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Mateo Salvini apresenta moção de censura ao Primeiro-Ministro

O partido italiano de extrema-direita Liga anunciou ontem que vai apresentar uma moção de censura ao primeiro-ministro, Giuseppe Conte, a quem apoiou até agora no âmbito da coligação com o Movimento Cinco Estrelas (M5S).

10/08/2019  Última atualização 11H40
DR © Fotografia por: Vice-primeiro-ministro e ministro do Interior anuncia candidatura para chefiar o Governo

O líder da Liga, o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Matteo Salvini, já tinha anunciado na quinta-feira a intenção de abandonar a coligação e pedir eleições antecipadas, dadas as divergências em várias questões.
“Demasiados ‘nãos’ prejudicam a Itália, que precisa voltar a crescer e voltar a votar rapidamente. Quem perder tempo prejudica o país”, refere, num comunicado divulgado pelo partido.
Salvini exigiu que os senadores e deputados suspendam as férias e regressem a Roma para que o Primeiro-Ministro constate a sua falta de apoio no Parlamento, apresente a renúncia e o Chefe de Estado, Sérgio Mattarella, convoque novas eleições.
Na quinta-feira, Conte acusou Salvini de acabar com a coligação para aproveitar os bons resultados das eleições europeias (em que obteve 34 por cento) e adiantou que vai ao Parlamento para pedir explicações.
Neste momento, o Parlamento está fechado, devendo ser marcada uma reunião dos líderes partidários nos próximos dias para marcar a reunião de votação da moção de censura, o que deverá acontecer a 20 de Agosto, de acordo com a comunicação social local.
Caso Sérgio Mattarella dissolva o Parlamento e convoque eleições, estas deverão acontecer num prazo mínimo de 45 dias e máximo de 70, pelo que a campanha deverá ocorrer em Outubro.
No entanto, Mattarella é abertamente contrário a eleições no Outono, período em que o Governo deverá estar a preparar o orçamento para o ano seguinte, discuti-lo com Bruxelas e aprová-lo no Parlamento.
Um Governo cessante, que esteja só a gerir o dia-a-dia, não teria o peso de negociar com Bruxelas e essa situação poderia prejudicar a Itália nos mercados.
O Chefe de Estado poderia também tentar formar um Governo com a actual composição do Parlamento, eleito a 4 de Março de 2018, designando um governo técnico e provisório. Esta opção foi rejeitada tanto pela Liga como pelo M5S. Segundo uma sondagem realizada em 31 de Julho pelo instituto. Ipsos para o Corriere della Sera e publicada na quinta-feira, a Liga de Salvini obteria 36 por cento dos votos numas próximas eleições gerais e alcançaria 50,6 em coligação com o partido de extrema-direita Irmãos de Itália (7,5 por cento) e o partido de Sílvio Berlusconi Forza Italia (7,1). Salvini já anunciou que se apresentará às eleições como candidato a Primeiro-Ministro.

Mercados em queda

O anúncio de Salvini aumentou o clima de instabilidade da economia italiana - terceira maior da Zona do Euro -, tendo os investidores mostrado ontem de manhã a sua preocupação.
Logo na abertura dos mercados financeiros, o ‘spread’ - diferença entre a taxa da dívida italiana e a de referência alemã a dez anos - subia 25 pontos, para 235.
Cerca das 10h30 de Milão (9h30 em Angola), a bolsa daquela cidade estava a cair cerca de 2 por cento, com todo o sector bancário em baixa.
Alguns especialistas ouvidos pela AFP admitem que a instabilidade política possa “afundar” a economia italiana, que já no segundo semestre do ano passado registou uma “recessão técnica”, e apresentava, até final de Junho, um crescimento nulo no produto interno bruto (PIB).
A economia italiana está a ser afectada pela desaceleração que toda a Europa está a viver, pelas tensões comerciais entre Pequim e Washington e também pela cautela das empresas, que estão a investir menos.
Bruxelas tem pressionado Roma para reduzir o défice público criando uma tensão com o Governo italiano, que, entretanto, aceitou reduzi-lo para 2,04 por cento em 2019, em vez dos 2,4 projectados.
Salvini criticou Bruxelas e chegou mesmo a classificar o ministro da Economia, Giovanni Tria, como demasiado conciliador face à Comissão Europeia.
O ministro do Interior avisou ainda que, no próximo Orçamento de Estado, o défice não poderá ficar abaixo de 2 por cento, afirmando que “os dogmas de Bruxelas não são sagrados.”
“Haverá certamente um confronto com a Europa que só pode ser feito por um Governo e um Parlamento legitimado pelos italianos”, disse, pedindo ao país que lhe dê uma “clara maioria.”

Papa condena nacionalismos sem apontar nomes

O Papa Francisco criticou o nacionalismo, considerando tratar-se de uma atitude de isolacionismo que leva a guerras, numa entrevista publicada um dia depois de o líder da extrema-direita ter desencadeado uma crise política no país.
“O nacionalismo é uma atitude de isolamento. Isso preocupa-me porque ouve-se discursos que lembram os de Hitler em 1934: ‘Nós primeiro... nós... nós’”, afirmou Francisco numa entrevista publicada ontem pelo jornal La Stampa, sem nomear qualquer país ou político em particular.
Mas, as críticas do chefe da Igreja Católica podem estar dirigidas ao vice-Primeiro-Ministro da Itália, que acaba de anunciar o abandono da coligação, no poder em Itália.
Matteo Salvini, que se diz amigo do dirigente húngaro Viktor Orban e da líder da extrema-direita francesa, Marine le Pen, reivindica pertencer a uma “frente nacionalista” que tem como objectivo “perseguir os oligarcas europeus”, segundo a Lusa.
“Um país deve ser soberano, mas não fechado; a soberania deve ser defendida, mas as relações com outros países, com a Comunidade Europeia, também devem ser defendidas. O nacionalismo é um exagero que acaba sempre mal: leva a guerras”, acrescentou o Papa.
Questionado sobre “o populismo”, Francisco considerou que se trata “do mesmo discurso.”
“Os populismos levam-nos aos nacionalismos: o sufixo ‘ismo’ nunca é bom”, referiu.
Para Francisco, a Europa, que representa “a unidade, não deve ser dissolvida.”
A Europa “enfraqueceu ao longo dos anos, também por causa de alguns governos e por discordâncias internas, mas é preciso salvá-la. Depois das eleições, espero que haja um processo de recuperação”, considerou o Papa, saudando a nomeação de uma mulher para chefiar a Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.
O Papa evoca com frequência o perigo do surgimento de partidos populistas anti-imigração, sem nunca nomear países ou líderes envolvidos.

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