Reportagem

Malanje: Mau estado das vias atrasa desenvolvimento do Quela

Francisco Curihingana | Malanje

Jornalista

A longa fila de mangueiras que emprestam uma saúde ambiental e a edificação de 200 fogos, mesmo à entrada, transmite a imagem de um município renovado. É uma tranquilidade sem igual. Longe dos engarrafamentos e do barulho ensurdecedor das grandes cidades.

30/09/2020  Última atualização 21H39
Edições Novembro © Fotografia por: A dificuldade de acesso por estrada constitui um empecilho para o desenvolvimento da vila histórica da província de Malanje

Contudo, para os habitantes do Quela, maioritariamente camponeses, a acalmia contrasta com o desenvolvimento há muito esperado e o acesso por estrada aquela vila histórica da província de Malanje é visto como um dos indicadores das dificuldades. Para se chegar ao município, a partir de cidade de Malanje, muitas vezes os automobilistas percorrem mais de 25 quilómetros da Estrada Nacional 160.

Embora asfaltada, os ho-mens do volante queixam-se dos constrangimentos no troço, sobretudo os buracos que tornam a viagem demorada, além do risco de acidentes. A situação não difere muito nas demais vias de acesso. “Gasta-se muito tempo do desvio da aldeia de Bundo, no município de Marimba, até à sede municipal do Quela, devido ao péssimo estado da via”, reclamou João Francisco, um camionista conhecedor do percurso.

O administrador municipal, Manuel Campo, afirmou que já foram encetados contactos com as autoridades do Governo da Província para que se faça um trabalho de terraplanagem em vários troços, enquanto se aguarda pelo enquadramento do órgão ministerial para retoma das obras de reabilitação. No período da manhã, o movimento de pessoas no Quela é considerável, contrariamente ao período da tarde onde prevalece o confinamento, em função das medidas de restrição para conter a pandemia da Covid-19.

Porém, nada retira a preocupação em ver o município desenvolvido. Bernardo Bande, reside há anos no município. Sentado ao lado de uma cantina, quando abordado prontificou-se em dar voz a inquietação, que resto, é quase generalizada. “Queremos ver o município mais desenvolvido. Por exemplo, não temos uma agência bancária a funcionar no município, o que poderia evitar as deslocações ao vizinho município de Mucari. O Quela carece de muita coisa”, lamentou.

Na qualidade de munícipe, Bernardo Bande tem consciência das obras em execução, mas gostaria de ver mais acções em prol do Quela. Pede, por isso, às entidades administrativas locais para que imprimam mais dinâmica na solução dos problemas. “O que tem o Quela é uma base, é um princípio. Pensamos que as entidades locais devem analisar o desenvolvimento do município e também dar mais oportunidades a essa juventude”, disse.

Luís Manuel Quituxe, outro munícipe ouvido, apontou a precariedade da estrada como uma, senão mesmo a maior preocupação. Considerou que a maioria se manifesta entristecida com o ritmo das obras nas estradas que tardam a ser concluídas.

Execução  de programas públicos

Segundo apurou o Jornal de Angola, dois programas en-contram-se em execução no município do Quela, nomeadamente, o Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (PIDLCP) e o Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM). Relativamente ao primeiro, dispõe de um suporte mensal de 25 milhões de kwanzas, valor que, segundo Manuel Campo, serve para atender o sector da Saúde, fomento da agricultura, reintegração dos ex-militares, apoio às comunidades mais vulneráveis, entre outros.

“Fomos orientados a criar projectos que possam gerar renda, fundamentalmente para as camdas mais vulneráveis, para que possam criar o próprio auto-sustento”, disse. Manuel Campo considerou os resultados satisfatórios a nível do programa de com-bate à pobreza, não obstante alguns constrangimentos. Realçou a reabilitação de unidades de saúde e respectivo apetrechamento. “Ao nível dos cuidados primários de saúde, temos feito aquisição regular de medicamentos, campanhas de vacinação e o pagamento dos funcionários efectivos e eventuais”, salientou.

Projectos inscritos no PIIM

Calculados em mais de um bilhão e meio de kwanzas, no âmbito do PIMM, o município do Quela tem inscritos 16 projectos. Manuel Campo apontou a terraplenagem das estradas, recuperação de pontes e pontecos, com destaque para comuna do Moma, que ainda permanece isolada do resto da província depois do desabamento da ponte sobre o rio Cubale. O administrador garantiu que a implementação do PIIM vai gerar emprego para juventude.

“Apesar de temporário, pensamos que vão ser criados mais de 600 postos de trabalho. É sempre uma fonte de rendimento para a juventude. Temos terra e máquinas e vamos criar cooperativas”, realçou. Além da aquisição de sementes para fomentar a produção de hortícolas, Manuel Campo avançou que foram gizadas iniciativas para apoiar a preparação mecanizada de terras para as associações.

“Basicamente cultivamos a mandioca e a batata-doce, mas também conseguimos introduzir o tomate, a couve e a cenoura. A batata rena produzida aqui no Quela já foi comprada por uma fá-brica localizada em Cacuso, para que seja transformação”, informou.

Ponte sobre o rio Cubale

A par da terraplenagem da estrada que liga as comunas do Xandel e Moma, a pon-te sobre o rio Cubale, que desabou em 2008 e forçou o isolamento da população do Moma, recebe obras de reposição no âmbito do PIIM. Manuel Campo mencionou que foram lançados, igualmente, cinco projectos para abastecer a população com o precioso líquido, além da aquisição de equipamentos para cuidar do saneamento básico da sede municipal.

Acrescentou que parte do equipamento destinado ao saneamento básico vai apoiar na preparação mecanizada de terras. Ainda no âmbito do PIIM, o administrador anunciou que a localidade vai ganhar duas escolas de 12 e sete salas de aula, na sede municipal e na comuna de Xandel, respectivamente.

“Estamos a trabalha para a terraplenagem de 53 quilómetros de estrada que liga a sede do município até a Missão dos Bângalas. Estamos também empenhados para que a comuna da Missão dos Bângalas disponha de um sistema de captação e tratamento de água”, ressaltou.

Memorial da Baixa de Cassanje

De acordo com as autoridades, existe um projecto do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente para construção do Memorial dos Heróis da Baixa de Cassanje. Manuel Campo explicou que, quando da sua chegada ao município, o projecto estava em curso, mas agora enfrenta retrocesso devido a difícil conjuntura socio-económica do país.

“De qualquer forma, homenageamos sempre os Heróis do Massacre de 4 de Janeiro, data histórica para o país”, frisou. Manuel Campo disse acreditar que quando a situação económica do país melhorar o projecto vai ser retomado. Entretanto, a homenagem aos Heróis da Baixa de Cassanje, brutalmente assassinados pelo exército português em 1961, está memorizada no pequeno cemitério erguido na localidade do Teka dia Kinda.

Construído numa área de 60 metros de comprimento e 15 de largura, o cemitério beneficiou de obras de restauro, incluindo de cinco campas, o que não acontecia desde o tempo colonial.

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