Sociedade

Angolanos com dificuldades na obtenção de documentos

Cidadãos angolanos que vivem em Portugal, na condição de emigrantes, têm dificuldades de obter documentos pessoais, revelou, ontem, o presidente da Associação da Comunidade Angolana em Almada (ACAA).

28/08/2020  Última atualização 10H06
DR © Fotografia por: A ACAA, organização de carácter filantrópico sem fim lucrativo, em Portugal, presta anualmente apoio a 100 pessoas

Ao Jornal de Angola, Arsénio Boaventura Neto disse que a Certidão de Nascimento é, na realidade, uma necessidade que está a causar vários problemas à comunidade, pelo facto de ser um documento que permite tratar o passaporte, cartão de residente e obtenção da nacionalidade portuguesa.

"Não é bom continuarmos a solicitar a familiares, amigos e conhecidos, em Angola, para nos ajudarem a tratar documentos. Por um lado, é difícil e, por outro, fica muito caro, uma vez que as nossas famílias não se encontram financeira e economicamente em condições para nos ajudar”. 

Arsénio Neto defende que os Consulados Gerais da República de Angola, em Portugal, e noutros países deviam igualmente passar a tratar as certidões de adultos e menores.

Precisou ainda que outra preocupação da comunidade angolana é o apoio social para alguns cidadãos. "A nossa organização trabalha em prol das comunidades, daí que apresentámos junto das instituições as preocupações dos cidadãos, para que, em conjunto, encontremos a melhor forma de resolução dos problemas”.

A ACAA, em Portugal, presta anualmente apoio a 100 pessoas. A organização é de carácter filantrópico e sem fins lucrativos, fundada em Fevereiro de 2015, com o objectivo de congregar todos os angolanos residentes no Concelho de Almada e arredores. 

Com programas de lazer, actividades culturais e desportivas, a organização trabalha no apoio e criação de condições, que visam encaminhar diversos assuntos junto dos parceiros e colaboradores, nomeadamente a Embaixada e Consulado Geral da República de Angola, em Lisboa, a Câmara Municipal de Almada e Freguesias locais e outras organizações.

Sobre os apoios prestados aos emigrantes, o líder associativo disse que a organização, primeiro, inteira-se das necessidades de cada cidadão, ausculta e encaminha-os aos parceiros para a solução do problema. "Orientámos e encaminhámos os angolanos ao Consulado Geral da República de Angola em Lisboa, Porto ou no Algarve”, disse, para afirmar que, sempre que necessário, acompanham e entram em contacto com as instituições, no sentido de dar resposta satisfatória aos cidadãos em causa, sobretudo no que toca à legalização e apoio social.

"Não tratamos, damos respostas com apoio dos nossos parceiros e colaboradores”, indicou. Arsénio Neto sublinhou que a comunidade angolana é pacífica e de boa convivência. "Somos uma família e pessoas trabalhadoras, que lutam para alcançar os seus objectivos. Não nos focamos só no trabalho, mas também fazemos formações e melhoramos os níveis académicos de forma a ter melhores condições de vida”.

Quanto ao racismo, disse ser um assunto complexo e existente. "O mais importante é nós, os emigrantes, termos a capacidade de fazer sentir ou demonstrar junto das instituições e organizações, que isto é assunto do passado. Somos todos seres humanos e, com a globalização, o mundo tornou-se mais próximo”.

Nesta vertente, apresentou exemplos de Nelson Mandela e Barack Obama, para explicar que as diferenças têm sido ultrapassadas ao longo dos anos. "Temos de saber viver na interacção e na diversidade. Hoje, somos cidadãos do mundo, e o nosso país é aquele onde nos sentimos bem”, observou. O líder associativo admitiu que o desemprego na comunidade angolana é grande e, hoje, é mais crítico devido à pandemia da Covid-19.

Para Arsénio Neto, os salários são baixos e os trabalhos para senhoras são, cada vez mais, de horas mínimas, que ronda entre duas e quatro horas por dia ou repartidos em manhã e tarde, no caso da restauração.

"Os patrões não estão a renovar contratos. As famílias procuram, cada vez mais, apoios às instituições e organizações”, anotou. A ACAA conta com aproximadamente 100 sócios cadastrados, que quotizam dois euros por mês. Igualmente, os membros fazem com regularidade doações para apoiar aqueles que apresentam mais dificuldades.

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