Sociedade

Angosat-1 desapareceu há um ano

No dia 26 de Dezembro, o que acabava de ser comemorado como o primeiro grande passo de Angola em direcção ao mundo tecnológico dava lugar à apreensão. O Angosat-1, o primeiro satélite angolano, colocado em órbita a partir do cosmódromo Baikonur, no Cazaquistão (Rússia), perdia contacto, momentos após o lançamento.

28/12/2018  Última atualização 06H19
Edições Novembro © Fotografia por: Após o anúncio de que o Angosat-1 ficou inoperante, a Rússia começou, em Abril, a construir o Angosat-2, para ser lançado em 2020

Da manhã de 27 de Dezembro até à noite do dia seguinte, os especialistas tentam restaurar a conexão com o satélite em órbita. A empresa russa RKK Energia, que liderou o consórcio que construiu o aparelho, admitia interrupção “temporária, com perda de telemetria”.
Na capital russa, o ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho da Rocha, desvalorizava os cenários criados no sentido de um eventual prejuízo. “Não há razões para alarmes. É normal que haja preocupação, visto ser a primeira vez que Angola entra para o domínio espacial”, explicava o ministro, que integrava a comissão saída de Luanda para a cerimónia de lançamento do Angosat-1, no cosmódromo Baikonur.
O governante acabava de assistir na televisão, em Moscovo, ao acto de lançamento, não o tendo presenciado, “in loco”, por dificuldades de transportação.
“É normal que as pessoas estejam preocupadas e queiram ter acesso a informações concretas. Fomos informados, pela equipa que está na estação de Baykonour, que o satélite está na sua base orbital. Precisamos, agora, nas próximas 12 ou 14 horas, que os engenheiros possam concluir com exactidão o que se está a passar, com recurso à observação microscópica. Deste modo, será possível determinar que comandos enviar para o engenho”, esclareceu.
Entretanto, foi preciso aguardar até 23 de Abril, quatro meses depois, para o anúncio de uma notícia que quase todo o mundo já sabia ou pelo menos previa, desde o primeiro dia: o Angosat-1, que tornaria Angola no sétimo país africano a ter um satélite próprio de comunicações em órbita, estava inoperante. Da lista fazem parte apenas Argélia, África do Sul, Egipto, Marrocos, Nigéria e Tunísia.

Os custos do Angosat-1
Construído e lançado com um custo total de 320 milhões de dólares, para um tempo de vida útil de 15 anos, o Angosat1 surgia como uma oportunidade para expansão dos serviços de comunicação via satélite, acesso à Internet, rádio, telefonia e transmissão televisiva, já que conseguiria cobrir um terço do globo terrestre.
O Angosat-1 foi desenvolvido com base em três acordos. Um primeiro contrato de construção e lançamento, avaliado em 252 milhões de dólares (Só o satélite em si são 120 milhões de dólares e o lançamento impõe a construção de um veículo que o leva).
O outro contrato, de 50 milhões de dólares, para a construção do segmento terrestre, inclusive o Centro de Comando de Satélite da Funda, e um terceiro de 25 milhões de dólares, que permitiu alugar a posição orbital onde o dispositivo estaria durante 18 anos.
O Angosat-1, que começou a ser construído em 2012, teria 10 por cento dos serviços canalizados ao sector social, para permitir a educação à distância, telemedicina, além de mais de 80 por cento comercializada a nacionais e estrangeiros. A expectativa era enorme, principalmente, porque, a cada mês, as operadoras nacionais gastavam, em média, 15 a 20 milhões de dólares, comprando serviços de satélite a outros países. O satélite angolano possui um centro primário de controlo e missão em Angola, na comuna da Funda, em Luanda, e outro secundário na Rússia, em Korolev.
Antes do lançamento foi anunciado que a quase total capacidade do Angosat-1 estava negociada e que havia uma incidência em cinco sectores primordiais de ven-da de banda: telecomunicações, media, defesa e segurança, petrolíferas e nos de prestação de serviço, com realce para a última área.
As reservas são pagas num valor equivalente à primeira prestação, de modo a garantir a compra, daí existirem já reservas de Moçambique, Lesotho, Congo Brazzaville, Congo Democrático, Togo e uma negociação em curso com o Reino da Bélgica.

