Sociedade

Huilano com vasta obra literária para crianças

Octaviano Correia nasceu em 1940, há 80 anos, no Lubango, filho de José Joaquim Correia e de Maria Aurora Portela Guedes Correia.

14/07/2019  Última atualização 05H42
DR © Fotografia por: Octaviano Correia tem impressões digitais em muitas canções

O pai veio das terras do norte de Portugal nos finais dos anos 1930. Padre católico, 37 anos, desembarca em Moçâmedes. Dois anos depois pede dispensa de votos para casar com uma jovem moçamedense, mais nova 17 anos, que cantava no coro da Igreja de Santo Adrião.O avô materno, pescador com quase dois metros de altura e uma força de respeito, nasceu em Moçâmedes, tal como a maior parte da sua família do lado materno. 

Um padre vindo de Portugal deixou de o ser para casar com uma jovem de 19 anos, filha de uma das mais conhecidas famílias de Moçâmedes. A solução foi saírem de Moçâmedes e rumarem ao Lubango onde o pai de Octaviano Correia já tinha alugado um hotel, o único hotel que, nesses recuados anos, havia no Lubango, o Hotel Moderno, que ficou conhecido como “o hotel do padre”.
Aí nasceu e viveu Octaviano Correia até aos 18 anos, entre estudos no Liceu Diogo Cão, onde “ressuscitou” e dirigiu “O Padrão”, revista que a Polícia política colonial proibiu.
Em 1961 foi incorporado na tropa colonial e ficou quase quatro anos com a farda colada ao corpo entre o Norte, Lunda e Luanda.
No ano seguinte, Octaviano Correia regressa ao Lubango e liga-se à Rádio Clube da Huíla e à primeira incursão nas estórias infantis mas também a um programa dedicado aos problemas do subúrbio, o “Aqui Lubango”, que a Polícia política portuguesa manda suspender.
Octaviano Correia viveu muitos anos no hotel dos pais, onde viviam à volta de 40 pessoas das mais variadas origens e profissões. Esse convívio intenso ajudou a moldar a sua personalidade tolerante.
Outro factor que marcou a sua vida foi a profissão de professor auxiliar de Geologia na Faculdade de Ciências no Lubango durante 13 anos. As viagens eram constantes, na Huila estudou a formação da Serra da Chela, o Deserto do Namibe para o estudo de microfósseis, e no Huambo, no Chipindo e no Chamutete estudou a génese do ouro que abunda por aqueles lados.
E depois um dia, em 1974, acordou e o mundo tinha mudado de repente. Acontecera o 25 de Abril. E o mundo nunca mais parou de mudar. E numa noite foi 11 de Novembro de 1975, diz, o mundo deu nova reviravolta: “Ganhei uma Pátria na terra que já era a minha”. Octaviano Correia iniciou-se nas lides literárias nas páginas de jornais angolanos e como realizador do programa para crianças “Parque Infantil” da Rádio Clube da Huíla (1967-1973).
É membro-fundador da União dos Escritores Angolanos (1975), da Associação dos Escritores da Madeira (1989) e da Academia Angolana de Letras (2016) e foi presidente da Associação dos Escritores da Madeira (2008-2011).
Em 1980-81 foi director do Instituto Nacional do Livro e do Disco de Angola (INALD) e na Rádio Nacional de Angola realizou, durante três anos, o programa diário para crianças “Rádio Piô”, o programa “Onda da Manhã” e a rubrica literária semanal “Boa noite-boa leitura”, e de 1988 a 2016 residiu na Ilha da Madeira, tendo sido coordenador do suplemento juvenil “Bem me Quer” no “Jornal da Madeira”.
Octaviano Correia escreveu, pode considerar-se, uma extensa obra literária, da qual sobressaem os títulos “Fizeste fogo à viuvinha” (Contos), “Era uma vez que não conto outra vez”, “O esquilo da cauda fofinha e o dendém apetitoso”, “O país das mil cores”, “O reino das rosas libertas”, “O patinho que não sabia nadar”, “Amizade de leão não se faz com traição”, “Gali o pássaro de fogo”, “O rei que não tinha reino”, conto incluído na colectânea “Luchila a gotinha de água”, “O monstro das sete cabeças e as meninas roubadas e outras histórias angolanas,” 4 volumes “Alguma bicharada” de A a Z, “O desvivente”, “A avó que nasceu duas vezes” e “O bicho dos relvados”.
Octaviano Correia está representado na antologia “Poesia Angolana de Revolta” com “África” (1974), na Antologia “Os Anos da Guerra”, de João de Melo (1979), com o conto “Dilaji dya Kinema” (O Maluco da Perna Coxa), em “Narrativas Contemporâneas da Madeira”/”Récits Contemporains de Madère” (Edição Bilingue-Português/Francês) (1977) e em “Leituras Soltas”-Antologia de 11 autores madeirenses, com o conto “Recordações de uma bolsa de senhora”.
O escritor participou, como delegado de Angola, na VI Conferência dos escritores afro-asiáticos em Luanda (1978). Octaviano Correia regressou a Angola em 2016 e trabalha na Isenta-Comunicação&Imagem, em Talatona, como “analista de Conteúdos”.
“Os armários onde se guardam os livros não devem ter portas. Os livros não gostam de estar presos”, desabafou Octaviano Correia.