Opinião

Carta de condução

José Luís Mendonça

A cada ano que passa, vemos surgir uma versão mais sofisticada daquele carro que conhecemos com uma forma a que chamávamos avançada para a época. É o caso do táxi (candongueiro) que passou a ser quadradinho, mais veloz e mais bonito.

25/04/2021  Última atualização 06H00
A Toyota tem estado na vanguarda da evolução automóvel. Mas não lhe ficam atrás a Mercedez, da maior potencia mundial em tecnologia mecânica, a Alemanha, de onde o Japão, desde o século XVIII vem bebendo o figurino da industrialização sofisticada. Para já não falar da sofisticada insularidade do volante à direita: o Reino Unido. Dos Estados Unidos da América, o conglomerado neo-liberal que produz a mais letal tecnologia bélica, se conhece o ronco dos grandes jipes ou dos poderosos automóveis.
Se, nos EUA, nos anos 20 e 30 do século XX, imperavam os Ford modelo T, à manivela, nos anos 50 e 60, já a América era atravessada a filmes de gangsters e de rock androll(quem se recorda das façanhas do Al Capone e do soul de OtisRedding?) pelos intensíssimos espadalhões, também chamados de Cadillac. O que mais impressionava no Cadillac era o pára-choques bem como as curvaturas dos faróis reluzentes de prata sensível.

Uma fase intermédia foi dominada pelos dinossauros: Chevrolet, Dodge, Buick. Hoje, o jipe Hummer, que o artista de cinema Arnold Schwaznager impôs no mercado mundial, já perde para o imponente Lincoln ou o Toyota Tundra, ou mesmo para o Ford Raptor, bem como outras marcas de que não me recordo agora e que invadem as avenidas e ruas de Luanda, a capital africana que melhor sabe exibir os últimos modelos, para dar mais raiva na cara do pobre.
O que deslumbra no carro britânico, para além do rosto aristocráticodo Rolls Royce, é o Rover, a modos de tubarão predador.
Da Itália, a Ferrari e a Porshecontinuam com os dentes e cascos afiados e a Fiat muda de pele quando menos se espera, tendo travestido o velhinho e minúsculo 500, numa versão que desafia o Citroen e o Renault franceses. Até a Índia vai aprimorando o seu Índia Force e já o meteu na Fórmula Um.

Eu já tive uma vez umfusca. O meu primeiro carro. Era um Volkswagen importado em terceira mão de Lisboa, um legítimo carro já não da era hitleriana, que o roubou de uma marca polaca, entretanto invadida pelos Boches, mas um germano de forte chaparia e motor traseiro que dispensava água, porque o que trabalha a partir de traz não tem radiador. Mas, para mim, o melhor caro do mundo ainda é o Mercedez. Por isso, essa marca está no topo da Fórmula Um, assegurada por um inglês castanho, Lewis Hamilton.

A VW continua na berlinda e até já descentralizou o fabrico para a África, com estaleiro no Ruanda. Só que a Alemanha não tem só Mercedez nem só VW. Tem uma outra marca automóvel que embriaga a juventude, machos e fêmeas. Quem tem um BMW (de BayerischeMotorenWerke) tem um avião de quatro rodas, com aquela grade geminada do radiador frontal que lhe dá um olhar imponente de tubarão. A terceira grande marca do país de Ângela Merkel é, sem sombra de dúvidas a Opel.

A quarta é a Audi.
A Rússia não se deixa. Tem um novo Lada. O Evolução e um novo Volga, defazerem inveja à Europa, mas nem tanto.
É claro que não falei de todos os carros do mundo, porque não sou engenheiro de máquinas, tão pouco inventariador dos automóveis que, desde a idade da Acumulação Primitiva do Capital saíram do forno movidos a vapor de água, até que se descobrisse o ouro negro.

O mais curioso é que a sociedade humana evolui na produção automóvel, nas coisas de consumo imediato, que nada duram, mas regride nas coisas do relacionamento, tanto familiar, quanto político, que constituem o tecido da comunidade nacional e internacional e da salvaguarda dos direitos humanos. Na família, cresceu a violência contra a criança e a mulher. E grande parte do mundo está a voltar aos tempos tenebrosos das ditaduras militares, dos fascismos. Não sabemos quando pode surgir um novo Hitler. A democracia já morreu em quase todo o planeta. Ainda há dias os militares deram um golpe de Estado no Myanmar. E os Estados Unidos saíram há pouco de um pesadelo chamado Trump.

Só a Europa, a par da inovação automóvel,continua a evoluir na plenitude da democracia, sem prisões políticas, nem perseguições contra a oposição. Uma coisa, porém, é certa. Este automóvel chamado Terra exige condutores modernos, com carta de condução humanista e democrata, sob pena de acidentar com todos nós aqui dentro.

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