Economia

Jefran declara diferendo com apenas 103 clientes

O presidente do Conselho de Administração da construtora imobiliária Jefran, Francisco da Silva, declarou ontem, em Luanda, dívidas de 95 milhões de kwanzas e situações por resolver com 103 clientes, depois de reembolsos pagos a 150, números prontamente contestados por um representante da Comissão de Lesados instado por este jornal a comentar tais afirmações.

02/10/2020  Última atualização 17H37
DR © Fotografia por: Francisco da Silva apresenta situação menos caótica na Jefran

Francisco da Silva falava numa conferência de imprensa realizada para divulgar aspectos da evolução das obras e da adopção de um mecanismo de resolução que passa a integrar a Associação Angolana dos Direitos dos Consumidores (AADIC) como provedor de conciliação. 

O empresário destacou, também, prejuízos de 58 milhões de dólares devidos a uma associação de problemas como a crise gerada pela Covid-19, “administrativos e financeiros, conflitos de terras, a situação cambial e dificuldades na aquisição de materiais de construção no país”.

Francisco da Silva anunciou aos clientes 200 casas prontas para entrega, um excesso de 97 habitações, apontando, além da crise, a proibição de exercer as nossas actividades como factores que estão na origem do atraso. Questionado sobre as reclamações dos clientes, Francisco da Silva reconheceu que a demora causou impaciência a quem contou realizar “o sonho da casa própria” em pouco tempo, insistindo em que, em pouco tempo, todas as situações serão resolvidas.

Provedor conciliatório

O vice-presidente da AADIC, Jordan Coelho, indicou que, ao agir como provedor conciliatório, a associação pretende aconselhar os lesados a procurarem mecanismos certos para encontrarem as soluções adequadas. “Vamos agir de maneira a dar o nosso parecer e esperamos, desta maneira, ajudar a Jefran a resolver este diferendo que tem com os seus clientes, tendo em conta que nós também temos muitas pessoas que procuraram os nossos serviços neste conflito”, frisou o vice-presidente da AADIC.

Jordan Coelho reafirmou que a associação vai continuar a salvaguardar os interesses dos consumidores que representa e, mesmo na condição de provedor, vai desempenhar esse papel.  Ao comentar estes números, o representante da Associação dos Lesados da Jefran, Célio Alberto, afirmou, contactado ontem pela nossa reportagem, que existem cerca de 490 famílias lesadas pela companhia em três mil milhões de kwanzas e mais de 500 mil dólares.

Célio Alberto considerou a constituição da AADIC provedor conciliatório como “artimanhas ou manobras que estão a ser feitas no sentido de, mais uma vez, ludibriar os clientes, porque já existe o INADEC que é um órgão do Estado que está a mediar este problema. “Não entendemos os motivos da Jefran ir procurar a AADIC, se nós já temos um órgão a tratar do assunto”, frisou.

Em 2017, o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC), um organismo público, recebeu 372 reclamações por incumprimento dos contratos assinados pela Jefran com os clientes, que deram lugar a reuniões e negociações e culminaram na suspensão da imobiliária. 

A dívida da Jefran foi contraída com mais de 400 clientes que, entre 2010 e 2017, celebraram contratos para a obtenção de casas nos regimes de pré-pagamento e de renda resolúvel. Pelo incumprimento dos acordos administrativos, o INADEC intentou uma acção cível e criminal que está a correr no Tribunal Provincial de Luanda.