Desporto

Dormência hipoteca sonho do Petro de Luanda na Liga

Paulo Caculo

Jornalista

A exibição de um futebol dormente, sem chama, sem alma e sem personalidade pode acabar com o sonho do Petro de Luanda em alcançar os quartos-de-final da Liga dos Clubes Campeões Africanos.

16/03/2021  Última atualização 23H16
Hipóteses de manutenção na principal competição africana de clubes são mais remotas © Fotografia por: Santos Pedro| Edições Novembro
O empate (0-0), ontem, frente ao Kaizer Chiefs da África Sul, em jogo da 4ª jornada do grupo C, mantém os tricolores na cauda da classificação e sem hipóteses de alcançar o topo.

A equipa angolana até começou bem o jogo. Entrou com tudo, foi capaz de dispor de maior posse de bola e gozou de domínio territorial nos primeiros dez minutos. Apesar do estado de graça inicial, os tricolores mostraram-se pouco esclarecedores na construção do bloco ofensivo e impotentes para descobrir as principais vias de acesso à baliza dos sul-africanos.

A verdade é que, nesse período, o Kaizer Chiefs estava muito bem na organização do jogo defensivo; sabia tapar os caminhos às jogadas criativas de Picas, pela direita, e de Job, pela esquerda; deixava Tiago Azulão perdido no ataque e sedento de bolas que lhe pudessem chegar aos pés para tentar acertar as redes. O Petro, ao longo de quase toda a primeira parte, revelou-se ser uma equipa em grande esforço, muito espremida e a precisar de mais dois ou três jogadores fundamentais para os sectores considerados "chave".

A dada altura, os jogadores pareciam sentir enorme pressão do jogo, com passes extraviados e a incapacidade de o meio-campo ganhar as segundas bolas. Era, na maioria das vezes, na zona intermédia que a equipa sul-africana aproveitava para circular a bola a bel-prazer e explorar bem os flancos. A dupla Manyama e Mashiane transformou os corredores direito e esquerdo em autênticas auto-estradas em direcção à área do Petro.

Pese o ascendente dos forasteiros, pertencia aos donos da casa a maior percentagem de contenção de bola.  A passagem do minuto 18, o Kaizer Chiefs equilibrou e passou a fustigar mais vezes a baliza de Dominique que, aos 20 minutos, evitou um golo do sul-africano, com uma defesa em esforço e de grande nível.

Nessa fase, o Petro experimentou os maiores calafrios do jogo. Revelou a incapacidade para fazer circular a bola próximo da área do adversário. E só para se ter uma ideia do quão sofrível foi para o conjunto angolano essa fase do jogo, apenas ao minuto 31 conseguiu fazer o primeiro remate enquadrado com a baliza.

A única jogada digna de realce, produzida pela equipa angolana nos 45 minutos iniciais, surgiu na cabeça de Tiago Azulão, a dois minutos do intervalo, na sequência de uma jogada individual de Job. O cabeceamento do brasileiro gerou a sensação de golo, após beijar a rede lateral da baliza à guarda de Akpeiy.

Barreira sul-africana
intransponível

Na segunda parte, a exibição do Petro foi um paradigma da exibição que tinha produzido na etapa inicial. Ou seja, continuou a ter posse de bola, mas espelhou a falta de força colectiva e solidez ofensiva para transpor a última barreira montada pelos sul-africanos à frente da sua baliza.

Escasseou soluções ao jogo ofensivo. Nem Picas e muito menos Danny foram capazes de soltar o futebol mágico e criativo que neles habita, assente na organização do jogo ofensivo com "régua e esquadro". Aos 70 minutos, o Kaizer Chiefs esteve próximo de inaugurar o marcador, não fosse Diógenes tirar o "pão da boca" de Manyama, ao desviar de cabeça um chapéu ao guarda-redes Dominique, já completamente batido.

Embora o Petro tivesse procurado sobre todas as formas buscar soluções nas substituições, as entradas de Yano e Nelinho pouco ou quase nada acrescentaram ao jogo da equipa. Faltou intensidade competitiva ao conjunto angolano para fazer frente ao futebol adulto, experiente e organizado da turma sul-africana.

O embaixador angolano só pode queixar-se de si mesmo, na medida em que não foi capaz de produzir um futebol intenso e de pressão alta sobre o último reduto do adversário e nem aproveitou as raras oportunidades de golo que dispôs. A única nota positiva pende sob a capacidade que teve a defesa tricolor, em não encaixar mais golos aos cinco já coleccionados. Porém, a jogar assim, não merece o céu.

Noutro jogo, referente ao mesmo grupo, Horoya e Wydad de Casablanca empataram igualmente sem golos (0-0). Os marroquinos lideram o grupo com dez pontos, seguidos dos guineenses e sul-africanos, ambos com cinco. Os angolanos ocupam a última posição com apenas um ponto.

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