Reportagem

Acervo arquitectónico religioso em Luanda

Carlos Bastos | Waco-Kungo

A província de Luanda possui o maior acervo arquitectónico religioso do país. De acordo com o livro "Igrejas Monumentos de Angola", na capital, existem igrejas construídas pelas primeiras colónias de habitantes, com notória visibilidade no campo da arquitectura nacional.

24/01/2018  Última atualização 07H48
DR |

Umas mais belas ou nobres, outras mais velhas ou mais simples. Todas elas revelam, porém, efeitos estéticos e dignidade, que representam a riqueza arquitectónica e artística iniciais.
Nossa Senhora da Nazaré, Nossa Senhora da Conceição (Muxima), Igreja do Carmo ou  Nossa Senhora do Cabo, só para citar algumas, constam da lista de templos católicos, classificados como Imóveis de Interesse Público. A estes junta-se a Igreja Metodista Unida Central, construída no século XX.
Segundo o livro, até 2014, o Instituto Nacional do Património Cultural, órgão do Ministério da Cultura, tinha um total de 10 Igrejas como Monumentos de Angola, só na província de Luanda. No sector Lelo, na Ilha de Luanda, está localizada a Igreja Nossa Senhora do Cabo, que viria a  substituir a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, primeira igreja erigida na capital da colónia.
Diz ainda a obra que, quan­do Paulo Dias de Novais aportou, na Ilha de Luanda, pela primeira vez, em 1575, já aí residiam alguns portugue-ses que construíram uma peque­na igreja, designada Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Com o seu desaparecimento, anos depois, foi construída a Igreja Nossa Senhora do Cabo, que passou a simbolizar, ao longo dos tempos, a primeira igreja levantada no período de ocupação ou conquista de Luan­da pelos portugueses, no século XVI.
A Igreja Nossa Senhora do Cabo está classificada pelo Instituto Nacional de Património Cultural, como Imóvel de Interesse Público, pela Portaria nº 6717, publicada no Boletim Oficial nº 21, de 25 de Maio de 1945.
Entre os séculos XVII e XVIII, foram construídas outras igrejas.
Cadornega, na sua obra "História Geral das Guerras Angolanas" (1680), reporta que existiam, na Ilha de Luanda, nada menos que três igrejas e uma capela. Em 1854, a Igreja do Cabo passaria a ser a sede da Paróquia das ilhas (de Luanda e da Cazanga), substituindo a antiga Igreja de São João Baptista da Cazanga. Com o passar dos anos, tal como as demais estruturas religiosas, militares e civis da sua época, o templo acabou em ruínas.
A sua reconstrução foi feita em 1870, ganhando um especial destaque como local para  culto da população da Ilha do Cabo, com principal incidência para os pescadores. A fachada, o adro,  bem como o cruzeiro, representam uma construção simples, tendo no seu traçado uma graciosa aparência típica da sua época.

O santuário da Nazaré
Bem no coração da Avenida Marginal, está localizada a Igreja Nossa Senhora da Na­zaré. De traços essencialmente modestos, a capela destaca-se por ser o primeiro monumento arquitectónico religioso, classificado em Angola, em 1922, conta o livro, publicado pelo Instituto Nacional do Património Cultural, órgão do Ministério da Cultura
A sua fachada chama atenção pelos dois sineiros (fabricantes ou tocadores de sinos) e pela lápide embutida com a seguinte inscrição: "Sendo governador deste reino, André Vidal de Negreiro edificou esta igreja à Nossa Senhora de Nazareth e nela ficou V per juis perteto - anno 1664".
A Igreja da Nazaré foi construída em 1664, por ordem do governador André Vidal de Negreiro (1661-1666), distinguido como herói na libertação do Brasil do domínio holandês. Negreiro terá mandado construir a igreja em agradecimento a Deus, por tê-lo salvado de um naufrágio durante a sua viagem do Brasil para Angola.
“É uma igreja construída de gratidão a Deus”, contou o padre Elias Pedro Oliveira, para quem a caracterização do santuário continua até aos dias de hoje. “É um lugar santo de oração. As suas portas nunca estão encerradas. As pessoas vêm, expõem as suas situações e esperam pela graça de Deus por intermédio da fé”, explicou.
O pároco revelou que a Igreja da Nossa Senhora da Nazaré realiza um programa diário que começa às 6h00, com oração da manhã, onde se rezam os Salmos de uma forma cantada com o povo de Deus. Às 7h00, faz-se a missa e, logo depois, o atendimento ao público, onde o padre dá suporte espiritual e psicológico, bem como orientação aos que recorrerem. "Aqui, não inventamos nada. Levamos o povo a crer em Deus, mediante a sua realidade", explicou.
A paróquia conta com o Centro Pastoral São Bento, localizado na Boavista, que dá assistência espiritual e social e, nas mesmas instalações, funciona uma escola do primeiro ciclo, para crianças desfavorecidas.
A Igreja Nossa Senhora da Nazaré é um dos mais emblemáticos monumentos de arquitectura religiosa de Angola. Foi classificada como Monumento Nacional pela portaria nº 135, publicada no Boletim Oficial do Governo nº 26, de 8 de Junho de 1922.
No interior da Igreja, existem três altares em estilo primitivo, revestidos de painéis de azulejos, construídos por exemplares do século XVIII, dos quais destacam-se, pela sua importância, os do altar-mor. São cerca de 2.700 azulejos com painéis figurativos de valor iconográfico e tecnológico. Do lado esquerdo do altar-mor, pode-se observar um gran-de painel com armas, a ca­beça, o ceptro e a coroa do Rei do Kongo. À direita, está representada uma imagem  bélica, relativa à “Batalha de Mbuila”.
No exterior da Igreja, destacam-se a varanda, com arcarias de meia volta, arcos e um belo alçado direito na parte frontal, servindo de torre si­neira na sua parte superior e um pequeno cruzeiro de estilo português.
Quanto ao seu traçado, há referências de que se trata de uma réplica de uma igreja dedicada aos pescadores, algures em Portugal.

