Sociedade

Refugiado em Luanda devido à guerra hoje é quadro das Telecomunicações

Artur Graça Cussendala, nascido em 1966, na aldeia de Gingi, comuna do Quissongo, município do Libolo, “Palanca”, em memória do irmão mais velho do pai.

02/06/2019  Última atualização 06H47
Edições Novembro © Fotografia por: Artur Graça Cussendala nasceu no município do Libolo

É o segundo filho de um total de quatro irmãos de Van-Dúnem Mulalo um ex-militar do exercito português e que terminou o período colonial como funcionário no posto de administração do Quissongo, e de Tabina José Graça, doméstica e que seria peixeira no extinto mercado do Kinaxixi.

Artur Graça Cussendala fez a pré-primária em 1973 e em 1974 a 1ª classe na aldeia de Cambau, na comuna do Quissongo. Com o advento da revolução de Abril em Portugal e a confusão instalada em Angola, foi forçado a interromper os estudos.
Nesta época, finais de 1974 e 1975, “toda a acção estava virada as actividades dos pioneiros e a revolução e vontade de independência sem mesmo muitos de nós perceberem de concreto o que era a Independência”.
Mas um facto marcou muito cedo a vida de Artur Graça Cussendala, a separação dos pais em 1973 ou 74 e ele teve de ir viver com a avó no Bango precisamente na aldeia do Musseque com os irmãos, e 1976 com a morte da avó já que a mãe de Artur Graça Cussendala nesta altura já tinha migrado para Luanda com o seu padrasto.
Artur Graça Cussendala e dois irmãos tiveram de se acoitar na casa da avó Lemba, mãe da mãe. Nesta altura Artur Graça Cussendala era um menino de 8 anos e como a avó era uma anciã, Artur Graça Cussendala e o irmão mais velho tiveram de ajudar nas despesas domésticas e foram para a colheita de café na fazenda do Amorim nas margens do rio Futi como recolectores de bagos de café caídos no chão.
Em 1977, foram enviados professores a todas as aldeias para o recomeço das aulas escolares e como só havia iniciação, Artur Graça Cussendala teve de estudar novamente a pré-primária na aldeia do Bango e Cambau.
Dois anos depois, após uma breve estada em Luanda e como a avó já havia falecido, Artur Graça Cussendala fica no Gingi e teve de fazer a 2ª classe na aldeia de Cassola, onde fazia mais de 15 km de caminhada a pé todos os dias.
Em 1980 todos os irmãos vêm para Luanda e fomos matriculados na escola (ex-colégio Nova Luz) no município do Cazenga, comuna de Hoji ya Henda. Pela distância, já que viviam na rua de Ambaca no Rangel e com a falta de transportes iam até à estação dos comboios do Musseque e pegavam o comboio do Kikolo e mais tarde o “famosíssimo” machimbombo da linha 33 que fazia Baleizão até a Condel.
Durante estes anos, a vida era muito difícil para todos e Artur Graça Cussendala e os irmãos ajudavam a mãe a trazer dinheiro para casa, pois, apesar de exercer a profissão de peixeira no extinto mercado do Kinaxixi, segundo as regras da época o peixe era obrigatoriamente vendido a quilo e o abastecimento era muito irregular.
Artur Graça Cussendala, o irmão e alguns primos fugidos da guerra e que se acoitaram lá em casa tinham de pegar clandestinamente algumas caixas de peixe no Kinaxixi e ir vendê-los nas praças de S. Paulo e das Corridas, próximo da estação dos comboios dos Musseques no Rangel, com os fardos de peixe à cabeça.
O peixe que sobrava era escalado e secado e o adolescente Artur Graça Cussendala levava-o de comboio de Luanda até Cambunze-Malanje, onde, com ajuda de parentes lá refugiados, fugidos da guerra no Libolo, fazia permuta do peixe com bombó, batata e ginguba que trazia para Luanda, e com o dinheiro ajudava a família, pois desde os anos 1982, a casa no Rangel, de dois pequenos quartos e sala, albergava mais de 20 pessoas.
Devido ao serviço militar obrigatório, Artur Graça Cussendala só consegue concluir a 8ª classe no pós-laboral em 1990 na escola Che Guevara no Macambira, Vila Alice. Em 1991 Artur Graça Cussendala entra para o ITEL onde faz o curso médio de Telecomunicações.
Nas FAPLA Artur Graça Cussendala especializou-se em telecomunicações e criptografia e foi colocado no PCC (Posto de Comando Central) e de 1987 a 1990 participou em quase todas as operações militares.
Em 1991, depois da desmobilização, entra para a Policia Nacional e é colocado no Posto de Comando no Ministério do Interior, na área de Telecomunicações e alternava os estudos com as novas tarefas.
Na época viúvo, com dois filhos menores e com os baixos salários que se praticavam, Artur Graça Cussendala opta por abandonar o Ministério do Interior e, por concurso público, entra na Angola Telecom em 1998 onde trabalha no primeiro NAP-Network Access Point (Ponto de Acesso Internet), o primeiro do país, e instala a Internet em todo o país.
Hoje Artur Graça Cussendala trabalha como gestor de clientes nacionais na Direcção de Vendas a Grosso.