Reportagem

Cidade de Mwene Vunongue tem 58 anos

O município de Menongue, sede da província do Cuando Cubango, completou ontem 58 anos de existência, desde que foi elevada a categoria de cidade, a 21 de Outubro de 1961.

22/10/2019  Última atualização 09H14
Nicolau Vasco | Edições Novembro

Através do diploma legislativo ministerial número 51 da administração portuguesa, era criado o Distrito do Cu-ando Cubango, em 1961. Até 1975, a capital do Cuando Cubango chamava-se vila de Serpa Pinto, em homenagem ao explorador português. Depois da conquista da Independência Nacional, passou a designar-se Menongue, em homenagem ao rei Mwene Vunongue, o soberano do povo Nganguela que se destacou na luta contra o colonialismo e morto numa briga com um comerciante português de nome António de Almeida.

A construção da estátua do rei Mwene Vunongue no largo com o mesmo nome, logo à entrada da cidade, transformou o local numa das principais atracções turísticas de Menongue.
O 58º aniversário está a ser comemorado sob o lema “Unidos na construção de um Menongue melhor”. O administrador municipal, Júlio Vidigal, reconhece serem grandes os desafios para colocar Menongue à altura do seu estatuto de capital da província do Cuando Cubango, mas sublinha que a cidade cresceu do ponto de vista demográfico e de infra-estruturas socioeconómicas.
Em 1975, referiu, Menongue tinha cerca de 100 mil habitantes. Hoje, acrescentou, de acordo com os dados definitivos do Censo Geral da População e Habitação, realizado em 2014, possui 320.914 habitantes.
Já em termos de infra-estruturas, disse que o município ganhou mais de 100 escolas e 40 unidades de saúde, com destaque para o Hospital Geral do Cuando Cubango, com capacidade de 200 camas para internamento, e devidamente apetrechado com equipamentos modernos.
Júlio Vidigal realçou ainda a construção e reabilitação de pontes e asfaltagem das vias que ligam a cidade de Menongue às comunas do Missombo e Caiundo e aos municípios do Cuchi e Cuito Cuanavale, o que tem permitido melho-rias na circulação de pessoas e mercadorias.
O administrador municipal aponta também como grandes ganhos a construção da central de captação de água potável com capacidade para bom-bear 11 mil metros cúbicos por dia, das centrais térmicas do Kwebe, com 50 megawatts, e de Menongue, com dez megawatts, a abertura da Universidade Cuito Cuanavale e do Instituto Superior Politécnico de Menongue.
“Nestes 58 anos, tivemos igualmente a oportunidade de ganhar o aeroporto Comandante Kwenha completamente modernizado, o Palácio da Justiça, o projecto habitacional do bairro Tucuve e Social da Juventude e a retomada da circulação do Comboio do Caminho-de-Ferro de Moçâmedes (CFM), após mais de 30 anos de paralisação”, disse.
Para Júlio Vidigal, esses ganhos deixam os seus habitantes orgulhosos, embora reconheça há ainda muito a fazer nos domínios da educação, saúde, habitação, energia e água, vias de acesso e saneamento básico.
“Os desafios pela frente ainda são enormes, mas também há muitas coisas boas feitas a nível do nosso município”, disse, apelando a calma aos munícipes de Menongue e a depositar confiança na Administração Municipal, que, à medida que for recebendo os recursos financeiros e no quadro da gestão transparente e participativa, promete ouvir a população para definir as principais prioridades a serem resolvidas com urgência no município.

