Mundo

Eleições/RCA: Concorrentes derrotados contestam os resultados

Dez candidatos que participaram na corrida presidencial na República Centro-Africana (RCA), pediram, ontem, o “cancelamento e a retomada total” do processo das eleições presidenciais e le-gislativas de 27 de Dezembro, alegando ocorrência de “fraude”, segundo revelou, ontem, a AFP.

07/01/2021  Última atualização 13H35
A dupla votação não foi realizada na maioria do território devido à violência armada © Fotografia por: DR
Isto ocorre após a reeleição de Faustin Archange Touadéra, à primeira volta, com 53,92 por cento dos votos declarados pela autoridade eleitoral.
Os candidatos da oposição citam "numerosas irregularidades que marcaram as eleições”, citando como exemplo a possibilidade que foi concedida aos eleitores para votarem em lugares distantes dos círculos onde estavam registados. Outro exemplo apontado para esta contestação, prende-se com o facto de es-tarem inscritos 1.858.436 de eleitores e de "apenas terem votado 695.019, correspondendo a uma taxa de participação de 37 por cento e não dos 76,31 por cento anunciados pela Autoridade Nacional Eleitoral (ANE)”.

"Perante isto, Anicet Georges Dologuélé e Martin Ziguélé, dois ex-Primeiros-Ministros que ficaram em 2º e 3º lugares, respectivamente, de acordo com o órgão eleitoral, dos 17 candidatos no total, "não reconhecem os resultados publicados pela ANE”, alega uma fonte ligada ao processo, citada igualmente pela AFP.

"Pedimos a anulação e a repetição das eleições” presidenciais e legislativas ",  afirmaram os dez candidatos, numa declaração conjunta, citada pela France-Press. No dia da dupla votação, o escrutínio só foi realizado em cerca de metade das mesas de voto, devido ao conflito armado que já dura oito anos e onde dois terços do território é controlado por grupos armados.
O relator geral da ANE, Théophile Momokoama, afirmou que em quase metade das mesas de voto, "a votação não pôde ter lugar, ou os boletins de voto foram destruídos”.O líder da oposição, Anicet Georges Dologuelé, da União para a Renovação Centro-Africana (URCA), considerou, ainda, na segunda-feira, que os resultados são "uma farsa” e repetiu que "houve muitas irregularidades e fraudes”.

"Não dou crédito a estes resultados, é uma farsa, uma vergonha para o nosso país”, acrescentou, por seu turno, Martin Ziguélé, que ficou em terceiro lugar.Thierry Vircoulon, especialista em África Central, do Instituto Francês de Relações Internacionais, considerou que esta eleição "é um enorme passo atrás em relação às eleições de 2016”.
Maioria presidencial está eufórica

Por seu lado, a maioria presidencial está eufórica. "Os resultados estão anuncia-dos, só posso regozijar-me, como todos aqueles que apoiaram o Presidente, e é um voto de rejeição à violência”, afirmou o porta-voz do Gover-no, Ange-Maxime Kazagui, que defende que as eleições são "credíveis”.

A União Africana,  União Europeia, Organização das Nações Unidas (ONU) e a Comunidade Económica dos Estados da África Central, que investiram milhões de dólares na organização do acto eleitoral, elogiaram "a determinação dos centro-africanos em exercer o direito de voto, apesar dos muitos obstáculos”, numa declaração conjunta, "tomando nota dos resultados provisórios”.

A Rússia, que tem sido um forte apoiante de Faustin Archange Touadéra há mais de dois anos, também ficou satisfeita: "Manifestamos a esperança de que a realização bem-sucedida das eleições contribua para a normalização da situação no país”, com "todas as forças políticas” e num "espírito construtivo”, comentou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

Em 19 de Dezembro, uma coligação dos principais grupos armados, prometeu "tomar o controlo de todo o país”. Faustin Touadéra disse imediatamente tratar-se de uma "tentativa de golpe de Estado”, sob as ordens de François Bozizé, que foi derrubado em 2013 e cuja candidatura a estas eleições foi anulada pelo Tribunal Constitucional. 

A RCA mergulhou no caos e na violência em 2013, após o derrube do então Presidente François Bozizé, por grupos armados juntos na Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas na anti-Balaka. Desde então, o território centro-africano tem sido palco de confrontos comunitários entre estes grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da RCA a abandonarem as casas.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Mundo