Sociedade

Ideias e soluções servem de incentivo para criação de pequenos negócios

“É possível ser empreendedor bem sucedido, se apostar numa actividade que gosta e tem vocação.” Com estas palavras, Isaltina Diogo definiu o caminho que pode servir de incentivo para muitos jovens que pretendem apostar no empreendedorismo.

01/10/2019  Última atualização 09H14
© Fotografia por: Isaltina Diogo (primeira à direita) sempre sonhou empreender naquilo que sabe e gosta de fazer sem olhar a dificuldades

A reportagem do Jornal de Angola esteve durante os quatro dias a acompanhar as movimentações de Isaltina Diogo, na Feira Cidade do Empreendedor. Com 28 anos e uma filha, ela demonstrou ser um exemplo de superação.

Além do curso superior de Administração de Empresas, feito na Namíbia, depois do seu regresso e sem emprego, optou por fazer um curso de Decoração, no Centro de Formação Profissional da Samba, em Luanda.
Depois de concluir o curso, abriu o próprio negócio, com o fabrico de pastas, chinelas, bouquet, laços de cabelo, abanos e outros materiais decorativos, com designe próprio.
Para a concretização de um sonho ou objectivo é necessário sacrifício, revelou a jovem, que encontrou muitas dificuldades pelo caminho, “porque o mercado é concorrido, porque muita gente faz as mesmas coisas”, sublinhando ser necessário inovar e fazer diferente para superar as barreiras.
Para Isaltina Diogo, deve apostar-se sempre pelo caminho mais fácil, sobretudo naquilo que garante ou dá sustentabilidade ao negócio, sem muitos custos na aquisição de matéria-prima.
“Os meus produtos não custam mais de dez mil kwanzas. Sempre gostei de fazer decoração, bem como de trabalhar com arte e reciclagem. Sou formada em Administração de Empresas, por isso, tenho inclinação para o empreendedorismo”, realçou.
O empreendedorismo é uma aposta de confiança para o futuro. Por ser jovem com vontade de transformar e mudar, é possível criar riquezas. “A intenção é fazer com que o meu projecto atraia outros jovens, que não têm a mesma motivação e dinâmica em criar postos de trabalho.”
Apesar de muitos pensarem que para ser empreendedor é preciso ter muito dinheiro, o mais importante é ter força de vontade, seguir os seus sonhos e trabalhar naquilo que gosta, segredou a jovem.

A feira
Realizada na Baía de Luanda, de 25 a 28 de Setembro, a Feira Cidade do Empreendedor registou a visita de mais de 800 pessoas, num espaço que reuniu 150 expositores. Muitos aproveitaram a ocasião para a troca de experiências e de contactos para obter emprego.
Sob o lema: “Por uma Luanda mais empreendedora, rumo ao desenvolvimento sustentável”, a feira serviu para desenvolver, apoiar, promover, potenciar ideias, negócios, qualidades e características dos jovens angolanos em todos os sectores da actividade económica. O governador de Luanda, Sérgio Rescova, durante o acto de abertura da feira, pediu que se invista, cada vez mais, em ideias inovadoras e para se dar seguimento a acções de empreendedorismo.
Defendeu a necessidade da criação de uma plataforma comunicativa que permita maior interacção, para que o espírito empreendedor prevaleça. O presidente do Conselho de Administração do Grupo Arena Eventos, Bruno Albernaz, disse que a feira deu oportunidades a projectos e empreendedores que estavam no anonimato.
“Eles mostraram as suas capacidades, fizeram trocas de experiência com outras empresas. Vamos começar a trabalhar para preparar a próxima edição, com objectivo de albergar maior número de empresas”, disse na ocasião o PCA da Arena Eventos.
Bruno Albernaz referiu que a Eventos Arena e o Governo Provincial de Luanda propiciaram um espaço que reuniu potenciais empreendedores, para a melhoria do actual quadro socioeconómico do país, com o objectivo de informar, apoiar, promover, potenciar ideias e negócios em todos os sectores da actividade económica, potencializando a promoção de casos de sucesso, criar espaços de reflexões e de discussões que permitiram traçar linhas e apontar caminhos seguros para um desenvolvimento sustentável.
A Cidade do Empreendedor vai, todos os anos, consolidar a educação e negócios, impulsionando as pequenas, médias e grandes empresas.
Com uma área de sete mil metros quadrados, a feira registou a exposição de vários produtos, além de seminários, aulas motivacionais, palestras temáticas, momentos culturais, estúdio de reportagens e muitas outras atracções. Contou com a participação dos nove municípios de Luanda, além de várias empresas de comércio, agricultura, lazer, construção, telecomunicações, bancos, prestação de serviços, bebidas e restauração, desporto, stands de automóveis, Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (Inefop) e outros institutos públicos de ensino.