Metodista, Igreja do século XX
A Igreja Metodista Central de Luanda, segundo a fonte, é a única da capital, construída no século XX, que figura entre as que estão catalogadas como Monumento. Classificada como Igreja Central da Missão Metodista Unida pelo Despacho nº 22, de 18 de Abril de 1995, está situada na travessa da Muxima.
Até 1913, o culto da igreja era realizado algures no Alto das Cruzes. Em Janeiro de 1914, deu-se início à construção da famosa "Igreja Hartzell", em Luanda, na então calçada de Luiz de Camões. A denominação foi adoptada em reconhecimento ao bispo Crane Hartezell.
Em 1915, o superintendente Reverendo Robert Shi­elds informava que, quando a igreja fosse concluída, a mesma seria um dos melhores edifícios da cidade e daria prestigio ao trabalho da Missão Metodista. Depois de muito degrada, acabou por ser restaurada, em 1960, tendo nesta altura tomado a actual forma.

Igreja dos Remédios
Na esquina entre a rua Rainha Ginga e o Beco da Sé, es-tá localizada a Igreja da Nossa Senhora dos Remédios. Por estar situada na rua que contornava a baía, quando foi concluída a obra, era chamada, na época, Igreja dos Remédios da Praia. A mesma foi inaugurada e abençoada pelo bispo Manuel da Natividade, em 1679.
Relatos da época dão conta que a Igreja dos Remédios terá sido construída em substituição das duas igrejas que existiam naquela zona (Igreja de Espírito Santo e de Corpo de Santo). Há mesmo informações que dão conta que a Igreja dos Remédios foi construída sobre as ruínas das duas outras.
Classificado como imóvel de Interesse público pela Portaria nº 6716, publicada no Boletim Oficial nº 21, de 25 de Maio de 1949,o edifício teve a fachada completamente modificada, nas reformas feitas. A igreja estende-se em rectângulo, constituída de uma só nave, com capela-mor e altares laterais. Está sepultado, no seu interior, com sua esposa, o “Cavaleiro da Ordem de Cristo, Francisco Barroso”, que muito terá contribuído para a sua construção. No exterior, é ladeada por duas torres sineiras elevadas que se enquadram na fachada principal.
Em 1828, a Sé Episcopal (Casa Pastoral) foi transferida para a Igreja dos Remédios, onde funcionou até 1987, altura em que transitou para a Igreja de Jesus, na Cidade Alta, onde permanece até hoje.

                                                   “Igrejas Classificadas da cidade de Luanda”
A Igreja Nossa Senhora da Conceição (Muxima) foi construída no século XVII e  classificada pela Portaria nº 2, publicada no Boletim oficial nº 1, de 12 de Janeiro de 1924. A igreja do Carmo é do século XVIII e a sua classificação data de 1945, através da Portaria nº 5217, publicada no Boletim oficial nº 28 de 18 de Julho de 1945.
Em 25 de Maio de 1949, era classificado como Monumento de Interesse Público, pela portaria nº 6515, publicada no Boletim Oficial do Governo nº 31, a Igreja de Jesus, construída de 1607 a 1636.
A Igreja da Misericórdia, situada na parte alta da cidade de Luanda, no alinhamento de vários edifícios públicos, está classificada como Imóvel de Interesse Público, pela Portaria nº 6766, publicada no Boletim Oficial nº 26, de 11 de Julho de 1949.
Por sua vez, foi também classificada pela Portaria nº 10678, publicada no Boletim oficial nº 11, de 11 de Março de 1959, a Igreja de São José, situada na comuna de Calumbo, cerca de 15 quilómetros da sede do Município de Viana.
Também catalogadas como Monumentos de Interesse Público, estão a Capela de Nossa Senhora da Espera, construída no século XVIII, situada a 20 quilómetros de Luanda, na estrada que liga a capital à cidade do Sumbe.

Especial