Desporto

Último xeque-mate a Adérito Pedro

Eugénio Campos

Jornalista

A noite de 5 de Outubro de 2020 fica tristemente marcada para o jogo ciência entre nós. Morreu o melhor xadrezista angolano de todos os tempos, o Mestre Internacional Adérito Pedro, por doença.

06/10/2020  Última atualização 21H13
Miquéias Machangongo | Edições Novembro © Fotografia por: Estilo de jogo agressivo e posicional quando necessário marcaram a trajectória do hexacampeão

De nome completo Adérito João Assis Pedro, nasceu a 8 de Abril de 1976 e foi uma ilustre figura do Bairro Popular. A si coube a distinção de ser o primeiro angolano a vencer o Campeonato Africano de Juniores, em 1994, na cidade de Nairobi, Quénia.

Inaugurou uma época dourada do xadrez nacional, abrindo o caminho para vitórias consecutivas nos anos subsequentes, através de Eugénio Campos (1995 e 1996) e Vladimiro Pina (1997 e 1998).

O Mestre Internacional (MI), Adérito Pedro foi o primeiro angolano a vencer um Grande Mestre, o sueco Lars Karlsson, em 1995, no Torneio Internacional de Timra, no ano em que frequentou a Karpov Chess School, em Harnosands, Suécia.

A sua saga não ficou por aí, foi o primeiro e único angolano a qualificar-se para o Campeonato do Mundo, Khanty-Mansiysk, Rússia, em 2007, onde, na altura, defrontou o número dois do ranking da Federação Internacional de Xadrez (Fide, na sigla em francês) , o Grande Mestre ucraniano, Vasily Ivanchuck, que o eliminou.

Adérito representou várias vezes o país nas Olimpíadas, destacando-se a medalha de bronze obtida em 1998 na Kalmikia, Rússia.

Participou em três Jogos Panafricanos, e levou a medalha de bronze em Abuja, Nigéria, em 2003 e de prata em Argel, Argélia, em 2007.

Era um xadrezista com grande capacidade imaginativa e poder de cálculo.

Hexa-campeão nacional, chamou a si o título em 1998, 2000, 2003, 2005, 2008 e 2018. Além de ter ganho muitos torneios.

Detinha um estilo agressivo e reconhecia que muitas vezes o seu erro não estava em dificuldades em saber gerir posições vantajosas, mas em arriscar demais, mesmo quando estava empatado. Também sabia jogar posicional, quando assim decidisse, e fazia-o bem.

Na carreira desportiva, o jogador do 1º de Agosto também teve passagens pelo Clube Rodoviário de Luanda, Grupo Desportivo da Nocal, Recreativo do Libolo, Escola Valentim Melo e Polivalente Aldanuel. Uma trajectória gloriosa. O primeiro dos primeiros de Angola. Que a sua alma descanse em paz.


Discursos emotivos no momento de recordação

Rogério Silva, antigo presidente do Comité Olímpico Angolano (COA), mostra-se “profundamente consternado” com a notícia trágica que dá conta da morte prematura de Adérito Pedro e lamentou a perda do Mestre Internacional através de uma mensagem na sua conta na rede social Facebook.

“O Adérito Pedro era sem dúvida o nosso mais talentoso jogador. Vi o Adérito crescer como xadrezista. O seu talento sempre me maravilhou e foi sem dúvida das maiores revelações da nova geração de xadrezistas que tivemos en-quanto permaneci na Federação Angolana de Xadrez (FAX)”, escreveu.

O antigo dirigente recordou o primeiro título africano de juniores, arrebatado por Adérito, em 1992, em Nairobi, Quénia: “Naquela altura, poucos acreditavam que fosse capaz de atingir tal proeza”.

António Assis, vice-presidente da FAX, também rendeu-se à memória do xadrezista e considerou que, além de um filho, Angola perdeu um “exímio praticante” que representou condignamente as cores da bandeira nacional nas distintas competições internacionais.

“Tinha força e qualidade de Grande Mestre, apesar de não ter recebido esta distinção. Pela sua qualidade e criatividade de jogo, estamos convencidos que seria o primeiro com este título se o país oferecesse melhores condições socio-económicas ao Adérito”, disse em declarações ao Jornal de Angola.

Na ocasião, o dirigente endereçou sentimentos de pesar à toda a família do xadrez angolano.