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Angola, país de rendimento médio em 2024

A pandemia da Covid-19 continua a trazer transtornos à economia mundial, num contexto de crise financeira, sanitária e humanitária. Porém, é importante referir que, mesmo antes da pandemia, quer a taxa de crescimento do PIB, quer a taxa do volume das trocas comerciais a nível internacional estavam em constante queda, atingindo valores significativamente baixos.

16/02/2021  Última atualização 09H41
Agora, em Fevereiro, seria efectuada a classificação de Angola para escalar a categoria de País de Rendimento Médio (PRM). A intenção foi adiada, devido ao registo de alguns constrangimentos, como a vulnerabilidade socio-económica do país, em consequência da pandemia da Covid-19, bem como a recessão, por vários anos consecutivos, e à falta de diversificação da economia, um conjunto de factores que foram amplamente impactados pela posição recessiva da economia mundial.

 Nem tudo, porém, está mal: o preço do petróleo atingiu recentemente os 60 USD, o que impacta positivamente no cenário de desenvolvimento da economia angolana. Daí a importância de se aproveitar as vantagens provenientes destes encaixes financeiros, que são situacionais e temporários, pois a economia é cíclica; hoje, a conjuntura é favorável e amanhã pode ser adversa. A nível internacional, os mercados têm reagido positivamente aos sinais de retoma, sobretudo no continente asiático, onde se prevê que a India, pela primeira vez, possa tornar-se o principal mercado importador de commodities.

Olhando para os critérios da Organização das Nações Unidas (ONU), o país deve apresentar melhorias ao nível do índice de vulnerabilidade económica, sendo que formação deste carece da melhoria de vários indicadores (como distância nos mercados mundiais; concentração das exportações das mercadorias; participação da agricultura, pesca, caça, floresta no PIB; instabilidade nas exportações de produtos e serviços; instabilidade na produção agrícola e outros). Por outro lado, o índice de activos humanos é composto pelos indicadores (taxa de mortalidade de menores de cinco anos; percentagem da população subnutrida; taxa de mortalidade materna, outros).

 E já que a avaliação irá acontecer em 2024, é uma oportunidade para Angola, na medida que tem um horizonte de três anos, suficientes para alterar o status destes indicadores, sendo que para atingir a meta desejada precisamos de subir os índices em vulnerabilidade económica e activos humanos em cerca de 5 e 21,5 pontos base, respectivamente, sem descurar que o avanço destes indicadores são fundamentais para a concretização dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da agenda 2030.
É verdade que o contexto é desafiante e a implementação de várias medidas não dependem inteiramente de factores internos, estando, por isso, condicionada em alguns casos a conjuntura internacional. Ainda assim, achamos importante imprimir uma dinâmica proactiva no que concerne a alguns processos:

- Acelerar a diversificação da base económica, alargando o espectro a um conjunto de áreas prioritárias, nos sectores da produção agrícola e indústria transformadora, com particular enfoque na produção de cereais, pecuária, agro-indústria e restabelecimento da rede de logística e de distribuição. Por essa via, poderemos alterar de facto a estrutura da economia angolana, garantindo um desempenho mais interessante do seu conjunto.
 - Melhorar as infra-estruturas técnicas (estradas, pontes, electricidade, telecomunicações, outros), porque sem a adequação da mesma torna-se difícil aumentar a produtividade e competitividade;

- Reforçar o modelo de desenvolvimento sustentável baseado no aumento da produtividade, uma vez que o crescimento económico a longo prazo depende do aumento do índice de produtividade dos países. O aumento da produtividade é crucial para a melhoria das condições de vida dos cidadãos, crescimento dos salários reais e criação de emprego;

- Acelerar as estratégias que irão impactar na melhoraria do ambiente de negócio, promoção e captação de investimento estrangeiro, fora dos sectores tradicionais, uma vez que, nas últimas décadas, o investimento estrangeiro dirigiu-se particularmente para o sector mineral, ignorando outras áreas de investimento com um potencial extraordinário de desenvolvimento;

 - Mais distribuição de terras para o desenvolvimento da agricultura de subsistência, porque permite fixar em zonas rurais famílias que se dedicam à agricultura de subsistência com mais de 90% da actividade, garantindo uma alimentação saudável aos cidadãos;
- Acelerar os programas de informalidade para que, em 2024, atinjam uma redução de 30%, visto que o processo de formalização oferece benefícios económicos e sociais a inúmeras famílias em situação de exclusão social e pobreza;
- Reforçar o sistema de educação, principalmente no ensino primário, com vista a garantir um ensino de qualidade para as próximas gerações.

 - Reforçar o sistema de saúde pública, o que irá impactar na redução do número de mortes em crianças menores de cinco anos;
- Reforçar o apoio às famílias e aos indivíduos em situação de precariedade social, com subsídios, de forma a suprir situações de pobreza extrema, entre outras medidas.
 Esperamos entrar em poucos anos num processo de retoma económica, com uma recuperação acelerada em "V” e uma avaliação positiva que permita a nação estar na lista dos Países de Rendimento Médio.
 
*Economista

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