrem ao tratamento tradicional.
Com uma superfície de 7.998 quilómetros quadrados, o município do Curoca está dividido em duas comunas e 25 aldeias e possui cerca de 56 mil habitantes.


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