 

Vice-Presidente da República prestigiou o evento

Um dos momentos marcantes da feira foi a presença do Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, que prestigiou o evento e enalteceu a iniciativa do Governo Provincial de Luanda.
Bornito de Sousa acompanhou uma palestra sobre o “Plano de desenvolvimento da educação na província de Luanda”, andou pelos stands, interagiu com vários jovens e empresas, demonstrando afecto e endereçou mensagens de encorajamento pelas inovações apresentadas durante a exposição.
O grande prémio Cidade Empreendedor foi atribuído à Comissão Administrativa de Luanda. A área de gastronomia teve como vencedor João Domingos Pedro, enquanto a menção honrosa foi atribuída à empresa Fielne, criada e detida apenas por mulheres. Na categoria de empreendedorismo social, o prémio foi atribuído ao Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (Inefop), a melhor participação e inovação atribuída para a Centro de Empresas e Projectos Prestígio (CEP). O prémio de participação económica e financeira coube à empresa Multicrédito.

Expositores
Com 150 expositores, foi possível manter contacto com vários produtos nacionais e estrangeiros. O município de Cacuaco apresentou minerais que são extraídos na zona do Sequele.
A directora municipal das Actividades Económicas e Serviços de Cacuaco, Albertina Panzo, explicou que os recursos minerais extraídos em Cacuaco são compostos por vários tipos de areia, nomeadamente a siliciosa, que serve para fazer o reboque de paredes, o areião, utilizada para o fabrico de blocos.
Apontou ainda a areia de solos britados que serve para terraplanagem, solos vermelhos, utilizada para entulhos, burgau, argila e areia comum.
“Estes minerais são encontrados em grandes quantidades e muitas empresas fazem exploração. Os interessados devem antes se dirigir à Administração Municipal de Cacuaco para solicitar o que pretendem. Garantimos que temos quantidades suficientes para sustentar as obras em Luanda”, garantiu a directora.
Jazigo ou campas foi outro negócio exposto na feira. Mahingue Agostinho, promotor de vendas, disse que o material é feito de pedras naturais e rochas ornamentais trabalhadas, com material nacional, proveniente da Huíla e Benguela.
A empresa está localizada no Morro Bento e tem como objectivo contribuir para o desenvolvimento do país. A campa mais barata custa 150.000 kwanzas e a mais cara chega até 850.000, adicionado o preço da montagem, que custa até 300.000.
O secretário-geral da Co­operativa Agropecuária da Cacaluca da Mulema, município da Quissama, Domingos Lussate, garantiu que a produção agrícola e agropecuária na região é satisfatória, acrescentando que a única dificuldade tem a ver com as vias de acesso.
“A falta de estradas tem dificultado o desenvolvimento do empreendedorismo, mas esperamos que, com essa nova dinâmica, o Governo supere essa situação.

Literacia financeira

O técnico do Departamento de Inclusão Financeira, afecto ao Banco Nacional de Angola (BNA), Lourenço Kibonda, dissertou sobre o tema “A importância da literacia financeira”.
Durante a sua dissertação, definiu que a literacia financeira é o conhecimento de como lidar com o dinheiro. “Há pessoas que fracassam como empreendedores e empresários, porque têm problemas de gerir o dinheiro”, disse.
Lourenço Kibonda referiu que a gestão do dinheiro tem a ver fundamentalmente com o comportamento da pessoa, não bas- ta ser empresário se tem dificuldade em fazer poupanças, orçamento doméstico ou pessoal.
Explicou que a contracção de dívidas é também um problema que se associa ao fracasso. Hoje, as pessoas vivem muito do endividamento, que por si só não é um problema, porque não tem que necessariamente levar o empreendedor a perder ou a reduzir o património, mas sim para a sua melhoria.
“Antes de contrair uma dívida, é preciso ter noção que o dinheiro vai ser utilizado para atender a um consumo de necessidade ou apenas um desejo. Há pessoas que pedem crédito porque querem dar festa ou comprar mobília, até aí não há problemas, mas o crédito tem um reembolso de curto, médio e longo prazos, se não for rentabilizado, acaba por trazer problemas à gestão corrente de casa ou da empresa”, aconselhou.
Lourenço Kibonda disse que se a pessoa não tiver domínio dos conceitos básicos da literacia financeira, é recomendável que vá buscar apoio de alguém que tenha conhecimentos mais avançados para lhe orientar.
O fundador do grupo Bruno Miguel Pegado, Limitada, apresentou na feira o Programa Girangola, para apoiar o Executivo na promoção da empregabilidade e criação de pequenos negócios.
O Girangola consiste num kit de soluções de transportes, logísticas e turismo, através de uma plataforma, que auxilia a locomoção de pessoas e bens por toda Angola.
Referiu que a intenção é criar mecanismos que funcionem para a gestão de pessoas e bens, dentro e fora das localidades.
“O projecto foi criado como auxílio aos empresários de cooperativas que têm produtos em zonas de difícil acesso, para facilitar o escoamento. Com o Girangola, será possível tirar os produtos da cesta básica do campo e levar para as grandes cidades”, garantiu Bruno Pegado.

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