Opinião

Relações Angola e Rússia, uma “dimensão histórica”

Ao realizar a visita de Estado à Federação da Rússia, o Presidente João Lourenço disse no seu discurso, em Moscovo, diante do homólogo russo, Vladimir Putin, que “o Executivo angolano confere actualmente a mais alta prioridade ao investimento privado na economia do país, pelo que veríamos com muitos bons olhos o incremento do investimento de empresas privadas russas em Angola, nos sectores do seu interesse, que podem ser variados tendo em conta o enorme potencial de que Angola dispõe".

08/04/2019  Última atualização 18H05

Quero aliás realçar, neste âmbito, iniciativas de empresários russos que decidiram investir na produção de fertilizantes, tractores e alfaias agrícolas em Angola”. Estas palavras são a base de uma nova dinâmica que é dada às relações entre os dois países e procura ampliar uma parceria caracterizada, durante décadas, por uma louvável intensidade histórica. Se o Kremlin foi sempre o palco dos mais importantes diálogos entre Angola e a antiga União Soviética, o que ficou escrito na história evolui - no mesmo ambiente de outros grandes encontros - para uma relação que busca muito mais do que o resgate histórico, um necessário aprofundamento da parceria bilateral que visa a construção imediata de novos caminhos.
Abordar todos os aspectos relativos às relações bilaterais foi uma espécie de missão defendida no encontro, cada um ao seu modo, entre os governantes de Angola e da Rússia.
A defesa nacional passa a ser vista como a porta de entrada segura para que Angola adquira, para além das habituais técnicas de operações militares, o know how russo da pesquisa científica que é, no mínimo, respeitado em todo o planeta e certamente admirado por todos.
Naquele mesmo momento de planificação de um futuro melhor, o Chefe de Estado angolano fez questão de destacar também os acordos que foram assinados em Moscovo nos anos de 2006 e 2009. Todos estratégicos, todos de extrema importância para que Angola avance nas questões vitais da modernidade, com destaque dado pelo Presidente angolano ao Memorando de Entendimento sobre a criação do Sistema de Comunicação Via Satélite, ANGOSAT. Todos sabem da importância do domínio das telecomunicações para a garantia da manutenção da paz e soberania de uma nação.
Atrair investidores russos para Angola foi também um dos assuntos tratados na visita. As parcerias já em curso foram também enfatizadas, com menções às “iniciativas de empresários russos que decidiram investir na produção de fertilizantes, tractores e alfaias agrícolas em Angola”.
Os investidores russos têm em Angola um conjunto de garantias e um plano de incentivos dividido por zonas, em quatro (de A à D) que deve ser visto como uma acção concreta da actual governação na consolidação do inadiável processo de diversificação da nossa economia.
Há sectores identificados como prioritários e que apresentam um vasto leque de oportunidades, como agricultura, geologia e minas, produção e distribuição de energia eléctrica, hotelaria, construção, reflorestamento, unidades e serviços especializados de saúde, saneamento básico e têxteis. O mais importante é que o investidor tem todo o seu investimento protegido por Lei, que estabelece os princípios e as bases gerais do investimento privado em Angola, fixa os benefícios e as facilidades que o Estado angolano concede aos investidores privados e os critérios de acesso aos mesmos, bem como estabelece os direitos, deveres e as garantias dos investidores privados.
Na prática, foi tudo pensado, como disse o Presidente da República, para que o investidor, sobretudo estrangeiro, seja bem-vindo. Desde a entrada em Angola, com a facilitação para a obtenção do visto, todos os entraves foram removidos e um novo ambiente de negócios – mais arejado, e com incentivos muito atraentes – está a ser oferecido.
No que tange a cooperação económica e empresarial efectiva entre Angola e a Rússia, o Presidente João Lourenço citou o desempenho da companhia diamantífera russa ALROSA, ao mesmo tempo que sublinhou a relevância da cooperação no domínio do petróleo e gás: “A respeito da cooperação nos sectores a que nos temos vindo a referir, há perspectivas bastante interessantes que já foram abordadas entre as partes e que, se for necessário, podem ser revistas em detalhe pelos respectivos sectores ministeriais”, afirmou o Presidente de Angola.
A formação de quadros angolanos na Rússia e agradecimentos aos russos pelo papel relevante que desempenham desde a sua antecessora, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), nessa vertente, foi a conclusão feita pelo Chefe de Estado, que também recebeu formação nessa época, o que conferiu ainda mais credibilidade e autenticidade às suas palavras. Investir no capital humano é factor preponderante para o êxito de todos os outros termos acordados.

* Eduardo Magalhães - Director Nacional de Comunicação Institucional. A sua opinião não engaja o MCS