Economia

Fundos para economia com défice de um terço

Os fundos públicos destinados ao financiamento do sector produtivo em Angola deixam em aberto uma lacuna de cerca de um terço, que, entretanto, pode ser preenchida pelo sector privado, no quadro das chamadas Parcerias Público-Privadas (PPP), afirmou a representante da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento na 35ª edição da Feira Internacional de Luanda (FILDA), que terminou no sábado, em Luanda.

15/07/2019  Última atualização 09H56
DR © Fotografia por: Investimentos nas infra-estruturas de transporte e logística apontados como prioritários

Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, Frida Youssef encorajou as autoridades angolanas a prosseguirem na estratégia de criação das PPP, com maior foco, nesta fase, nas infra-estruturas de transportes e logística.
A alta funcionária da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento, que responde pela Divisão dos Transportes e Logística, insistiu na necessidade de as autoridades angolanas alargarem o espaço de intervenção do sector privado nos esforços de diversificação da economia.
A inserção das PPP nos temas abordados na Conferência Internacional sobre “Financiamento do Desenvolvimento Económico ”, à margem da FILDA, de acordo com a alta funcionária da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento, é reveladora da atenção que o Governo presta ao sector privado.
A presença de oradores de países como o Uganda, Brasil, Portugal e Índia, que, durante a conferência, falaram das experiências das PPP nos respectivos Estados, prosseguiu, podem ajudar Angola a evitar erros registados nesta matéria em outras geografias.
Outro aspecto fundamental, prosseguiu, foi a presença de instituições financeiras multilaterais, que jogam um papel muito importante no apoio as economias e que aproveitaram a Conferência Internacional sobre “Financiamento do Desenvolvimento Económico ”, para falar dos mecanismos de intervenção financeira utilizados em outros países com problemas similares aos de Angola e que surtiram efeitos.
Em relação ao Programa de Apoio à Produção Nacional, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI), outro tema abordado no evento, a representante da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento disse tratar-se de uma iniciativa muito ambiciosa, cujo sucesso depende, em grande medida, da seriedade com que for executado pelos diferentes actores.
O Fundo de Garantia de Crédito (FGC), criado pelo Governo com vista a facilitar o acesso ao crédito, na opinião de Frida Youssf, alarga a possibilidade de acesso ao financiamento para aqueles empresários que não têm garantias reais para fazer face às exigências da banca comercial.
Criado em 2012, o Fundo de Garantia de Crédito foi estruturado de forma a assegurar os reembolsos dos empréstimos bancários até 70 por cento dos financiamentos, em caso de incumprimento. Os restantes 30 por cento são cobertos pelo cliente sob a forma de garantias pessoais ou consignação de receitas. Apesar de reconhecer que a estratégia pública de financiamento à economia ajusta-se aos propósitos das autoridades de diversificação das exportações e redução das importações, a alta funcionária da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento defendeu a necessidade de criação de mecanismos específicos para o financiamento das micro, pequenas e médias empresas.
Frida Yuossef elogiou a organização da FILDA, salientando que a Feira de Luanda “é uma das maiores de África”. Lamentou, no entanto, a fraca presença de produtos nacionais. “Da próxima vez, quero encontrar mais produtos nacionais do que estrangeiros”, disse.
Interrogada sobre como é que Angola pode tirar maiores benefícios com a integração na Zona de Livre Comércio Africana (ZLEC), Frida Youssef lembrou que o país está numa área geoestratégica, que lhe permite tirar vantagens da sua extensa costa marítima, para servir os países encravados da região, incluindo a República Democrática do Congo.
“É um mercado que vai movimentar bilhões de dólares anualmente”, vaticinou a alta funcionária da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento.

Motor para o desenvolvimento

O alto representante da União Africana para as parcerias com a Europa disse à Lusa que a Zona de Livre Comércio em África pode acelerar a industrialização do continente, podendo gerar até 10 milhões de empregos por ano.
“A capacidade de deslocação da indústria, como por exemplo da indústria automóvel, que ocorreu no passado da Europa, nomeadamente para a China, vai acontecer para África”, mas para um consumo diferente, o “de manufacturas de baixo valor acrescentado e produtos agrícolas processados”, afirmou.
Defendendo que o aumento demográfico vai gerar um crescimento do consumo e da urbanização, Carlos Lopes considerou que a população jovem de consumidores africanos “é um potencial enorme” da África.
“Com a ZLEC pode-se produzir além do país onde se está implementado”, o que Carlos Lopes considerou ser também um factor “importante”.
Porque, justificou, é possível “olhar-se para um mercado agora de 1,3 mil milhões de pessoas, mas que pode chegar a muito mais do que isso, prevendo-se que, em 2040, já sejam dois mil milhões”.
Pegando no exemplo de Angola, Carlos Lopes disse que quando o país passar a refinar o seu petróleo, pode criar uma indústria petroquímica e de fertilizantes.
“Angola hoje exporta o seu petróleo para a China, para os Estados Unidos, mas se refinar o conjunto do petróleo que produz, não precisa de ir para além das fronteiras imediatas”, porque os países vizinhos consumirão tudo, defendeu.
“Isto é uma transformação brutal, porque hoje África importa 70 por cento dos produtos petrolíferos refinados. Portanto, um país como Angola tem todo o mercado ali à volta”, comentou.

Especial