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Embaló nega qualquer problema com o Senegal

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, disse, ontem, que o conflito em Casamança é “um problema dos senegaleses”, recusando que haja qualquer “problema” ou “crise” com o país vizinho.

04/03/2021  Última atualização 11H27
Presidente da Guiné-Bissau tomou posse há um ano e promete continuar a ser mais interventivo © Fotografia por: DR
"O problema de Casaman-ça pertence aos senegaleses, nós não nos metemos, somos um país de pessoas sérias. Há pessoas que gostam de falar, que faz parte do quotidiano deles, não me meto nos problemas de Casamança, isso não nos pertence”, afirmou o Chefe de Estado, em entrevista à Lusa por ocasião do seu primeiro ano de mandato, assinalado a 27 de Fevereiro.
Em Janeiro, as autoridades senegalesas lançaram mais uma ofensiva contra o Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MDF), depois das forças militares do Senegal terem denunciado abusos de rebeldes contra civis e para destruir campos de cânhamo (planta de canábis) indianos atribuídos à rebelião.

Os rebeldes de Casamança ameaçaram entrar na Guiné-Bissau se sofrerem ataques das tropas senegalesas a partir de território guineense, acusando as autoridades de Bissau de se terem aliado ao Senegal contra a região independentista.
O MFDC luta desde 1982 pela independência de Casamança, limitada a Sul pela Guiné-Bissau e a Norte pela Gâmbia.
As conversações de paz, tornadas ainda mais difíceis pelas divisões internas do MFDC, foram relançadas após a chegada ao poder do Presidente senegalês, Macky Sall, em 2012.

No entanto, estas não foram suficientes para um acordo que pusesse fim a um conflito que causou milhares de vítimas civis e militares, devastou a economia e forçou muitas pessoas a fugir da região.
Casamança foi trocada por Portugal com a França no século XVII, passando a integrar o Senegal, após a independência desta antiga colónia francesa, em 1960.

A integração é contestada pelos rebeldes - estimados entre quatro mil e cinco mil - que há 40 anos reclamam a independência de uma das regiões com mais recursos do país, considerada o "celeiro” do Senegal e com reservas de petróleo "offshore” ainda inexploradas, mas que os independentistas consideram ter sido marginalizada em matéria de desenvolvimento económico.


Desinformação
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, afirmou, ontem, que a Guiné-Bissau "não voltará a estar perturbada” por golpes de Estado e lamentou que haja "especialistas em desinformação”. Em entrevista à agência Lusa por ocasião do seu primeiro ano de mandato, assinalado a 27 de Fevereiro, e questionado sobre o que o levou a falar publicamente de rumores de golpe de Estado, o Presidente justificou que a Guiné-Bissau é um país "de rumores” e que é preciso acabar com isso.
Questionado sobre se as suas intervenções públicas não provocam a discórdia, o Presidente disse que as pessoas "costumam avaliar a reacção”, mas devem é "julgar a provocação”.

"Para mim a provocação é igual a reacção. Qualquer provocação tem uma reacção adequada e para mim é muito importante que as pessoas saibam” isso, disse, salientando que não é um homem violento, nem arrogante, mas que gosta de "rigor e disciplina”.
José Mário Vaz foi o primeiro Presidente da Guiné-Bissau a terminar um mandato. Questionado sobre as relações com o Primeiro-Ministro, o Chefe de Estado guineense voltou a lamentar a existência de "especialistas em desinformação”.
"Eu é que o nomeei, dei posse. Agora não tenho de ter boas relações ou más, isso não tem de existir. Temos relações excelentes, cordiais, na base do respeito”, afirmou o Presidente.

Vários analistas guineenses têm apontado para algum mal-estar entre o Presidente e o Primeiro-Ministro, sobretudo, devido à presença de Umaro Sissoco Embaló em quase todas as reuniões do Conselho de Ministros e à nomeação de um vice-Primeiro-Ministro, cargo que não consta na orgânica do Governo.
 "Eu tenho um guião que é a Constituição da República, eu já fui Primeiro-Ministro, eu conheço as competências do PM. Não quero usurpar poderes, eu já sou Presidente da República e comandante Supremo das Forças Armadas”, afirmou.
A Constituição da Guiné-Bissau permite ao Presidente da República presidir às reuniões do Conselho de Ministros "quando entender”.

 Questionado sobre aquela dinâmica política, o Presidente salientou que é uma "pessoa muito interventiva " e que "está a acompanhar a acção governamental” porque "o Governo é responsável politicamente junto do Presidente da República e da Assembleia Nacional Popular”.
Umaro Sissoco Embaló afirmou igualmente que a sua responsabilidade com o actual Governo é "dupla”.
"Não só como Presidente da República, mas quase todo o Governo, essa maioria, vem da maioria presidencial e por isso é que eu tenho tanta responsabilidade para fazer funcionar este Governo”, sublinhou.

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