“Maria Joana da Piedade é uma mulher que não olha para trás quando o problema é prestar serviço de enfermagem aos moradores da Cabala, uma comuna do distrito urbano de Catete, município de Icolo e Bengo, muito distante da sua área de residência.
Enquanto por cá alguns comentários sobre as eleições do Brasil, feitos sobretudo nas redes sociais, levam a questionar sobre a existência de forças de direita organizadas, mais do que simples reacções ao descalabro a que chegou o país em relação à corrupção, os africanos, entre os quais angolanos, residentes naquele país temem um aumento da violência, do racismo e da xenofobia, caso Jair Bolsonaro, do PSL, vença a segunda volta das eleições presidenciais.
Após o ataque a Jair Bolsonaro, outro caso mediático fez manchete nos jornais no início deste mês, quando o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, foi morto em Salvador, Bahia com 12 facadas, por causa de uma discussão política.
Agora, para a segunda volta (ou segundo turno, como dizem os brasileiros), o candidato da direita mantém uma margem de 20 por cento em relação ao rival do PT, Fernando Haddad, que concorre a estas eleições sob um forte manto de Lula da Silva, preso em Curitiba.
Em S. Paulo, a maior cidade brasileira, tal como no Rio de Janeiro, a segunda, como em Salvador da Bahia, onde se encontram as maiores comunidades angolanas, o medo de uma escalada na violência, por racismo ou por xenofobia, aumenta, assim como os receios em relação a casos relativos à opção sexual.
Em Porto Alegre, Márcia Pungo, uma estudante universitária angolana que vive há quatro anos no Brasil, sonha em voltar ao país no próximo ano. “O brasileiro tem muito ódio para destilar e não tem preguiça de fazer isso”, desabafa. E acrescenta: “Se a pessoa comentou algo que não vai ao encontro do que a outra acredita, essa pessoa já é digna de ser odiada. O brasileiro não tem vergonha de destilar o seu ódio.”
O sentimento de Márcia Pungo é partilhado por outros estudantes africanos noutras regiões do Brasil. Sara Santiago, de 24 anos, estudante de comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul a viver naquele país desde 2015, sente na pele o preconceito que impera entre muitos brasileiros. Ela recorda uma situação “constrangedora” que sofreu em plena sala de aula assim que chegou ao país:
“Na primeira prova que fiz, tirei nota 8 [em 10]. Uma colega chegou ao pé de mim e retirou-me a prova da mão. Virou-se para a professora e perguntou por que é que eu, que vinha de África, tinha tirado 8 e ela 6.” Já o guineense de Bissau Germem Correia, de 28 anos, estudante de mestrado em Administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a viver há cerca de cinco anos no Brasil, critica a posição agressiva dos brasileiros quando o assunto é política: “Tu percebes que existe ódio. Cada um é livre de ter e escolher o seu partido, mas o importante é respeitar a opinião dos outros. Muitas vezes, as pessoas acabam por não entender isso.”
No próximo dia 28 de Outubro, 147 milhões de brasileiros são chamados às urnas para eleger o novo Presidente da República. Os eleitores têm de escolher entre Jair Bolsonaro do PSL e Fernando Haddad do PT.
Em 2017, 36 milhões de africanos foram obrigados a migrar, 14 por cento dos 258 milhões de deslocamentos registados no continente, mas 75 por cento de todos permaneceram dentro do continente, mudando apenas de país. Em relação a Jair Bolsonaro, o receio tem explicação, embora se multipliquem as acusações sobre o uso de “fakenews” (notícias falsas) de um lado e do outro. Falsas ou não - cremos que não -, tanto Jair Bolsonaro, como o vice da sua chapa de eleição, o general da reserva António Hamilton Mourão (PRTB), têm-se feito notabilizar por declarações chocantes. Jair Bolsonaro, por exemplo, disse no Programa Roda Viva do último dia 30 do mês passado, que os portugueses nunca pisaram na África, que foram os próprios negros que se entregaram para a escravidão.
António Hamilton Mourão afirmou, durante um evento da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul, que o Brasil herdou a “indolência” dos indígenas e a “malandragem” dos africanos. “Temos uma herança cultural, uma herança que tem muita gente que gosta do privilégio (...). Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem (...) é oriunda do africano”, afirmou.
E foi mais longe: demonstrou desprezo pelos africanos e disse que o país adoptou a “diplomacia que foi chamada de Sul-Sul”. “E aí nos ligamos com toda a mulambada, me perdoem o termo, existente do outro lado do oceano (África), do lado de cá, que não resultou em nada, só em dívidas que foram contraídas e que nós estamos tomando calote disso aí”, frisou.
Repúdio em Montevideu
Centenas de pessoas entre uruguaios e brasileiros protestaram, sábado, diante da Embaixada do Brasil, em Montevideu, contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL), que defronta Fernando Haddad (PT) na segunda volta das eleições presidenciais.
Cerca de 300 pessoas foram para os arredores da sede diplomática brasileira ao canto de “ele não”, utilizado em outros países para manifestar a rejeição à candidatura de Bolsonaro.
A representante da organização cívica internacional Pão e Rosas, Karina Rojas, disse à agência Efe que a convocação foi feita para se manifestar contra a “onda de repressão” vivida no Brasil depois da vitória do candidato na primeira volta.
“Não queremos que haja fascismo na América Latina, não queremos que haja extrema direita que acabe com as nossas liberdades democráticas, que persiga os lutadores e lutadoras, que promova a xenofobia, o racismo, a misoginia e a homofobia”, disse Karina.
A activista acrescentou que em caso de uma hipotética vitória de Bolsonaro nas próximas eleições esta organização cívica irá convocar comités de acção “para se defender dos ataques dos grupos de extrema-direita”, já que segundo sua opinião “não há melhor resistência do que a mobilização e a luta nas ruas”.
“Queremos que todos os sectores que se dizem democráticos enfrentem o 'bolsonarismo' e o golpismo no Brasil e em toda a América Latina, queremos uma postura firme contra Bolsonaro”, concluiu Karina.
Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, fez a radiografia do sector, dando ênfase aos avanços registados em 22 anos de paz. Neste período, houve aumento do número de camas hospitalares, de 13 mil para 41.807, e da rede de serviços de saúde, que tem, actualmente, 3.342 unidades sanitárias, das quais, 19 hospitais centrais e 34 de especialidade. Sobre a realização de transplantes de células, tecidos e órgãos humanos, a ministra disse que, com a inauguração de novas infra-estruturas sanitárias e a formação de equipas multidisciplinares, o país está mais próximo de começar a realizar esses procedimentos
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