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Casamento em tempo da Covid-19 ‘destrói’ relações de amizades

A elaboração da lista de convidados, de ambas as famílias, para o copo-d’água, tem sido um momento difícil para os noivos. Devido às restrições impostas pela Covid-19, os nubentes são obrigados a “riscar” alguns “parentes importantes”, que chegam a questionar as razões pelas quais foram preteridos

20/02/2021  Última atualização 14H30
© Fotografia por: DR
O casamento de Leonegildo Domingos António e Filomena Janeth João, agora com o apelido de António, há tempo que estava marcado. O casal, com pouco menos de 30 anos, augurava dar uma festa à dimensão do amor que os unia, rodeados de muitos familiares e amigos. "A Covid-19 estragou tudo”, desabafa a noiva à saída da primeira Conservatória do Registo Civil do Huambo.

"O nosso sentimento é de alegria e tristeza. Felizes porque acabámos de concretizar um sonho. Tristes, devido a ausência de muitos familiares e amigos por causa da Covid-19”, descreve Leonegildo Domingos António, que reconhece não ter sido fácil escolher os poucos convidados.

Os recém-casados dizem que a cerimónia teria, realmente, outro "peso” com a presença dos "tios mais velhos”, que dão mais dignidade à essas ocasiões, mas  devido à idade avançada, foram deixados de fora, como medida de prevenção contra o novo coronavírus.A elaboração da lista de convidados, de ambas as famílias, para o copo-d’água, foi um momento difícil. Devido às restrições impostas, os noivos foram obrigados a "riscar” alguns "parentes importantes”, que chegaram a questionar as razões pelas quais foram preteridos.

"A Covid-19 está a causar muitos problemas familiares. As pessoas questionavam `porquê que o fulano foi convidado e eu, que sou amigo da família, não? Por não ter dinheiro?´”, lembram os novos.Filomena António revelou que houve familiares e amigas que chegaram a ser "hostis” com ela por não os ter convidados. "É muito sofrimento mental escolher quem é que pode ou não participar no nosso casamento”, afirmou.

Devido às medidas de prevenção da pandemia, que permitem a presença de apenas 50 pessoas numa festa de casamento, o casal reduziu, significativamente, os gastos com a cerimónia, já que numa situação normal teriam de convidar mais de 250 pessoas. "Há este ‘lado bom’ da pandemia. As famílias e amigos, com o passar do tempo, vão entender”, disseram.  
Vinte e cinco processos por dia

A pandemia da Covid-19 não tem sido obstáculo para que centenas de casais realizem o matrimónio. José Mário Inácio, conservador da 1ª Conservatória do Registo Civil do Huambo, lembra que apenas 50 pessoas podem acompanhar a cerimónia."Mesmo com a pandemia, temos tido muita procura para a realização de casamentos. Mas estes, tendo em conta as medidas de biossegurança, são selecionados, gradualmente, para a materialização do processo”, explica. 

A 1ª Conservatória do Registo Civil do Huambo, apesar da actual situação económica, recebe de 20 a 25 processos de casamento, na sua maioria formalizados por jovens, com idade inferior a 35 anos.Na formalização do pedido de casamento, os noivos devem apresentar, como requisitos, os assentos de nascimento e atestados de residências, adiamento militar, para o noivo, cópia dos bilhetes de identidade dos padrinhos e o pagamento de 14 mil e 720 Kwanzas de emolumentos.

No ano passado, de acordo com o conversador, foram registados 545 casamentos, menos 129 do ano transacto. "A Covid-19 está na base dessa redução. A situação obrigou muitos noivos a mudarem a data ou mesmo a anularem os actos matrimoniais, com vista a se prevenir da pandemia”, disse.Os casais que desejarem concretizar o casamento estão sujeitos a observar rigorosas medidas de prevenção, devendo reunir todas as condições necessárias em termos de biossegurança. "A capacidade da sala não pode exceder os 50 convidados, sendo obrigatório o uso de máscara, álcool em gel e o distanciamento social”, detalha José Mário Inácio.

Registos de nascimento em alta

O momento de restrições que se observa, actualmente, em virtude da pandemia do novo coronavírus, não ‘arrefeceu’ a relação conjugal em muitos, tendo como barómetro o número de crianças nascidas. Em 2020, foram realizados 16.424 registos de nascimentos, na sua maioria a recém-nascidos.O conservador José Mário Inácio garantiu que, mesmo com todas as restrições e seguindo as medidas de biossegurança, a procura dos serviços da conservatória é grande, apontando como exemplo o facto de terem sido emitidos 32.561 assentos de nascimentos e 27 mil segundas vias de cédulas pessoal.

Custos dos actos

A aquisição de nacionalidade, por via do casamento, tem um custo de 102 mil e 720 kwanzas, ao passo que por naturalidade paga-se uma taxa de 2082 mil kwanzas. A obtenção da certidão de nascimento, em três dias, custa 3.820 kwanzas, enquanto 6.708 kwanzas para casos urgentes.Para os pais que, individualmente, registaram os filhos, é aplicado uma multa de 4.777 kwanzas. A observação de cadáveres tem o custo de 18.810 kwanzas, sendo que a transladação de corpos, para outras províncias, paga-se, para obter a imposição de selo, uma taxa de 9.490 kwanzas.

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