Economia

Biocom defende medidas de protecção da indústria

A Companhia de Bioenergia de Angola (Biocom), que produz açúcar, energia eléctrica e etanol em Cacuso, Malanje, defende que o Executivo deve tomar novas medidas de protecção da indústria nacional e introduzir um regime de quotas e taxas para aquele produto importado.

24/05/2019  Última atualização 10H08
Edições Novembro © Fotografia por: Biocom declara uma poupança de 70 milhões de dólares nas reservas cambiais desde o início da produção de açúcar em 2014

“Nós pensamos que é preciso proteger quem investe e produz directamente no país”, disse o director comercial da Biocom, Fernando Koch, avançando estimativas segundo as quais, com base na produção da companhia, já foi gerada uma poupança de 70 milhões de dólares nas reservas cambiais, desde que a cana-de-açúcar foi colhida pela primeira vez, em 2014.
O proteccionismo que a empresa defende tem sido aplicado pelo Executivo por via da Pauta Aduaneira e da subida das taxas para alguns produtos importados. Estas medidas são mais evidentes no sector das bebidas (cerve-jas, refrigerantes, sumos e água mineral) onde o mercado interno passou de uma grande preponderância das importações de grandes marcas portuguesas e de outras origens para ser dominado por empresas nacionais.
As penalizações por via da Pauta Aduaneira também abriram caminho ao Investimento Directo Estrangeiro, já que algumas das empresas multinacionais acabaram por contornar as taxas penalizadoras com a aposta na produção local, sobretudo ao nível das gasosas, dos sumos e da água mineral. Neste momento, a produção nacional domina o sector das bebidas.
Um dos problemas do proteccionismo está do lado dos consumidores: medidas excessivas podem tornar os mercados férteis para os lucros e reduzir a competitividade das empresas nacionais, ao mesmo tempo que os consumidores se debatem com preços de serviços e bens acima da média regional ou internacional.
“Para quem investe localmente, como é o caso da Biocom, é difícil concorrer com os importadores e comerciantes, que acabam por apenas comprar e vender mercadoria”, acredita Fernando Koch.
Os principais clientes do açúcar da Biocom são do sector industrial, já que o açúcar é um componente importante para diversas grandes indústrias. “95 por cento das nossas vendas são realizadas em sacos de 50 quilos”, explicou Koch. O açúcar é comercializado com a marca Kapanda, que é pouco conhecida junto do consumidor comum.
Mesmo assim, segundo dados da empresa, a produção arrancou com três mil toneladas, em 2015, e a previsão para a colheita de 2019 é de 110 mil toneladas de açúcar, cerca de metade da capacidade total prevista (250 mil toneladas). O consumo anual de açúcar no país é estimado em 400 mil toneladas.

Três mil trabalhadores
A Biocom emprega cerca de três mil trabalhadores, 97 por cento dos quais são angolanos, tendo instituído um salário mínimo interno de 36 mil kwanzas, disse Fernando Koch, lembrando que o valor está acima do estabelecido na Lei Geral do Trabalho.
Na zona de Cacuso e região envolvente são conhecidas algumas críticas sobre o trabalho precário que a Biocom contrata, sobretudo durante o período de colheita (safra), que é efectuada no período seco, entre Maio e Outubro. Os contratos são redigidos a termo certo e para o período referido, ou seja, cinco meses por ano.
“Neste momento todos os ‘safristas’, como chamamos internamente, são angolanos. Como é um trabalho muito específico, noutras épocas contratámos vários expatriados. Mas já conseguimos formar pessoas suficientes para assumir a função”, explicou o director comercial da Biocom. A empresa garante ainda que o período de crise económica acabou por aumentar a contratação de trabalhadores angolanos. Devido às dificuldades de acesso a moeda estrangeira e peças sobressalentes, a Biocom aumentou a força de trabalho para compensar as di-
ficuldades de manutenção da fábrica de Cacuso. 
Todo este contexto local e nacional levou a empresa a olhar com outros olhos para a exportação. Para além de açúcar, a Biocom prevê produzir 19 milhões de litros de etanol neutro (que serve a indústria de bebidas espirituosas e de perfumes, entre outros) e 55 megawatts de energia, que serve para alimentar a fábrica e a Rede Nacional de Transporte de Energia (RNT). O consumo total de etanol em Angola é de 44 milhões de litros.
No dia 16 de Maio saiu a primeira exportação, para França, e durante o mês mais cinco milhões de litros serão entregues no porto de Roterdão (Holanda). “Para nós é importante exportar para um mercado tão exigente quanto o europeu”, disse Fernando Koch. A empresa angolana, que começou a operar em 2008, tem como accionistas o grupo Cochan (Kero, Xyami, Pumangol, Transfuel), de Leopoldino do Nascimento, a Odebrecht Angola, ambos com 40 por cento do capital, e a Sonangol, com 20 por cento. O valor total do investimento ronda os mil milhões de dólares, mais do triplo do valor anunciado inicialmente (250 milhões de dólares).

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