Opinião

O misterioso México

O México devia estar situado no meio do oceano atlântico para estar mais perto do mundo e mais longe da América. Para que mais pessoas e em viagem barata pudessem desfrutar de uma imensidão de mistérios que nos fazem imaginar a forma socializada como a arte servia para sublimar a elevaçao da vida em constante ascese para superar a finitude.

29/11/2018  Última atualização 09H34

Estou na grande universidade da capital do México. Uma cidade universitaria em que sentimos no ar o prazer da sabedoria. O edifício é também de ascese e a biblioteca ostenta um mural grandioso que nos aponta para a ancestralidade azteca ou maya, neste país com os maiores murais do mundo, arte que não cabe nos museus nem galerias por ser maior que o mundo ao torná-lo mais belo. Estou a falar para um curso superior de lingua portuguesa. Disse duas estrofes de Os Meninos do Huambo, falei simplesmente olá, entrei de surpresa com o namoro de Viriato, ganhei apoteose e comecei a falar da nossa literatura e sua ligação à nossa história. Foram muitas as perguntas pois o desconhecimento sobre Angola era evidente, por nossa culpa que nem consul honorário temos no México um dos países de mais cultura ancestral monumental conservada nos diversos contextos. Desde a pintura à culinária passando pela grande literatura. Entendiam que a antologia editada com dez contos meus pela maior editora do estado de Veracruz, a Veracruzana, com noventa títulos anuais, desenhava o desenvolvimento sócio-político de Angola pouco antes e imediatamente a seguir à independência. Interessante, na parte de autógrafos, para além da antologia apareceram livros meus editados em Angola e Portugal. Curiosamente, fiquei a saber que aqui chegam as traduções de meus livros editados em Cuba. Depois, ao almoço, num dos restaurantes da Universidade, tradutoras e tradutores falaram muito sobre o interesse em trocarem experiencias com Angola, celebrar convénios e similares com o que concordei.
Depois quis fazer o que faço sempre, andar pelas ruas e lugares. E deleitei-me com o colorido do saber viver dos mexicanos. As ruas enfeitam-se de pequenas tendas nos passeios onde se pode matabichar, tomar um sumo de fruta, água de coco, comer uma taça de fruta, e comer tacos que são petiscos embrulhados, tortilhas de pirão de milho espalmado e assado numa chapa quente. Tudo com chili, o jindungo mexicano com o qual se faz uma imensa variedade de molhos. Para além dos vendedores fixos, correm por toda a cidade vendedores ambulantes vendendo vasos de plástico de meio litro cada um com uma fruta, uva, frutos vermelhos, amoras, morangos, as pessoas que vão de carro baixam o vidro recebem a fruta e pagam. Ainda mais de beleza são os vendedores e vendedoras de flores.
A cidade do México perderia beleza sem o colorido simpático destes vendedores. Curiosamente, tive conhecimento do retorno de vendedores ambulantes em cidades onde haviam sido proibidos... a gente sabe como estes populares concorrem com os grandes centros comerciais dos ricos...  onde também se vendem frutas e flores. Também Lisboa voltou aos vendedores ambulantes para se embelezar mais e captar mais turistas.
Este país está a viver a tensão dos migrantes ou pedintes de asilo, vindos da América Central como Honduras ou Nicarágua e que pretendem passar a fronteira para entrarem nos Estados Unidos em busca do american dream (o sonho americano). Vieram a pé, uma imensidão de quilómetros e muitos já se encostaram à fronteira, outros tentaram passar e foram atacados pelas forças militares americanas com gás e balas de borracha. O México vai fazendo o que lhe cabe na parte humanitária com o apoio de organizações não governamentais. Fala-se mas não se confirma que o novo Presidente mexicano, um homem de esquerda,  terá conversado com Trump no sentido de se organizar um sistema faseado para os migrantes irem entrando de forma a que não passem bandidagem ou traficantes.Tudo isto não deixa de merecer uma ponderação de humor porque o grande barão da droga, El Chapo, quase tão mítico como Escobar, denunciado, quiçá em delação premiada, por um dos seus colaboradores se revela como uma mina para telenovelas de que México é um dos maiores produtores mundiais. Que o barão pagava milhões de dólares à polícia de fronteiras e procuradoria mexicana para que deixassem passar cada remessa de droga. Mais, pagava à mídia norte americana para que falassem nele e com isso aumentasse a demanda de droga e El Chapo  cada vez mais pudesse expandir sua imagem icónica tão do gosto da classe média gringa. Mas a televisão, CNN em espanhol e a TVE de Espanha despejam a bronca da pancadaria que impediu a final de Taça Libertadores da América na Argentina e o outro assunto, após o sucesso da patroa britânica com o Brexit, é Gibraltar que fala espanhol, quer continuar a ser parte do Reino Unido mas não quer sair da União Europeia...
Vim ao México para a grande feira do livro em Guadalajara. Disso, da feira, escreverei na próxima crónica. Por agora recordo que em Guadalajara fiquei um tanto ou quanto aborrecido, porque, ao chegar ao hotel, o chefe da recepção disse-me que adorava conhecer Angola por causa das mulheres tão bonitas. Compadre não entendo? “Como non? La miss Universo!”

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