Sociedade

Mãe é mãe e só há uma

O povo costuma dizer que um azar nunca vem só. Foi durante muitos anos uma forma de preparar as pessoas para os dissabores da vida, mas é também uma chamada de atenção para a necessidade de nos mantermos alerta.

05/05/2019  Última atualização 17H53
Edições Novembro © Fotografia por: Mundo homenageia hoje a figura materna

 Contudo, é importante pensarmos que, tal como as lágrimas caem em simultâneo, uma de cada olho, como se disputassem uma corrida até ao chão, também os sorrisos andam, pelo menos, aos pares. Senão, vejamos: a galinha mais nova presenteia-nos com uma ninhada de pintaínhos, mas quando sorridentes, entramos na capoeira para mudar a água de beber e levar a ração, eis que ela nos ataca. Viu-nos como uma ameaça aos pequenitos e, mãe é mãe, defende sempre as suas crias.

Tivemos de vir às pressas atender o telefone que não parava de tocar: era o director-adjunto a orientar-nos para um texto sobre o Dia da Mãe, a assinalar-se precisamente hoje, 5 de Maio, primeiro domingo deste mês do trabalhador.
A comemoração, que varia de um país para o outro, visa homenagear a figura materna e a maternidade. Em Angola, a data tem como personagem principal a Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo, celebrada pelos católicos também durante todo o mês, e visa homena-gear todas as mães, de modo a reformar e demonstrar o amor dos filhos pelas mães. Dessa forma, e tendo a data se tornado uma referência comercial, é natural que elas hoje recebam presentes, como forma de os filhos demonstrem o quanto gostam das progenitoras e procurem dessa forma agradecer todo o empenho e dedicação que tiveram ao longo da vida para os criar e educar. Mãe é figura ímpar, símbolo da criação, de tal forma que o ser humano reservou-lhe desde sempre um lugar de destaque na sociedade. Na Grécia Antiga, as comemorações primaveris realizavam-se em honra de Rhera, mulher de Cronos e Mãe dos Deuses, e, em Roma, as festas do Dia da Mãe eram dedicadas à Cybele, a Mãe dos Deuses romanos, sendo que as cerimónias em sua homenagem começaram por volta de 250 anos a. C. Na actualidade, a festa é associada ao nome de Anna Jarvis, que, em 1904, em virtude de já ter perdido a sua, dois anos antes, levou as amigas a realizarem uma cerimónia dedicada a todas as mães, vivas ou mortas.
Tendo em conta o amplo espírito comercial que cerca a data, seria de supor que num dia como hoje, em que a maioria dos casais reclama por não ter os filhos que deseja e os governantes de alguns países se mostrem preocupados com a redução das taxas de fertilidade, devido, sobretudo, aos gastos com a previdência social, era de supor que uma mulher como a do camponês russo Feódor Vassilyev tivesse mesa farta.
Entre 1725 e 1765, a referida senhora teve 69 filhos. Durante os seus 40 anos de maternidade, deu à luz 27 gémeos, sete trigémeos e quatro quadrigémeos, num total de 69 crianças, o que lhe reserva um lugar no Livro dos Recordes do Guinnes. Mas só isso.
A realidade está longe de ser essa num Mundo de grandes contrastes entre as altas taxas de crescimento económico e as de fertilidade, entre a pobreza extrema e a fome e os elevados níveis de desperdício de alimentos. Além de darmos conta de um elevado número de mulheres que morrem durante o parto ou em consequência deste.
Preocupa-nos olhar para as estatísticas relativas à população e ver que, em geral, no Mundo, em particular, em África e, sobretudo, em Angola, é grande o número de mulheres que são mães demasiado cedo, pondo em risco a sua saúde, o seu futuro e o desenvolvimento das sociedades em que estão inseridas.
Por outro lado, em muitos casos, o número de filhos desejado não é atingido por falta de segurança e do apoio económico e social ou de meios para controlar a fertilidade. Enquanto nalgumas regiões a falta de métodos contraceptivos modernos impede que centenas de milhões de mulheres escolham famílias menores, noutras, assiste-se a um envelhecimento da população. Seja como for, mãe é mãe. Quem ainda tem a sua, ame-a. Quem já não tem, festeje o facto de estar vivo.

Especial