Entrevista

“Auguramos fazer boa figura no Mundial de Andebol”

Arão Martins | Lubango

Jornalista

Com um acumulado de experiência a jogar em Angola, Tunísia, Egipto e Portugal, o lateral esquerdo Edivaldo Ismael da Silva Ferreira, mais conhecido por “Moreno”, natural do Lobito, é um dos convocados da Selecção Nacional de Andebol, que disputa de 13 a 31 deste mês o Campeonato Mundial Sénior Masculino, a decorrer no Egipto. Em entrevista ao Jornal de Angola, o atleta disse que o Egipto é “uma casa” que conhece bem.

10/01/2021  Última atualização 15H28
Edivaldo Ismael da Silva Ferreira" Moreno" © Fotografia por: Edições Novembro
O que representa para si esse chamada para a montra mundial do andebol?

Tenho 110 quilogramas e um metro e 98 de altura. Nasci aos 28 de Maio de 1990. Sou natural do município do Lobito, província de Benguela. A minha posição é lateral esquerdo. Ser chamado, mais uma vez, pelo treinador José Pereira "Kidó”, para a montra mundial do andebol, é motivo de muita alegria e orgulho. Vamos procurar representar bem o nosso país.
 
Onde é que iniciou a sua carreira?

Iniciei a minha carreira na equipa da Zona Aérea Centro da Catumbela "ZAC”. Em 2005, a representar a equipa de Benguela, participei no Campeonato Nacional em Cabinda. O 1º de Agosto participou da prova e gostaram de me ver jogar. No mesmo ano, a direcção do 1º de Agosto foi à minha procura em casa. Lembro-me que foi o chefe Didi que me abordou, a pedido do técnico Filipe Cruz. Lamento o desaparecimento de quase todos os colegas com quem joguei na Catumbela.

Como foi a experiência de jogar no 1º de Agosto?

A experiência foi óptima. Nos primeiros cinco meses   treinava com os seniores e jogava com os juniores. Foi uma experiência positiva, porque já treinava com os meus ídolos, tais como Maninho, Manucho, Caty, Yuri Fernandes e outros. Foi uma experiência enorme.
 
Já foi campeão pelo 1º de Agosto?

Tenho muitos títulos nacionais. Se a memória não me falha, são sete ou oito títulos nacionais, todos a representar o 1º de Agosto. Deixei de jogar pelo 1º de Agosto em 2016, quando fui jogar no Etoile do Sahel, da Tunísia. Em 2018 fui para o Egipto, seguidamente para a Arábia Saudita. Há dois anos estou a representar o Interclube.
 
Como caracteriza a experiência de actuar no exterior do país. Refiro-me à Tunísia, Egipto, e não só?

Graças a Deus, em todos os clubes onde passei, tirando o Belenenses de Portugal, conquistei títulos. Em 2016 fui eleito o melhor lateral esquerdo de África, no Campeonato Africano do Egipto. Aquilo foi como chegar ao pódio e olhar para os lados sendo eu o único jogador que jogava em África. Aquilo acabou por provocar a minha ambição de querer sair de Angola e ir jogar no exterior. O Etoile du Sahel, um dos melhores clubes em África, contactou-me para jogar na Tunísia. Quando lá cheguei, me adaptei rápido e consegui conquistar dois títulos.
 
Tem memória das grandes equipas que já ganhou?

O Campeonato da Tunísia é muito forte. Lá tens o Esperance de Tunis, o Clube Africano e muitas outras equipas. Todas as finais eram muito disputadas. A final da Taça joguei contra o Clube Africano. Ganhei o campeonato contra o Esperance de Tunis. Foi uma experiência positiva.
 
Depois da Tunísia, qual foi o seu destino?

Depois da Tunísia fui jogar no Sumoha do Egipto. Graças a Deus também conquistei uma Taça Árabe pelo Sumoha do Egipto.  
 
Depois de jogar no Egipto, volta àquele país para jogar no Mundial pela Selecção do seu país. Qual é o sentimento?
Vai ser como regressar a casa. Só que, vestindo a camisola que todos gostariam de vestir, que é a da Selecção de Angola. Vai ser bom, mas talvez me venha a ressentir um pouco porque não terei o público que me conhece a assistir os jogos, por causa da pandemia. Mas vai ser uma boa experiência.
 
