Desporto

Desempenho da arbitragem condicionado por negociatas

Honorato Silva

Jornalista

Práticas pouco transparentes incentivadas por dirigentes e vários agentes desportivos, com o envolvimento de homens do apito, têm manchado a transparência do Girabola, afirmou ontem o presidente do Conselho de Árbitros da Federação Angolana de Futebol, Jorge Mário Fernandes, que apelou aos jornalistas o redobrar do empenho no trabalho de investigação, para denúncia.

24/04/2021  Última atualização 12H58
1º de Agosto terminou a primeira volta do Campeonato Nacional no comando da classificação © Fotografia por: Paulo Mulaza | Edições Novembro
Ao intervir na conferência de imprensa de balanço da primeira volta, concluída ontem com a realização do desafio entre o Sagrada Esperança e o Petro de Luanda, na cidade do Dundo, Lunda-Norte, o antigo árbitro, defensor intransigente da "verdade desportiva”, assumiu a existência de práticas tendentes a adulterar o resultado das partidas, em total prejuízo do esforço dos atletas, treinadores, dirigentes e inclusive adeptos e sócios, cujas expectativas acabam goradas. 

Depois de esclarecer que no capítulo da formação os instrutores da classe estiveram no Soyo (Zaire), Luanda, Bié, Malanje e Cunene, com o compromisso de cobrirem as restantes províncias no decorrer do segundo turno da competição, Jorge Mário Fernandes fez, no seu estilo peculiar, frontal e sem rodeios, o desabafo que silenciou o anfiteatro da sede da Federação (FAF), na urbanização Nova Vida.

"Os árbitros cometem erros. E vários. Mas lamento dizer, alguns clubes continuam com velhas práticas de subsidiar terceiros, para conseguir resultados. Seria justo que os órgãos de inteligência do nosso país tivessem uma acção para pôr cobro a essa situação. Temos de assumir compromisso com a verdade desportiva, a bem da melhoria do desporto angolano, visto ser constrangedor ver Angola sem resultados internacionais, apesar da boa qualidade dos recursos humanos e materiais”, lamentou.

Jornalismo investigativo
Convidado pelos jornalistas a fundamentar a afirmação, o líder do conselho explicou que a equipa sob o seu comando parte das evidências para chegar a tal conclusão. "Quando há erros técnicos, os árbitros são castigados. Eles estão a ser repetitivos nos erros de facto. É por aí que vemos a acção de terceiros. Por isso, pedimos a colaboração da imprensa, com o Jornalismo investigativo, de modo a denunciarmos essas práticas nocivas ao desporto”.

Realçou a descida directa de seis árbitros, no final da época, e mais três que vão alternar com os do escalão inferior. Não deixou de falar do facto de vários juízes internacionais ficarem sem nomeação para jogos da CAF e da FIFA. "Na maioria dos casos por falta de qualidade e capacidade técnica, ao contrário de alguns, como foi referenciado, que conseguem dignificar o país nos eventos continentais e mundiais”.

Pela parte disciplinar da Comissão Organizadora do Girabola, coordenada por Alves Simões, falou o presidente do referido conselho, no elenco federativo passado, José Carlos Miguel, esclareceu os casos pendentes. "Houve sim uma denúncia em tempo útil, a dar conta da utilização de um jogador com identidade adulterada. No entanto, as diligências provaram que o Santa Rita não teve participação e, não satisfeito, o Petro de Luanda recorreu ao Conselho Jurisdicional, que terá respondido nos últimos dias. O mesmo aconteceu com o Interclube, sancionado com derrota administrativa, por jogar no Uíge sem licenças desportivas”.

Em representação de Artur de Almeida e Silva, presidente eleito que aguarda o fim do processo em tribunal, com vista a tomada de posse, falou Destino Dombele. Segundo o gestor financeiro, boa parte das verbas provenientes do consórcio formado pela Sonangol, Endiama e Sodiam, para apoiar a realização do Girabola na época da Covid-19, é repassada aos clubes. "Ficam com 82 por cento do valor, que se destina ao alojamento, alimentação e viagem. O resto é aplicado no pagamento dos árbitros e outras despesas”.

José Neves, do Conselho Técnico Desportivo, apresentou de forma detalhada os números da competição. Foram 15 estádios utilizados, em 11 províncias, 243 golos marcados num total de 219 jogos realizados, até à altura da conferência de imprensa, fora os adiamentos provocados pela presença dos clubes angolanos nas Afrotaças, pandemia e falta de transporte. 

Previsto para durar seis meses, dentro dos compromissos assumidos junto da FIFA, frisou o responsável pela parte técnica, o campeonato regista hoje o arranque da segunda volta, que se estende até Julho. As equipas habilitadas a jogar a próxima edição competem de Setembro a Maio de 2022, já dentro do calendário harmonizado.

A parte médica da competição ficou a cargo de Pedro Miguel, "oficial Covid”. Num universo de quase 40 mil testes realizados, foram detectados 28 casos positivos, entre atletas, dirigentes e pessoal de apoio. "Temos uma taxa baixa. Isso leva a concluir que tem sido levado em conta a preocupação de não fazermos do desporto um veículo disseminador da doença”.

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