Munícipes auguram por dias melhores
Filho de Menongue, Benjamim Cambinda tem viajado um pouco por todo país e nota que, em relação a outras cidades como Luanda, Huambo, Cuito e Lubango, Me-nongue é ainda uma “criança” em termos de crescimento e desenvolvimento. “Mas estamos no bom caminho”, afirma.
Cambinda exortou as autoridades locais a apostarem no empreendedorismo e a trabalharem com rigor em relação as finanças públicas, para facilitar a conclusão de diversos projectos sociais paralisados há muito tempo. “Vamos aguardar pelo PIIM”, referiu.
Maurício Sequesseque é natural da província do Huambo e vive há 10 anos na cidade de Menongue. Quando aqui assentou arraiais, conta, já havia sinais evidentes de progresso, com destaque para a livre circulação de pessoas e mercadorias.
“O número de infra-es-truturas sociais, como hospitais, escolas, água potável, energia eléctrica, habitação, estradas, entre outros serviços, apesar de não ser ainda o desejado, aumentou significativamente. Acreditamos que com a execução do PIIM, algumas lacunas poderão ser ultrapassadas”, disse.
Natural da província da Huíla, o professor universitário Manuel Kamuenho Alberto defende uma forte aposta na agro-pecuária e no turismo, onde Menongue dispõe de enormes potencialidades. “As receitas destes dois sectores podem tirar o município da letargia em que se encontra”, disse, acrescentando que escassez de espaços de lazer, falta de restaurantes com serviços de qualidade e um fraco investimento na agricultura que poderia ajudar alavancar a economia local e a combater as assimetrias.

“Caldo do Poeira” marca as festividades

A realização do “Caldo do Poeira” para a recolha de bens de primeira necessidade para apoiar às vítimas da fome na província do Cuando Cubango, foi um dos pontos mais altos das celebrações do 58º aniversário da cidade de Menongue.
O espectáculo músico-cultural que decorreu no pavilhão gimnodesportivo de Menongue foi animado pelas Bandas Kwebe e Movimento, sendo que esta última acompanhou também os músicos General Jafar, Filho do Zua, Justino Handanga, Bessa Teixeira, Fedi, Moniz de Almeida e Namayonga.
O coordenador do caldo do poeira, Miguel Pacheco, disse que o evento superou todas as expectativas, tendo em vista que houve uma boa adesão dos munícipes que vibraram do princípio até ao fim do espectáculo que durou mais de três horas.
Sem avançar as quantidades dos bens recolhidos, a administradora municipal adjunta de Menongue para os serviços Técnicos e Infra-estruturas, Carmem Chamba, disse que a seca afecta mais de 350 mil pessoas.
Explicou que houve muitas doações de arroz, fuba de milho, massa e óleo alimentar, açúcar, sal, água mineral e roupas usadas que posteriormente serão entregues a Comissão Provincial de Protecção Civil que vai fazer chegar às famílias afectadas pela seca na região.
O governador do Cuando Cubango, Júlio Bessa, agradeceu o gesto da Rádio Nacional de Angola e assegurou a realização de eventos de género em Menongue e em outros municípios da província.
O dia foi marcado também com a gala de eleição da miss Menongue em que consagrou-se como vencedora Imaculada António Incha de 18 anos, que competiu com outras 12 concorrentes, e que recebeu como prémio uma motorizada de marca Jog, um subsídio mensal de 15 mil kwanzas durante um ano, cursos profissionais de inglês, informática e empreendedorismo, e uma viagem à República da Namíbia.
Outro destaque recaiu para a realização de um culto ecuménico, corrida de motorizada e um espectáculo músico-cultural em que participaram as Bandas Kwebe e Movimento, os músicos Filho do Zua, Justino Handanga, Bessa Teixeira, Fedi, Moniz de Almeida, Namayonga, Grupo de Twines, Pink 2 Toques, Puto Lilas, General Jafar, Tchingualulo, Filipe Lutonda, Rock Fobado, Amado Venteleze, Risco da Vida, Abias Kavuvi, Fábio Latino, Zé Bino, entre outros cantores.
Ontem segunda-feira, o dia em que a cidade de Menongue completou os 58 anos de existência, foi realizada uma visita e deposição de coroa de flores ao túmulo do soberano Mwene Vunongue no bairro Tucuve, exibidas máscaras tradicionais, sopa solidária as crianças desfavorecidas e em conflito com a lei no centro de acolhimento Padre João Bosco e um debate radiofónico sobre os ganhos e desafios da capital do Cuando Cubango.
Consta igualmente do programa a realização de um torneio quadrangular de futebol salão, corrida de motorizadas, uma marcha em prol da saúde, palestra sobre “A importância e benefícios da prática de exercícios físicos”, feiras do empreendedorismo e da agricultura, onde os camponeses terão a oportunidade de mostrar aquilo que produzem a nível do município, apesar da estiagem que assola toda a extensão da província do Cuando Cubango.
A organização das festas do município de Menongue prevê contar com a presença de empresários e comerciantes do Cuando Cubango, Huíla, Huambo, Bié, Cuanza-Sul, Benguela e Luanda.

