Sociedade

Apaixonados demonstram hoje maiores gestos de amor e carinho

Em anos passados, o casal Edmundo de Sá e Dorita Santos já comemorou o Dia dos Namorados de forma festiva e sem medir a gastos. Hoje, já não o fazem. O casal contou à reportagem do Jornal de Angola que “já se foram os anos em que esta data era comemorada de forma ‘esbanjadora’.

14/02/2020  Última atualização 08H12
Contreiras Pipa| Edições Novembro © Fotografia por: Para o historiador, hoje se arranca o “SIM” à força, com um beijo logo no primeiro encontro

Antes desta crise, que assola o país há mais de 5 anos, tínhamos o hábito de programar viagens ao interior ou, até mesmo, ao exterior do país”, conta a apaixonada e satisfeita Dorita. O motivo de alegria é, também, o facto de o dia 14 de Fevereiro ser, igualmente, o dia do seu aniversário.

Para hoje, revelaram os apaixonados, têm programado um jantar romântico, numa casa de eventos culturais de Luanda, seguido de uma noite de amor num dos hotéis da cidade.
O 14 de Fevereiro é, para muitos casais, um dia muito especial. Mas, para outros, nem tanto. Actualmente, a data é associada, principalmente, à troca mútua de juras de amor eterno e trocas de presentes a simbolizar a data. Símbolos modernos incluem a silhueta de um coração e a figura de um cupido.
Há quem diga que o Dia dos Namorados ou a troca de presentes entre duas pessoas que se amam, deve ser sempre. Mas hoje o amor “fala mais alto”, se “expressa” com maior afecto e carinho, pois é reconhecido internacionalmente como Dia de São Valentim.
Para comemorar a data, há quem se prepara desde o início do mês de Fevereiro, na intenção de fazer o melhor para a pessoa amada. Decepcionar a cara metade nesta data é o que menos se espera.
Sendo hoje o tão esperado dia para os “namoradeiros”, é notável o intenso movimento nas ruas, esquinas e lojas que vendem presentes para os apaixonados.
Bouquets de flores, cestas do amor, ursinhos de peluche, a tradicional caixa de bombons, cartões com recados amorosos e outros mimos são os presentes que mais preenchem as vitrines das lojas, na sua maioria decoradas com as cores vermelho, branco e rosa.
Numa ronda feita nalguns pontos de venda, constatamos a variedade de preços. No bairro Cruzeiro, centro da cidade, um pé de rosa custa 3.000 kwanzas. Quem quiser formar um bouquet recheado com rosas vermelhas terá de gastar à volta de 20 a 30 mil kwanzas, ao passo que um ursinho de peluche tem o preço fixado entre 10 e 40 mil kwanzas, dependendo do tamanho. As cestas, compostas por doces como chocolates, biscoitos, bolachas, frutas e outros mimos, também estão a custar entre os 10 e os 15 mil kwanzas.

O namoro do antigamente
Para o historiador Vicente Itembu, o namoro de antigamente era mais positivo, comparado ao dos dias de hoje. Segundo ele, as pessoas partiam para o namoro com objectivos bem definidos e os ensinamentos (regras de namoro) eram passados aos jovens pelos pais ou tios. “Antigamente, o namoro era vivido de maneira diferente, cheio de ritos que, entretanto, se perderam. Para namorar uma menina tinha de se ter o consentimento dos pais e para sair à rua era preciso, também, levar os irmãos mais novos, para evitar motivações sexuais. O namorado podia visitar a namorada em casa dos pais desta e nunca o contrário”, conta.
Vicente Itembu explicou que outrora os namorados tinham de ficar sentados na presença dos pais e, quando ele se ia embora, os pais e a namorada acompanhavam-no à porta para se despedirem.
“Uma outra situação que se tinha em conta é a família em que se podia namorar. Era preciso conhecer algumas vezes a origem, tribo ou região da pessoa amada, para evitar males futuros no casamento”, explicou.
O especialista lamenta o facto de hoje, infelizmente, as pessoas partirem para o namoro sem a mínima responsabilidade, sem objectivos definidos e, muitas vezes, não conhecendo o nome completo do parceiro ou da parceira.
“Em pouco tempo já têm relações sexuais o que, muitas vezes, está na base da geração de filhos órfãos de pais em vida”, lamentou. Acrescentou que, nos dias actuais, o “SIM” já não se espera e nem se pede. Infelizmente, como disse, se arranca à força, mediante um beijo e logo no primeiro dia do encontro.
Por outro lado, o especialista falou do chamado “amor material” que, infelizmente, é uma realidade nos dias que correm, tendo afirmado que esse tipo de amor, na sua visão, está na base da promiscuidade sexual entre os jovens e, consequentemente, na elevada taxa de prevalência de doenças sexualmente transmissíveis.
“Os objectos de enfeite (cabelos, unhas, sapatos e outros) fazem com que haja o chamado ‘namoro material’. Hoje, as pessoas esquecem-se do ser e do estar das pessoas. É preciso conhecer bem a pessoa com quem vamos namorar. Procurar namorado (a) por bens materiais pode ser o caminho para a nossa sepultura, porque esses bens podem ser temporais. Os jovens devem aprender a lutar e a conseguir ter o que é seu, e não esperar do parceiro”, aconselhou.

Namoro em tempo de crise
Anteriormente, quando chegasse o Dia dos Namorados, 14 de Fevereiro, os casais estavam mais à vontade na escolha de presentes. Nos dias de hoje, já nem tanto.
Para Vicente Itembu essa prática continua, embora em pequena escala. Aos poucos, disse, as pessoas estão se consciencializando de que devem poupar mais. O poder de compra baixou, devido à crise que assola o país. “Hoje, é preciso racionalizar os gastos e ter em atenção as prioridades. É possível observar isso nas ruas, onde se pode notar pouca exposição de prendas”.