Opinião

Cansaço da chuva

Luciano Rocha

Jornalista

Luanda cansa tudo e quase todos, incluindo a chuva que, farta de lançar alertas, resolveu, na terça-feira, desamarrar-se e lançar lágrimas de raiva sobre ela, coitada, inocente do estado de nojice e dilaceração crescente que apresenta.

19/03/2021  Última atualização 06H00
Luanda, que inclui a capital do pais - nunca é demais sublinhar, pois há por aí muita gentinha que, pelos vistos, desconhece ou não sabe o que isso representa -,  é, desde há muito, vítima do desmazelo e incompetência dos que, em vários sectores e cargos, não sabem honrar compromissos voluntariamente aceites sem estarem minimamente preparados. É o apego ao poder, para eles sinónimo de salário chorudo, alcavalas, vida folgada, pose.

A chuva do início da semana, o primeiro grande aviso que fez este ano, como era previsível, realçou a razão de todos os reparos  e indignações ao modo como a capital do país e o resto da província na qual se insere têm sido tratados ao longo das últimas décadas. E não se vislumbram sinais de se pôr cobro a tudo isto.

É que todos os anos, quando as nuvens sobrecarregadas abrem as comportas, ouve-se a mesma cantilena desafinada, repetitiva e desacreditada a anunciar-nos intenções em carteira à espera do tempo seco para serem  concretizadas! E os Cacimbos vêm , esperam, desesperam com a indolência dos que dizem precisar deles  e zarpam à procura de quem lhes aproveite os préstimos.

Pelo meio, perdem-se vidas humanas, desabam casas, enchem-se lagoas da chuva e nascem outras, aumentam-se os alçapões públicos, as lixeiras a céu aberto arrastam-se, dividem-se, desdobram-se em infecções, propagam-se projectos, repetem-se promessas.
Mais do que verbas de milhões, Luanda continua a precisar urgentemente de quem a conheça e goste dela desinteressadamente.  Não basta virar o disco se ele tiver as duas faces iguais.

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