Opinião

Confiança para viver e produzir

Um dos travões da economia angolana é, certamente, a confiança. Ou melhor, a falta dela. Num fórum económico, com homens de negócios de Angola e Espanha, o ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, disse nestes termos: “a confiança nas instituições e nos negócios é um elemento fundamental para o funcionamento das economias e das sociedades”.

18/04/2021  Última atualização 17H30
Não temos como não concordar com o ministro de Estado. Onde não há confiança, certamente não há investimentos em níveis adequados. É preciso, sim, instaurar este factor fundamental, não apenas na economia, mas na sociedade.  
É necessário que ela esteja sempre presente, nas nossas acções. Nestes tempos em que os valores morais parecem cada vez mais distantes, faz todo o sentido reflectir, profundamente, sobre alguns princípios geradores de confiança, sem os quais não é possível uma convivência sã. Honestidade, solidariedade e amor à terra e ao próximo (que levam à confiança) são fundamentais para a estabilidade das relações pessoais, profissionais ou mesmo entre países. 

Confiança é fundamental. Engana-se quem pensa que pode passar sem estes princípios milenares, amplamente cultivados entre os nossos antepassados, mas que, aos poucos foram sendo substituídos pela arrogância, desonestidade, injustiça, falta de amor ao próximo. Até nisso, em vez da nossa sociedade evoluir, aproveitar todo o avanço tecnológico registado nos últimos tempos, regredimos. Ficamos menos racionais, cada vez menos humanos. Em alguns casos, mais animais. O resultado só podia ser a decadência moral dos nossos dias.

Nesta dinâmica de trabalhar para diversificar as fontes de receitas, o país precisa desenvolver a agricultura, indústria, pescas, turismo, construção e outros sectores. E a confiança, não é demais repetir, é fundamental para o arranque necessário.  
As acções do Executivo, nos últimos anos, parecem apontar, exactamente, para o resgate da confiança, sem o qual não se pode falar de investimento, de negócios. 

A recente deslocação de mais de 70 diplomatas à Zona Económica Especial Luanda-Bengo é bem exemplo deste esforço de mostrar ao mundo que podem contar com Angola. Aos representantes dos cinco continentes, as autoridades angolanas mostraram os bens produzidos, mas também as oportunidades para os homens de negócios, não importa a origem. Depois de três dias de visitas, numa zona que já criou sete mil empregos e produz muitos produtos de consumo local (uns já começam a substituir as importações) foi consensual entre os diplomatas de que, afinal, o país está a dar corpo à estratégia de valorização dos investimentos privados.    

As visitas de membros do Executivo aos projectos agro-pecuários espalhados pelo país são, também, exemplos deste esforço de reconquistar a confiança. Não há memória, pelo menos nos últimos anos, de tantas visitas ministeriais aos centros de produção. Não apenas em Luanda, onde está concentrado grande parte do parque industrial, mas também no interior, para conhecer melhor o que o país produz, onde produz e quem produz. Desta forma, criam-se medidas mais precisas e bem mais eficazes, produzidas diante da constatação no terreno. Afinal, o produtor precisa sentir e acreditar que o decisor das políticas está ao seu lado, conhece os seus problemas. 

Não se trata apenas de uma conquista do empresariado, que reclamava do abandono do principal parceiro, mas também do próprio Estado, que, em tempo oportuno, percebeu que só é possível a diversificação económica descer da teoria à prática, conhecendo melhor o parceiro, as suas dificuldades, para ir corrigindo as políticas, remover os obstáculos, e fazer o país produzir mais e aumentar os empregos. 

É, também, neste âmbito que se pode enquadrar a caminhada do grupo de jornalistas que partiu de Luanda e, ao longo de 26 dias, percorreu mais de cinco mil quilómetros para mostrar as unidades de produção agrícola, pólos de desenvolvimento, fazendas e propriedades familiares. A equipa reportou a grande produção existente no país e, também, as dificuldades dos produtores.  
A iniciativa da LAC foi de tal modo pertinente, que o próprio Titular do Poder Executivo recebeu os profissionais e elogiou-lhes a ousadia de partirem em busca de informações sobre a realidade dos agricultores angolanos e transmiti-las, para que encontrem eco nos órgãos de decisão. 

São acções do género, baseadas no conhecimento da realidade, mas também em valores como a honestidade, justiça e amor ao próximo e ao país que vão permitir combater a fome, a pobreza e, principalmente, tornar Angola num país bom para se viver.  
Como disse o psiquiatra brasileiro Augusto Cury, autor da Teoria da Inteligência Multifocal e com livros publicados em mais de 70 países, a confiança é um edifício difícil de ser construído, fácil de ser demolido e muito difícil de ser reconstruído. É preciso cuidá-la. Sempre.

Cândido Bessa

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