Sociedade

Clínica nega ter abandonado paciente na rua até à morte

Alexa Sonhi

Jornalista

A direcção da Clínica Espírito Santo, em Luanda, nega ter abandonado na rua, até à morte, a paciente de 68 anos que testou positivo à Covid-19, na semana passada, minutos depois desta ter dado entrada na referida unidade de saúde.

06/05/2021  Última atualização 10H25
Clínica Espírito Santo garante ter envidado esforços para que a malograda fosse evacuada © Fotografia por: Rafael Tati | Edições Novembro
Victória Rosário, directora da Clínica Espírito Santo, explicou, em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, que a paciente deu entrada na clínica por volta das 18 horas do dia 29, com os níveis de tensão arterial e diabético muito altos. 
Victória  Rosário acrescentou que a preocupação dos médicos foi estabilizar a paciente, logo após a triagem, que é feita para todos os doentes, numa tenda no quintal da clínica, na qual permanecem antes de ter acesso ao interior do hospital. Tal procedimento foi adoptado, tendo em conta as medidas de biossegurança contra a Covid-19. "Mas, como é regra em época de pandemia, realizou-se, também, o teste de Covid-19, que deu positivo. Por isso, a paciente já não teve acesso ao interior da clínica e todo o processo para baixar os níveis de tensão arterial e de diabete foi feito na tenda, por cima de maca colocada, propositadamente, para acomodar a paciente”, frisou. 

Segundo Victória Rosário, mesmo antes de se ter feito o teste de Covid-19, os familiares não contaram ao médico de serviço que a paciente em causa tinha enterrado um filho, vítima de Covid- 19, três dias antes de ter dado entrada no hospital.  "Como a Clínica Espírito Santo não tem condições para tratar pacientes com Covid-19,  comunicamos à família sobre o resultado do teste, entregamos a guia de transferência, para que a família pudesse levá-la ao hospital de campanha da Zona Económica ou à Clínica Girassol”. 

De acordo com Victória Rosário, os mesmos familiares que a levaram à Clínica Espírito Santo, depois de saberem do resultado positivo à Covi-19, recusaram-se a levar a paciente, alegando que o transporte já não estava disponível. Questionada se a clínica não tinha ambulância para evacuar a paciente, Victória Rosário explicou que a unidade de saúde está a funcionar apenas com uma ambulância, que serve para transportar pacientes com necessidades de fazer exames médicos numa outra unidade e gestantes em trabalho de parto, sem condições de permanecerem na clínica. 

"Neste contexto, não se podia movimentar a única ambulância para transportar pacientes com Covid-19, tendo em conta que a qualquer momento o meio poderia ser usado com outros pacientes. É contra as regras de biossegurança”. Por isso, prosseguiu a médica, foram contactadas as autoridades de saúde pública, às quais a clínica explicou a situação, tendo solicitado uma ambulância para evacuar a paciente às unidades onde se trata a Covid-19. "Mas a resposta não foi favorável. Ficamos à es-pera durante muito tempo”. 

A responsável pela Clínica Espírito Santo, depois de várias solicitações para adquirir uma ambulância, foi orientada a contactar o Hospital do Prenda, onde obteve uma resposta favorável. "Mas teríamos de aguardar até às 11horas ou ao meio-dia de sexta-feira, porque só nesse horário o hospital teria ambulância e vaga para receber a paciente com Covid-19, que até naquela altura tinha suporte clínico e estava acomodada numa maca, na tenda do quintal da Clínica Espírito Santo”. 

Victória Rosário explicou que, durante todo esse processo, a família estava a ser orientada a levar a paciente a uma unidade de tratamento de Covid-19, mas negou-se a levá-la no mesmo carro em que a transportou ao hospital, antes de saber que esta testou positivo. "Infelizmente, já na sexta-feira, quando o Hospital do Prenda ligou a avisar que tinha vaga para receber a paciente, esta acabou por falecer, por volta das 12 horas, vítima de Covid-19, numa maca dentro da tenda, no quintal da clínica e não na rua, à frente da clínica, como alguns meios de comunicação social informaram”, disse. 

Depois disso, acrescenta ter voltado a comunicar as autoridades de saúde, tendo os Serviços de Investigação Criminal (SIC) e a Inspecção da Saúde levado o corpo da senhora. A equipa de reportagem do Jornal de Angola tentou, sem sucesso, contactar os familiares da malograda, para obter mais informações sobre a sua morte. 

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