Sociedade

Jornalista e escritor já vendeu sabão “cocó” nas ruas de Luanda

Luciano António Canhanga (Soberano Kanyanga) nasceu em 1974 na aldeia de Mbangu de Kuteka, comuna de Munenga, Libolo, filho de Fernando Dambi, camponês, e de Maria Canhanga, também camponesa, num momento em que a mãe, que vivia numa fazenda com o esposo, se encontrava no óbito do seu pai, de quem Luciano Canhanga ganhou o apelido.

26/05/2019  Última atualização 10H31
Edições Novembro © Fotografia por: Luciano Canhanga é escritor e durante anos esteve na LAC

Em 1978, o pai de Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) muda-se para a fazenda Israel e, em 1982, tinha Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) oito anos, morre em Luanda e a mãe volta, viúva, com 4 filhos para criar.
Entre 1983 e 1984, foram incontáveis os quilómetros percorridos a pé e as noites passadas nas matas pela família de Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) para fugir da UNITA, que “rondava a região, atacando carros e raptando pessoas.” Em 1984, a mãe decide ir viver para Luanda, hospedando-se com 4 filhos em casa de um primo. Foram momentos difíceis, recorda Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga). Ela procurava negócios por todo o lado para comerem e Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) fazia pequenas vendas onde lhe era possível, para conseguir estudar.
Aos 11 anos, Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) saía a pé da Induve (Kikolo) para o Rangel com um balde de sabão “cocó” (restos de sabão derretidos) à cabeça escorrendo-lhe sobre os olhos, para tentar a venda. Até 1987, Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) viveu em Luanda, no Rangel, ajudando os tios, fazendo compras nas lojas do povo, enfrentando filas intermináveis nas lojas e depósitos de pão, para levar, quando possível, alguns géneros alimentícios para casa, tarefas que executava simultaneamente com os negócios de sabão “cocó”, sal e jindungo.
Em 1987, a mãe de Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) voltou para o Libolo. Meses depois, ele, com 13 anos, foi também, mas ficou na vila de Calulo, em casa de um primo professor, para estudar a 4ª e a 5ª classes. Dois anos depois, o primo foi transferido para a comuna de Munenga e Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) teve de frequentar a 6ª classe num internato onde a comida rareava “por força dos ataques da UNITA às viaturas.”
Em Dezembro de 1999, a vila de Calulo foi atacada e Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) teve de percorrer mais de cem quilómetros a pé até chegar à aldeia recôndita de Mbango de Kuteka onde permaneceu até Março de 2000. Normalizada a vida em Calulo, volta à escola.
O facto de ter fugido com os livros e estudar permitiu-lhe fazer as provas perdidas e concluir a 6ª classe. Para mais uma vez tentar a aventura de estudar em Luanda, foi à Delegação da Educação pedir uma guia de marcha isenta de pagamento de viagem e viajou por cima de sacos de fuba, num IFA 50, fazendo três dias de Calulo a Luanda, apresentando a guia de transferência na Escola Ngola Mbandi.
Hóspede em casa de um tio segurança numa empresa, Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) aprendeu alfaiataria e electricidade para conseguir comprar livros e vestuário, organizando em casa um centro de explicações que chegou a ter 150 alunos e empregando amigos que também viviam necessidades.
Terminado em 1996 o curso médio de Jornalismo, no IMEL, Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) candidatou-se a professor primário e iniciou um estágio na estação de rádio LAC, onde trabalhou até 2006.
Inexistindo licenciatura em Jornalismo ou Comunicação Social, Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) concorreu a uma vaga no curso de Pedagogia de História no ISCED de Luanda, ganhando em 2003 uma bolsa de estudo para Comunicação Social no ISPRA (actual UPRA).
Assim, em 2003 Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) frequentava o quarto ano de História no Isced e o primeiro de Comunicação Social, a que se juntava o emprego na LAC.
Três anos depois, concorre a um emprego na assessoria de imprensa de Catoca, na Lunda-Sul, na qual criou a área até ser requisitado pelo ex-Ministério da Geologia e Minas, para director de Recursos Humanos, de 2015 a 2018, e actualmente é director do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério dos Recursos Minerais e Petróleos. Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) possui o 4º ano da Licenciatura em Pedagogia de História, é licenciado em Comunicação Social, pós-graduado em Gestão Empresarial com foco em Pessoas e mestrando em Ciência Empresarial pela Universidade Fernando Pessoa.
Em 2010, Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) publicou o seu primeiro livro de ficção literária e tem já oito títulos editados. Este ano, Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga) pretende construir uma sala de leitura ou Biblioteca Rural, com o nome da sua mãe, na aldeia de Pedra Escrita.

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