Opinião

Assim então é como?

Carlos Calongo

Jornalista

A chuva que, quando cai, reflecte a alegria do camponês é a mesma que preocupa os habitantes de cidades como Luanda que, às mínimas gotículas, rebentam pela costura, dando razão à natureza que aos homens não solicita mais do que respeito, pelo que é sua pertença.

26/03/2021  Última atualização 14H14
Tão indispensável à sobrevivência das pessoas, a seca provocada pela chuva que não cai reforça o paradoxo entrelinhado no parágrafo de abertura, que vai provocar uma eventual escassez de alimentos e, por conseguinte, agravar a situação económica e financeira dos cidadãos de toda a cadeia de produção agrícola.

A coabitar com os incaracterísticos amontoados de lixo, na última terça-feira, 16, Luanda foi sacudida por uma chuva que provocou prejuízos avultados à "casa da Tia Joana”, sendo mais visível o deambular dos resíduos que maquilhou o rosto da capital, com as mais indesejadas cores, que levariam qualquer cidadão a colocar a pergunta do momento "assim então é como”? Foi com essa pergunta que o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, terminou as notas esclarecedoras sobre a aprovação da Proposta de Lei de Revisão pontual da Constituição da República de Angola, na quinta-feira, 18, dia em que a Igreja Metodista Unida em Angola celebrou 136 anos de existência.

Não entrando no mérito dos argumentos dos deputados que se pronunciaram sobre o assunto, seja ele na perspectiva positiva ou negativa, ficamos com a sensação de que existe o sentimento de que a Constituição da República de Angola é, de facto, o mais importante projecto colectivo, de que os seus filhos se devem orgulhar, sendo isso muito bom.

No fim das discussões auguramos que a opção ao voto de abstenção exercido por deputados da oposição não ande em sentido contrário à afirmação plena de um Estado democrático e de direito, que garanta a unidade nacional e a consolidação de uma sociedade plural, apresentados como alguns dos fundamentais objectivos da proposta em causa, para que um dia nos perguntem "assim então é como”? Nem em sonho pretendemos sugerir um exercício de "sim camarada”, a julgar pelo valor e posição de supremacias que a Constituição ocupa no mosaico legislativo de qualquer República, não sendo por mero acaso que ela também é conhecida por "Lei mãe”.

E por falar em lei, ocorre-nos uma pincelada sobre as eleições marcadas para o próximo dia 3 de Abril do corrente ano, visando a renovação dos órgãos directivos da Associação da Imprensa Desportiva Angolana (AIDA), cuja campanha arrancou nesta sexta-feira, que (in) felizmente não foi 13, dia de azar. Que seja este, o regresso da regularização da referida associação desportiva, de quem os profissionais precisam desfazer-se de certos vícios promíscuos que em nada dignificam a classe, tida como uma nobre profissão, aliás, mais do que isso, uma missão.

É neste sentido que deploramos todos os vitupérios expressados por determinados cabos eleitorais, alguns deles roçando a falta de respeito e ofensas gratuitas, que funcionaram como partícula de reforço ao sentimento de quem reprova a banalização à que foi votado o jornalismo, nos últimos anos. Entretanto, na perspectiva de que as eleições reforcem o valor e missão da associação, o melhor mesmo é pautar o discurso por uma certa contenção verbal, em que não tenha lugar suspeições avulsas, que não procedem em nenhum exercício sério de interpretação.

Aliás, ao invés de uma postura pouco ética e menos polida, deve prevalecer o espírito de solidariedade e urbanidade como uma vez evidenciados por profissionais da galáxia de Rui Carvalho, Francisco Simons, Manuel Rabelais, Mateus Gonçalves, Manuel Madureira, Aleluia Ferreira, Muanamosi Matumona, etc, e que de sentido positivo à questão: assim então é como?

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