Reportagem

Buscar a saúde e a autoestima através dos exercícios físicos

O facto de estar em casa sem quase nada para fazer, com mais tempo para dormir, relaxar, cozinhar e comer de forma mais descontrolada fez com que muitos que antes eram amigos da balança passassem a fugir dela, por causa do ganho de peso que foram tendo com o tempo, de forma quase exponencial.

11/10/2020  Última atualização 19H01
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E, como o sobrepeso nunca vem sozinho, em muitas pessoas trouxe também, ou fez acentuar, os quadros de hipertensão, diabetes, dores de coluna e problemas cardíacos. Em muitos lares, tornou-se fraco o desempenho sexual de um ou de ambos os parceiros.

Daí ver-se todos os dias, de manhã cedo, pessoas em grande número, trajadas a seu jeito, com roupa apropriada para ginástica ou não, atrás de uma meta comum: perder peso ou simplesmente sair do sedentarismo. É o caso de Helga João, 34 anos, moradora do Sequele desde 2015. Ela contou à nossa reportagem que sempre teve problema de sobrepeso, mas antes ainda conseguia controlar, fruto da dinâmica do trabalho e das lidas de casa. De Março a Junho passou de 70 para 80 quilos, sendo que uma boa parte da gordura estava concentrada na barriga, E, por ser de estatura baixa (1,58 cm de altura), começou a sentir rapidamente os efeitos do peso a mais. 

"A gota de água foi quando o meu marido, em pleno acto sexual, me disse que nos últimos tempos eu já não conseguia acompanhar o seu ritmo porque estava pesada, precisava emagrecer. Depois disso, ele já não me procurava mais, ou dormia cedo, antes de mim, ou mais tarde, quando eu já estivesse num sono profundo”. 

Helga disse que isso foi-lhe incomodando tanto que, sem qualquer orientação médica, decidiu fazer algumas reduções alimentares e caminhar todos os dias de manhã e à tarde durante uma hora em cada sessão.

"No princípio foi muito difícil devido ao frio das 5 horas, mas fui ganhando o gosto à medida que a minha boa disposição voltava devido aos treinos. Estou a perder peso. Em apenas um mês perdi seis quilos, as dores e o cansaço que sentia no corpo estão a desaparecer aos poucos e a minha autoestima está a voltar, assentou mesmo”.  

A Alves Gomes, 56 anos, foi diagnosticada hipertensão arterial e diabetes. Além da medicação e de algumas restrições alimentares, o médico prescreveu-lhe caminhadas diárias, pelo menos durante uma hora. 

"A minha tensão arterial já chegava aos 200 e, devido ao stress do dia-a-dia, as coisas só pioravam. Mas desde que estou confinado em casa e a fazer exercícios todos os dias, os níveis tensionais tendem a baixar. Na última consulta que fiz para controlar a diabetes o médico ficou feliz com o resultado, que também melhorou muito”. 

Ainda segundo Alves Gomes, os exercícios além de o ajudarem no controlo das doenças crónicas, aliviam-lhe o stress, proporcionando-lhe uma sensação de bem-estar, nessa época em que a maior parte das pessoas está tensa devido ao aumento de casos da Covid-19.  

Se para uns os exercícios físicos servem para perder peso e controlar as doenças crónicas, para outros servem para ganhar peso e aumentar a massa muscular. É o caso de Berner Diogo, estudante universitário de 23 anos.   

Berner tem 1,75 cm de altura mas pesava 57 quilos. Com a ajuda de um nutricionista e de um personal trainer, de Abril a Março aumentou 13 quilos, porque além de fazer exercícios para o aumento da massa muscular, também adoptou uma alimentação reforçada, principalmente com carboidratos e em intervalos muito curtos. 

"A minha meta é chegar aos 80 quilos. Com exercícios e muito descanso chegarei lá. Consigo notar a diferença porque as pessoas dizem que estou com um aspecto mais saudável, o que melhorou muito a minha autoestima”, disse.  


A visão do profissional  

O personal trainer Euclides Barros explicou à nossa reportagem que os exercícios físicos, em qualquer etapa da vida, ajudam a aliviar o stress, previnem a obesidade, a hipertensão arterial, a diabetes (uma vez que a actividade física ajuda a regular os níveis de glicemia), evita a celulite, a osteoporose e, acima de tudo, melhora o sistema de ventilação pulmonar, "o que é muito importante nessa época da pandemia da Covid-19”. 

"Com acompanhamento médico ou não, todas as pessoas devem, ao menos, caminhar durante 45 minutos, três a quatro vezes na semana. Garanto que irão se sentir muito mais rejuvenescidas, tanto por dentro como por fora”, explicou o profissional.

Segundo Euclides Barros, pessoas obesas com problemas cardíacos e sedentárias (que não praticam nenhuma actividade física) estão mais propensas a contrair doenças, com consequências graves.  

"Daí que recomendo a estas pessoas e à população em geral, a começarem, desde já, a adotar hábitos saudáveis, que as ajudem no fortalecimento do sistema imunológico, principalmente. E os exercícios físicos de forma regular além de proporcionarem boa saúde física, também causam equilíbrio na saúde mental e isso ajuda na liberação das endorfinas, substância responsável pela sensação de bem-estar, contribuindo assim para o aumento da autoestima do ser humano”.
 

Que treinos fazer?  

De acordo com Euclides Barros, nem todas as pessoas devem fazer todo tipo de treino. "É aí onde entram os profissionais de saúde para orientar cada indivíduo, de acordo com a sua necessidade e constituição física, porque a forma como se deve exercitar uma criança não é a mesma para um jovem, idoso ou pessoas com alguma deficiência física. Tudo obedece a regras para se evitarem as lesões”.   

Ainda segundo Euclides Barros, os principiantes, como rotina, para movimentar o corpo "podem realizar caminhadas, corridas leves e exercícios aeróbicos que vão ajudar muito a melhorar o condicionamento físico de cada um”. 

A nutricionista Sónia António explicou ao Jornal de Angola que a prática de exercícios físicos tanto para perder peso como para ganhar peso ou simplesmente sentir-se bem "é fundamental, mas é importante ter em atenção o que se come. Segundo a velha máxima, ‘O ser humano é o que come”. Logo, o sucesso da nossa saúde, principalmente nessa época da Covid-19, está intrinsecamente ligado a tudo aquilo que ingerimos”.  

De acordo com Sónia António, quem quer perder peso, além de fazer exercícios deve consumir alimentos mais leves e mais nutritivos, como sopas de legumes, de abóbora, batidos e sumos detox (sumos naturais para emagrecer). As carnes e o peixe devem ser consumidos grelhados ou cozidos e não fritos.  E algumas vezes, aconselha a nutricionista, pode-se fazer jejuns intermitentes, sem comer alimentos sólidos, consumindo apenas água. 

Já para quem quer ganhar peso o processo é inverso. "A pessoa precisa utilizar alimentos que contêm carboidratos, vitaminas, fibras, proteínas, gordura vegetal, magnésio e cálcio. E deve comer quatro a seis vezes por dia, dependendo da necessidade do corpo e da energia absorvida durante os treinos”. 

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