Entrevista

Augusto Pedro: “As agências de viagens nunca beneficiaram de empréstimos bancários”

Está-se a viver, neste momento, o pior momento da história deste sector que inclui o turismo. Algumas agências estão totalmente encerradas e outras sem actividade pedem a intervenção do Estado para acudir este segmento que controla mais de 120 agências e mil trabalhadores em todo país. O Jornal de Angola procurou ouvir, em entrevista exclusiva, o secretário-geral da Associação das Agências de Viagens e Operadores Turísticos de Angola (AAVOTA), Augusto Pedro, para avaliação e as suas consequências.

06/11/2020  Última atualização 13H30
© Fotografia por: DR
Neste momento de pandemia mundial, em que Angola não foge à regra, qual é avaliação que a AAVOTA faz deste segmento do mercado?
Neste momento de crise, provocada pela Covid-19, o sector do Turismo encontra-se parado no tempo e no espaço. As nossas agências estão encerradas desde 27 de Março. É muito tempo! Até ao momento não temos sinais de abertura para breve. Por exemplo, o decreto presidencial obriga ao pagamento de 100 por cento de salário aos funcionários, mesmo estando estes em casa, factor que "rebentou" complemente com os fundos. Terceiro, o nosso sector não beneficiou do alívio económico. 
Quais são as principais dificuldades que enfrentam?
 Como lhe disse anteriormente, a principal dificuldade neste momento é a falta de financiamento por parte do Governo. Sabemos que empresas de outros sectores foram contempladas no âmbito do PRODESI, mas o turismo não. Até agora não conseguimos entender porque é que não estamos a beneficiar deste programa e do alívio económico do Estado. Quero relembrar aqui que as agências de viagens nunca beneficiaram de empréstimos bancários neste país. 
De que é que estão a viver os associados neste período? 

Esta questão somente o Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente pode responder. Penso que tem uma explicação melhor. Como lhe disse, as agências estão paradas desde Março. Portanto, estão entregues ao abandono. Encontramo-nos numa situação de salva-se quem puder. Uma coisa posso lhe garantir, mesmo sem nenhum apoio e, por sermos empresas resilientes, não vamos desaparecer. 
Tentaram contactar as autoridades nesta fase para algum apoio?

Somos consideradas micro e pequenas empresas. E nenhuma empresa deste escalão consegue resistir a seis meses sem ganhar absolutamente nada e manter os seus encargos económicos, principalmente, com funcionários, por exemplo. 
Existem agências a fechar e a despedir pessoal? 

Mas é claro! Temos vindo a receber informações de alguns associados que mostraram sinais de encerramento da sua actividade. Caso não haja apoio por parte do Governo, a situação pode ser pior. Só teremos noção exacta de agências fechadas e o número de desempregados tão logo regressemos à normalidade, por agora não é possível mensurar. Como disse, só com a abertura total das AVT´s é que teremos os números certos sobre os estragos reais que a pandemia está a fazer neste momento.
Quantas agências, números de funcionários e operadores turísticos a AAVOTA controla em todo País?
 Neste momento a associação tem sob o seu domínio 120 agências de viagens e turismo e acima de mil funcionários em todo país.   
As agências de viagens jogam um papel crucial para o fomento, promoção e atracção turística. Com esta situação fica tudo comprometido? 
 Penso que não, porque o turismo é um sector que congrega consigo várias actividades e a hotelaria é uma delas. Temos que admitir que todos somos responsáveis pelos problemas que existem no sector, mas é preciso lembrar que o Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente tem um Instituto, que, dentre outras coisas, é de sua responsabilidade promover e fomentar, dentro e fora, o turismo nacional para alterar essa situação.
Se esta situação da Covid-19 se mantiver até fim do ano, que cenário se pode esperar? 

Esperamos que até final do ano se consiga uma vacina que possa ajudar a mobilidade de turistas em todo mundo, porque se assim não acontecer vai ser muito complicado para a nossa classe e para aquelas actividades que estão ligadas directa e indirectamente ao turismo. A situação pode ser ainda mais grave. 

Vêem-nos como um país que não consegue atrair turistas

De que forma somos vistos lá fora em termos turísticos? 

O exterior nos vê como um país de grandes potencialidades, mas que não consegue organizar-se o suficiente para atrair turistas internos e internacionais. Só precisamos de nos organizar para atingirmos pelo menos os níveis de uma África do Sul. Temos tudo para lá chegar.  
Que turismo teremos no pós-Covid? 

Temos a convicção de que a capacidade de compra dos turistas baixou consideravelmente. Então, nós estamos a preparar os associados sobre a necessidade de maior organização, agressividade e dinamismo, porque a era do turismo mundial vai certamente sofrer várias transformações e algumas até imprevisíveis.  
E que medidas estão a ser tomadas para prevenir maiores danos ao sector? 

A AAVOTA, nesta fase de situação de Calamidade Pública, tem estado a reunir com várias entidades nacionais e internacionais, para ver como se vai  desdobrar no mercado e como ajudar os nossos membros. Para este ano tínhamos um plano de acção que, acreditávamos, se não fosse a crise pandémica, seria o nosso melhor ano. Mesmo assim conseguimos em Janeiro um acordo com a Multicrédito, pena é que a Covid-19 criou entraves. Portanto, o que não fizermos este ano, passa para 2021. 

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