Execução do PIIM

O município de Menongue tem aprovado dez projectos nos domínios da educação, saúde e saneamento básico, avaliados em 240 milhões de kwanzas, para serem concretizados no âmbito da implementação do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM).
O administrador municipal explicou que os dez projectos são a construção de quatro postos de saúde nos bairros Dumbo, Abel, Soma e Cambinda Kamanjolo, duas escolas nas comunas da Jamba Cueio e Caiundo, dois balneários públicos, sendo um junto a Estação principal de Menongue do Caminho-Ferro de Moçâmedes e outro no campo da Banca, e a arborização e jardinagem das principais artérias da cidade de Menongue, no sentido de se reduzir a poeira e o calor que se faz sentir e que têm causado algumas doenças respiratórias, visuais e outras oportunistas.
Júlio Vidigal garante terem cumprido com todos os requisitos da Lei de Contratação Pública para adjudicação das obras e aguarda a disponibilização dos recursos financeiros para a sua execução.
A implementação do PIIM, destacou, vai contribuir na melhoria dos principais serviços sociais básicos, designadamente a educação, saúde, distribuição de água potável e energia eléctrica, reabilitação das vias de acesso e saneamento básico.

Historial de Menongue

- Em 1923, foi designada sede da circunscrição de Menongue, criada por Decreto de 3 de Setembro do mesmo ano.
- Em 1927, foi extinto o Distrito do Cubango e Serpa Pinto, que deixava de ser a capital e voltava a ser uma simples vila, sem qualquer destaque administrativo, ficando a mercê da administração colonial do Bié. Devido à impossibilidade de ter uma administração eficiente num território tão imenso, as autoridades coloniais passaram a designar a região como “Terras do fim do mundo”.
- Em 1945, através da Portaria de 23 de Outubro, volta a ser distrito com a designação de Cuando Cubango, mas sob dependência do Bié. Em 1947, através da Portaria de 16 de Abril, passa também a sede de Conselho de 3ª classe.
- Em 1950 foi designada sede da Intendência aquando da distinção do Distrito do Cubango.
- Com a atribuição do estatuto de Distrito, em 1960, foi nomeado o seu primeiro governador o subintendente Carlos Luís Mota de Deus, mas de acordo com a hierarquia reinante, ainda dependia superiormente do Governo do Bié.

- Em 21 de Outubro de 1961, o Diploma Legislativo Ministerial nº 51 cria o Distrito do Cuando Cubango e fixa Serpa Pinto como sua capital.
- O Diploma Legislativo nº 3258, de 6 de Julho de 1962, concede-lhe a cidadania da categoria de cidade, sendo-lhe atribuído o brasão de armas e concedido o farol por portarias Ministeriais de 1 de Outubro e 4 de Outubro, respectivamente.
- Em 1968, a 14 de Agosto, formou-se o governo distrital separado do Bié, tendo sido indicado novo governador o Capitão-de-fragata Raul de Sousa Machado, com infra-estruturas administrativas, nomeadamente Governo do distrito, Câmara Municipal de Serpa Pinto, Administração Civil, Serviços de Saúde, Repartição de Fa-zenda, Serviços Veterinários, Junta Autónoma de Estradas de Angola, Agricultura e Florestas, Polícia, Serviços Meteorológicos, CTT, Repartição Escolar e Obras Públicas.

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