Opinião

Apanhados pelo clima

Manuel Rui

Escritor

Nos últimos dias o cidadão comum mais o citadino que interage com a comunicação social e noticiário televisivo internacional ficou boquiaberto com a resposta à chamada de Joe Biden para uma conferência sobre o clima da qual Trump se havia afastado como se afastara da OMS, passando a receitar desinfectantes como seu seguidor Bolsonaro a receitar cloroquina, mas isso fica para outra crónica.

29/04/2021  Última atualização 10H08
A resposta foi mundial desde a África do Sul passando pela Arábia Saudita até à África do Sul… de quem um académico moçambicano falava na TVS que os boers negros são piores que os boers brancos. O ser humano sempre teve que usar a combustão, começando pela lenha ou o carvão vegetal.

O problema foi outro. O mundo Árabe começou a erguer-se com a riqueza petrolífera o que não convinha ao ocidente. Embora conhecido desde a antiguidade, só em meados do séc. XIX começa a ser utilizado para motores movidos a gasolina ou diesel. Já na década de 70 correspondia a quase 50% do consumo mundial de energia e ainda hoje com as fontes alternativas de energia ainda é a fonte de energia mais utilizada no mundo. O petróleo tem origem na decomposição de matéria orgânica, as bactérias com baixo teor de oxigénio realizam a actividade de decomposição que acaba por se acumular em camadas do subsolo que se encontram no fundo dos mares ou de lagos sob condições específicas de pressão que com o decorrer dos tempos sofrem modificações até chegarem à substância oleosa, uma mistura de hidrocarbonetos.

A importância do petróleo, para quem gosta de cinema, vem reflectida no grande filme "O Gigante” com o grande actor James Dean.
Voltando à conferência ela foi impulsionada pelo novo Presidente americano e, quem sabe, que só por isso pode ganhar o Nobel da Paz. Mas quem vem empurrando a luta contra o efeito estufa é a juventude com exemplos como a jovem sueca. Repare-se que enquanto a América tem conflitos com Putin, por exemplo, outros países meio litigiosos, conseguiram consensos impossíveis de obter nas Nações (des)Unidas. Isso é um avanço significativo mas formal que deixa para trás todo o cinismo histórico que ocorre com e depois da segunda guerra mundial. Estamos a falar das descargas de carbono para a atmosfera. Estamos a falar dos blindados, das bombas, dos aviões e submarinos afundados e na transformação dos oceanos em depósitos de lixo que nos levam hoje a consumir, sem saber, alimentos com resíduos de plásticos.

Hoje a questão é maioritariamente colocada para os automóveis, fábricas, indústrias e outros sectores da vida que com a combustão de gasolina ou diesel"sujam” a atmosfera de carbono, agravando o aquecimento global. Enquanto decorria a conferência,a NASA saudava o helicóptero em Marte e os novos inquilinos da estação espacial. Mas ninguém fala no lixo espacial nem nos aviões que numa emergência deitam combustível no mar. Também se faz vista grossa às competições de alta poluência como a Fórmula 1 e outras.

A questão é substituir as energias "sujas” pelas "limpas”, o que pressupõe uma revolução milhões de vezes superior à revolução industrial e aumentará a diferença entre países ricos e países pobres. A energia limpa não lança poluentes na atmosfera e o seu impacto é só no local de instalação da estrutura. O petróleo um dia acaba e por isso estas energias limpas são também renováveis como a energia eólica, solar, maremotriz, geotérmica, hidráulica e nuclear. Todas elas impactam também no ambiente, mas não poluem a nível global.

A questão do clima tem muito a ver com o oxigénio, com os pulmões do planeta, sendo o maior a Amazónia e o problema do abate de árvores crime contra a humanidade por ser crime ambiental e por isso contra o clima. Disso o Presidente do Brasil apareceu com um discurso com 180 graus de diferença do que as declarações que foi fazendo anteriormente. Curiosa a posição de Putin ao recordar que não estava só preocupado em deixar de poluir mas em resgatar o planeta do carbono que anda na atmosfera. A conferência mereceu a voz do Papa que bem podia ser o governador do mundo.

A maka que estamos com ela é que os carros eléctricos andam a carregar as baterias com "electricidade suja” na origem. Também é óbvio que uma placa solar não é barata, tão pouco as ventoinhas (passe o termo) para roubar energia ao vento ou os aparelhos para tirar energia do mar. Uma professora falava aos alunos que era preciso tirar energia do sol. Um aluno ficou baralhado, "sô pessora e assim não vamos secar o sol.”

Por enquanto, no que concerne à redução do efeito estufa pode-se usar o biocombustível como o etanol e biodiesel com matéria prima da cana de açúcar ou milho e nós podemos começar por aí, o que não significaria abandonar a exploração petrolífera que para além da combustão tem outras aplicações como o asfalto e outros derivados para a química e similares. No nosso caso é preciso ponderar o corte sem regras de árvores, algumas centenárias que saem do país para depois aparecerem como mobiliários feitos onde bem sabemos. Óbvio que os camponeses lá no mato vão continuar a fazer carvão que se vende em todo o lado.

A cortina das Cacilhas no Huambo terá sido desmantelada e os eucaliptos e pinheiros que revestiam o Caminho de Ferro de Benguela, teve oportunidade de observar a sua devastação. Impõe-se a replantação e o plantio de árvores para o fabrico do carvão de forma a que o oxigénio seja sempre superior ao carbono que não é nada comparado com a combustão do petróleo... embora se vá usando candeeiros a petróleo.

A experiência legada por Amons no Huambo talvez possa servir de exemplo para os nossos recursos energéticos associados a uma reformulação demográfica juntando pequenas aldeias para boas terras à beira de rios porque não fará sentido puxar energia para uma aldeia de 50 pessoas. E a protecção do nosso pulmão que é o Mayombe?
Aqui na nossa terra apanhados pelo clima é o mesmo que chanfús. Pois o mundo vem sendo governado por patrões apanhados pelo clima… e só agora andam preocupados com o clima…

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