Um novo satélite
Em Abril deste ano, a Rússia pedia desculpas pelos transtornos causados pelo insucesso do Angosat-1, que registou “falhas técnicas” desde o lançamento, antes da confirmação oficial da inoperância. O Angosat-1 tem um seguro de 121 mi-lhões de dólares, que, em caso de acidente ou desaparecimento, cobre a totalidade dos custos da sua substituição.
Ao mesmo tempo, era anunciada a construção do Angosat-2, com previsão de lançamento para 2020. A Rússia atribuiu para Angola, sem qualquer custo, 216 Megahertz na Banda C e 216 Megaheartz na Banda Ku, para suportar todos os serviços necessários. A compensação vem colmatar os problemas verificados no Angosat-1, à luz do contrato que obriga a parte russa a assumi-las na totalidade, incluindo as reservas feitas pelos interessados na compra do sinal.
O Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação anunciou que a compensação tem sido usada para prestar os serviços que estavam previstos no Angosat-1, nomeadamente, aos organismos do Estado e 20 por cento da capacidade tem sido aplicada a causas sociais, como telemedicina, teleducação, Internet pública, projecto liga liga.
As capacidades estão também a ser utilizadas para a promoção e aplicação da telemedicina em hospitais públicos, a exemplo do que foi feito nas províncias do Huambo e Moxico. São também utilizadas na disponibilização de serviços de Internet em pontos públicos. As capacidades disponibilizadas pela parte russa seriam também um elemento de pressão para pedir aos operadores para baixarem o custo dos serviços, o que acabou por não acontecer. 
O primeiro satélite angolano foi construído para garantir a comunicação e transmissão de televisão por todo o continente africano. Para as vendas do satélite, estavam reservados já 40 por cento para as operadoras, 10 por cento para os serviços de segurança e defesa nacionais e outros 10 por cento para acções sociais (como sectores da Educação e Saúde e pequenos negócios).

Principais incidentes com satélites
Em Dezembro de 1998, a NASA lançou uma sonda rumo a Marte, para estudar o clima e a atmosfera. A 23 de Setembro de 1999, a sonda chegou a Marte em órbita mais baixa do que o planificado, o que provocou o seu incêndio e destruição total, com prejuízo de 125 milhões para a NASA.
Um caso muito mediatizado foi o do Challenger, o segundo comboio espacial da NASA. Em 1986, o Challenger sofreu o primeiro acidente, no programa com comboios espaciais. No dia 28 de Janeiro desse ano, 73 segundos após o lançamento, iniciando a missão STS-51-L, a nave explodiu no ar, matando os sete tripulantes. O acidente paralisou as missões dos comboios espaciais por meses. A investigação apontou falhas numa anilha.
A Coreia do Sul fez o seu primeiro lançamento de foguete, o Naro-1, em 2009. Os motores funcionaram bem, mas a carga, ao ser lançada em órbita, não se separou do foguete, que foi arrastado para baixo. O satélite, avaliado em 400 milhões de dólares, desintegrou-se.
O Express-AM4 russo não explodiu no lançamento, nem incendiou na atmosfera, mas o satélite de telecomunicações avançadas simplesmente desapareceu sem deixar rasto. Lançado em Agosto de 2011, o satélite separou-se do veículo propulsor e desapareceu dos sistemas de radar. Seria posteriormente localizado muito distante da sua órbita original, pelo que não poderia cumprir o papel para o qual foi enviado ao espaço.
No dia 29 de Março último, a Organização Indiana de Pesquisa Espacial lançou o GSAT-6A, o maior satélite de comunicações já fabricado pelo país. Contudo, de acordo com informações do jornal Times of India, os pesquisadores perderam contacto com o equipamento na tarde do primeiro dia deste mês, apenas quatro minutos após uma manobra programada. O satélite foi lançado através do foguete GSLV-FO8, que era considerado uma importante conquista científica para o programa espacial da Índia.