Opinião

Os órgãos judiciais e a imprensa

O funcionamento dos órgãos judiciais não deve sofrer intervenção dos meios de comunicação, nem estes últimos interferirem ao ponto de influenciarem o curso dos acontecimentos, numa altura em que predominam também as chamadas “notícias falsas.” Há dias, o advogado do deputado Higino Carneiro veio a público para desmentir informações segundo as quais o seu constituinte tinha denunciado, durante o primeiro interrogatório na Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP), fraude nas eleições gerais de 2017. Foi positiva essa atitude do causídico na medida em que, como ficou provado, tratou-se de informações completamente falsas, as que davam como certas supostas declarações do político e antigo gestor público, aquando do seu primeiro dia de depoimentos na DNIAP.

21/02/2019  Última atualização 08H12

É preciso que a sociedade e toda a opinião pública fiquem esclarecidas sobre o que se passou e, com este precedente, sejam aclaradas questões simples que, quando maldosamente manipuladas, têm o condão de abalar as estruturas do Estado, das instituições e famílias. Afinal, quem é que inventou que o deputado Higino Carneiro, no seu primeiro interrogatório na DNIAP disse que o MPLA ganhou as eleições gerais de 2017 de forma fraudulenta? E em que tema essas declarações se enquadrariam à luz dos questionamentos feitos, quando se sabe que grande parte deles, se não mesmo todos, estavam directamente vinculados ao seu consulado à frente da governação de Luanda?
Como disse o advogado de Higino Carneiro, “não sabemos quem está por detrás disso. Se será alguém que tenha interesses e objectivos inconfessos, da mesma forma que já tinha sido veiculado que o deputado tinha sido detido em Espanha ou Cuba.”
De qualquer forma, urge da parte das instituições do Estado apurar responsabilidades sobre a divulgação da referida “notícia falsa” que, como se sabe, constitui uma situação grave a todos os títulos.
Em todo o caso e como prova do sucedido, é preciso que as instituições judiciais deixem a imprensa fazer o seu trabalho, dentro dos marcos legais e das limitações que requerem os processos judiciais nas variadas fases, como uma das formas de se evitar as notícias fabricadas e perigosas. É verdade que podem existir sectores interessados na veiculação deste tipo de informação e, numa altura em que as redes sociais passaram a transformar-se num veículo instantâneo, é preciso acompanhar a passada. Se a imprensa fizer o seu trabalho com isenção, objectividade, rigor, verdade, respeitando sempre o contraditório e com isso ganhar credibilidade, não tem como as “notícias falsas” se imporem como verdadeiras. Aliás, dessa forma, as redes sociais acabam “reeducadas” a tratar apenas do que é verdadeiro e o espaço de manobra dos interessados na difusão do que é falso diminui drasticamente, desaconselhando a prática.

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