Como caracteriza o campeonato do Egipto?

O Campeonato do Egipto acaba por ser um dos campeonatos mais fortes em África. Na Tunísia, por exemplo, tens três equipas. Já no Egipto tu tens cinco a sete equipas muito fortes que jogam a bom nível e levam sempre jogadores à selecção nacional. Se calhar é um dos motivos que faz com que o Egipto chegue sempre longe nas provas internacionais. Têm um rico campeonato. Acredito que vai ser muito bom irmos jogar no Egipto, numa cidade que conheço muito bem. Infelizmente, vamos numa condição diferente por causa da Covid-19, senão eu poderia dar muitas voltas e mostrar um pouco mais aos meus colegas a cidade de Alexandria. Estive lá durante dois anos.  
 
O que vão encontrar em Alexandria que seja semelhante à cidade do Lubango, onde efectuaram o estágio?

Não tem muita diferença. Tirando a cultura árabe, o resto não tem grande diferença, já que o clima de Alexandria é muito seco e frio. Não vejo uma grande diferença. Apesar de que a cidade é muito mais populosa, com muito trânsito.
 
Como é que encarou o estágio no Lubango?

A sensação é positiva. Foi um estágio bem aproveitado. Conseguimos treinar sem qualquer interrupção, o que é importante para nós e para o nosso trabalho, para alcançarmos o que almejamos na prova. O Governo criou as condições e não temos nada a reclamar. Estávamos bem hospedados, tivemos bom transporte, boa alimentação… As condições foram muito bem criadas e aproveitamos bem o estágio. O estágio não veio por acaso. Criou-se mais coesão no seio do grupo. Estamos mais unidos. Notou-se a evolução do grupo, de treino a treino. O grupo evoluiu bem, está engajado e acredito que vamos tirar o maior proveito do trabalho feito.
 
Quais são os objectivos traçados para este Campeonato do Mundo?

Como atletas devemos ter sempre as nossas ambições. É claro que conversamos e colocamos metas. Mas, para o Campeonato do Mundo, o primeiro objectivo é passar à fase seguinte, de grupos. Temos que trabalhar para esse primeiro objectivo. Se formos capazes, estaremos a representar condignamente o nosso país. A competição é longa e um dos primeiros objectivos é tentar passar à primeira fase.   Reconhecemos que a Selecção Nacional não é das favoritas do grupo C, onde estamos inseridos, mas também não estamos de fora. Na edição passada conseguimos ganhar a duas selecções que estão no nosso grupo. Nunca jogamos contra a Croácia, mas sabemos do seu nível competitivo. E acredito que as selecções do Japão e do Qatar não estão como há dois anos. Daí que temos de nos preparar melhor para os três jogos do grupo.

Durante o estágio no Lubango, qual foi a maior preocupação?

A maior preocupação prendeu-se com a falta de jogos treinos. O grupo vai ressentir-se dessa falta de jogos, porque estamos desde Janeiro do ano passado sem competição. Tirando os jogadores que actuam na Europa, os demais não competem desde Janeiro, no último CAN. Mesmo assim, acredito que o ritmo em que estamos a treinar é muito bom. A falta de jogos não é culpa de alguém. É do actual contexto, caracterizado pela Covid-19. Se os jogadores tivessem misturado esse ritmo de treino com os jogos seria o melhor que nos poderia acontecer. Apesar da falta de jogos, garanto que existe confiança no seio do grupo de modo a dignificar as cores do nosso país no Mundial. O mais importante é o facto de o treinador conseguir depositar confiança no grupo que escolheu.
 
Gostou do Lubango?

Gostei. Foi uma maravilha. Lubango tem gente acolhedora. Prova disso, fomos surpreendidos, numa das sessões de treino, pela visita do governador provincial da Huíla, Luís Nunes, que deixou os seus afazeres e foi ao nosso encontro.   Recebemos palavras de encorajamento e ficamos todos satisfeitos.

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