Desporto

“Apenas três treinadores possuem licença A no país”

Miller Gomes, é o actual Director Técnico da Federação Angolana de Futebol, cargo que exerce desde Novembro de 2019. Em entrevista ao Jornal de Angola fala da complexidade do seu trabalho, e mais do que isso, da coragem que teve para assumir o cargo.

16/01/2021  Última atualização 15H00
© Fotografia por: DR
Trás à superfície algumas situações de que enferma o futebol nacional, e aponta soluções para as mesmas 
Jornal de Angola - É Director Técnico  da Federação Angolana de Futebol. É uma função muito exigente ou nem por isso?

Miller Gomes - Foi com grande sentido de responsabilidade que aceitei o convite para assumir o cargo de Director Técnico em Novembro de 2019, fundamental para o desenvolvimento do futebol angolano. "Assumi o cargo, faltavam oito meses para terminar o mandato do Presidente Artur Almeida e Silva. Ninguém estrutura um plano à curto prazo. Requer um tempo de preparação, auscultação, recolha de dados. 
Como encontrou a Direcção Técnica Nacional? 

Encontrei um vazio de três anos. O primeiro Director Técnico Nacional foi Raul Chipenda que exerceu o cargo no mandato de Pedro Neto. Manuel Loth e António Gomes foram directores do Gabinete das Selecções Nacionais que atendia situações técnicas administrativas. Não encontrei absolutamente nada. Houve uma falta de comprometimento com a Instituição. Há pessoas que pensam que toda documentação produzida é pessoal e levam. 
Qual foi o primeiro passo em termos de Planeamento e Organização? 

 O ano de 2020 iniciou com a Pandemia da Covid-19, mas começamos com a execução do nosso plano, um cronograma de acções de competências, linhas orientadoras para o processo de formação de jogadores nos escalões jovens, as etapas de desenvolvimento, a ser trilhado por clubes e selecções, fundamentalmente, para criar uma base forte de coerência em relação ao trabalho realizado. Miller Gomes tem à sua responsabilidade, criar condições para que haja um plano de desenvolvimento de futebol de formação, coordenar, supervisionar todos programas e actividades, todas selecções nacionais de jovens, manter contacto permanente com a FIFA e a CAF. Estou muito preocupado, sobretudo, com as técnicas de comunicação. Comunicam-nos muito mal. Criar as equipas técnicas, para o futebol de formação. Motivar, inspirar, aconselhar, providenciar avaliações de eficácia e eficiência do trabalho dos técnicos. Promover futebol para todos, reestruturação de quadros competitivos, investigação, documentação...
Quais são os critérios para nomeação de um Director Técnico Nacional? 

Ser angolano. Um técnico especialista que, pela sua competência, conhecimento, experiência, referências curriculares teria uma autoridade reconhecida no domínio técnico-pedagógico. Para obtenção desse cargo é obrigatório que o mesmo tenha licenciatura na área do Desporto ou da Educação Física. Um bom gestor de Recursos Humanos. Como condição, "sine quo non” ter a Licença A e experiência como Instrutor da CAF e da FIFA. Nesta elite de técnicos o país tem mais dois. Zeca Amaral e Raul Chipenda. Está gerar uma grande polémica pelo facto de muitos técnicos não ter a Licença A.

Estamos a fazer tudo para elevar o nível dos nossos técnicos. Estamos muito limitados. Não temos Mestres PRO. O nosso nível de escolaridade é muito baixo. A maioria não passaram do INEF. Como queres chegar à Licença A? As Licenças não caem do céu e muito menos do dia para noite. Não aparecem por acaso. Num universo de mil técnicos somente três têm a Licença A. Conto: Miller Gomes, desde 2015, Zeca Amaral e Raul Chipenda. Temos nove com a Licença B. Entre estes João Machado, Mário Calado, Nando Jordão, Ivo Traça, Albano César, Agostinho Tramagal, Henrique Sobrinho "Kito Ribeiro” , Simão Paulo e Isaías Luciano, o que dá um somatório de 11 Técnicos de Elite. Temos 129 com a Licença C, aproximadamente 300 com a Licença D. A participação nos Cursos é obrigatória independentemente do currículo do treinador. Para obtenção da Licença A os encargos são individuais e é por Módulos, partes teórica, técnica e prática. 
A candidatura a estes Módulos tem custos ou não?

O candidato paga aproximadamente, cinco mil dólares norte americano. A FAF cria somente as condições técnicas e de logística. Por exemplo, esta Pandemia da Covid-19 veio estrangular tudo. Inserimos o plano de actividades da CAF para realização dos Cursos para obtenção da Licença C, para o mês de Maio, que seria na província do Huambo, e em Julho da Licença B. 
MAs consta que de vez em quando também tem havido ofertas de bolsas. Como é estamos neste aspecto?

A Alemanha em 2019, ofereceu Bolsas de Estudo ao nosso País e os critérios da Universidade de Leipzig foram os seguintes : Licenciatura em Educação Física e Desportos e não tivemos candidatos. Temos mantido contactos periódicos com a CAF e a FIFA, sobretudo, em relação à Pandemia da Covid-19. Mas temos uma fornada de bons técnicos que dominam a metodologia do treino, com capacidade para implementar o nosso modelo de jogo, a nossa filosofia e metodologia de trabalho. Com capacidade para conciliar a componente teórica e a prática, embora, o número de técnicos ainda não seja o  ideal.  Por outro lado, o nosso atleta passa por imensas dificuldades no que concerne à alimentação, transporte, assistência médica e medicamentosa. Somente a AFA e o 1º de Agosto têm as melhores condições. Os nossos atletas têm um nível de vida muito baixo o que impede o seu desempenho e desenvolvimento. Há quem faça uma alimentação por dia, lamentavelmente. 
Para quando a nomeação dos responsáveis técnicos das APF-Associação Provincial de Futebol? 

Há, aproximadamente, um ano que aguardo pela relação dos candidatos. 
Quem nomeia o seleccionador nacional?

 Não é da minha responsabilidade, porque não está integrado no Plano de Desenvolvimento. Ela tem como objectivo obter resultados. 
Qual é a sua opinião em relação ao modelo de competição?

Infelizmente, quem está a discutir o modelo de competição são os dirigentes dos clubes. É um grande erro. Há pessoas formadas na área de gestão e de liderança que podiam ser mais úteis. Planificar e estruturar. Até Directores Técnicos de outras modalidades que têm estas valências.  Há Províncias que têm somente uma equipa e no ano seguinte sobe de divisão. É atípico não é? 
Quantas Associação Provincial de Futebol têm estado em constante sintonia com o Director Técnico Nacional? 

Desde Abril somente três, que deram resposta ao controlo dos dados elementares, da nossa estatística. Benguela, Huambo e Lunda-Norte. 

PERFIL

Nome João Cláudio de Almeida GomesData de Nascimento 25-12-1970Naturalidade LuandaEstado Civil CasadoFilhos 5Altura 1,70Tempos Livres Musica e leituraPrato Funje (calulu de bagre, feijão óleo palma)Bebida Coca colaCidade angolana LubangoCidade estrangeira LisboaCor preferida VermelhaComo se veste SocialmenteLeitura Obras variadasMúsica Variada, preferencialmente kizomba



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