Economia

Escoamento preocupa produtores do Uíge

Leonel Kassana

Jornalista

O Conhecida pelas suas excepcionais condições climatéricas, que permitem a produção de uma gama variadíssima de produtos agrícolas, a província do Uíge procura assumir maior protagonismo na oferta de bens alimentares no país e, por via disso, colocar-se entre as regiões mais pujantes de Angola, no que à Agricultura diz respeito.

04/03/2021  Última atualização 19H19
A mandioca, tubérculo mais consumido localmente, é, também, dos principais produtos que a província fornece a Luanda © Fotografia por: DR
Terra de chuvas abundantes, de rios quase todos de caudal permanente, de solos aráveis e, o melhor de tudo, de gente com uma tradição secular de apego à lavoura, Uíge "veste-se” permanentemente de verde. É, pois, a conjugação de todos esses factores que leva as autoridades locais a colocar em marcha um ambicioso programa de resgate do que, a toda a linha, se pode chamar "potência agrícola" do norte de Angola.

 Um grupo de jornalistas desafiado a "Andar o País, pelos Caminhos da Agricultura e  Desenvolvimento”, pode constatar isso mesmo desde a entrada do município do Puri, à entrada do Uige. Invariavelmente, em todos "mercados" - as aspas vêem a propósito, pois trata-se de praças - é visível a diversidade de produtos do campo a preços capazes de provocar queda colectiva de queixos de compradores habituados a fazer muitas contas.

Um cacho de banana de grande dimensão é comercializado a pouco mais de 1.500 kwanzas, o balde de tomate 500 kwanzas, o de cebola idem. Uma mandioca grande, que no maior centro consumidor do país (Luanda), chega a custar 2000 kwanzas, por essas paragens não passa dos 1000.
Esses são apenas alguns exemplos mais palpáveis, a traduzir a grande dificuldade que de escoamento da produção dos campos agrícolas para as vilas e cidades.

O problema (escoamento) está identificado, mas as soluções, estas parecem andar ainda muito distantes.
 Os relatos de populares com quem o Jornal de Angola chegou à fala em diversas localidades, como Aldeia de Muquiama Samba, onde os jornalistas puderam parar  na subida para as chamadas "terras do bago vermelho", ao longo da EN 280, de ligação entre Luanda e a capital da província do Uíge, são impressionantes.

Homens e jovens relataram casos de deterioração de grandes quantidades de produtos no campo por  dificuldades de transportação para os principais mercados. Quem consegue vender um cacho de banana é como que bafejado pela sorte. Isso para os que vivem mais ou menos próximo da estrada nacional.

É um quadro que, por si só, dá a dimensão das dificuldades que os pequenos agricultores radicados mais para o interior das aldeias vivem diariamente. Áreas onde não há camião ou carrinha que arrisque para lá chegar, tal é o estado das picadas (porque falar de estradas seria ser - se demasiado simpático).
Na Aldeia Muquiama Samba, antes do desvio para a região do Kibaxe, demo-nos com uma carrinha. Vinha comprar banana, para vender nas praças de Luanda. Não lhe percebemos a discrição, mas via-se-lhe no semblante a alegria com que adquiria cachos de banana, de considerável tamanho, a preços de "chuva", mas que na capital chegam ao preço proibitivo. Estamos a falar de um monte seis bananas por 500 kwanzas a discutir.

Auto-suficiência
Como se diz no início desse apontamento, na verdade o primeiro de uma série de reportagens que o Jornal de Angola vai fazer ao longo de trinta dias em diversos projectos agrícolas de matriz empresarial e propriedades de produção familiar, por oito províncias, o Uíge tem condições adequadas para ser um actor incontestável da disponibilidade de bens alimentares, num momento de grande carência em diversas regiões, sobretudo no sul de Angola.

 Não se sabe ainda com precisão como é que a mandioca ou banana aqui produzidas na quase totalidade dos municípios poderá chegar às comunidades que vivem uma situação de carência alimentar ainda com dimensões por calcular.
As autoridades do Uíge gabam-se, por assim dizer, de uma auto-suficiência no que à mandioca e banana diz respeito, mas notam que há boas perspectivas noutras culturas consideradas não tradicionais na região.

 Está-se, aqui, a olhar para a gimgunba, frutas, hortícolas e outras  culturas, passíveis de produzidas em quase todos os municípios, a julgar pela condições climatéricas. No município do Sanza Pombo pudemos assistir ao relançamento da produção de arroz em grande escala, depois de largos anos de completa inactividade. O Massango e a massambala, consideradas culturas tradicionais da Huíla, Cunene, Namibe e Cuando Cubango, que mobilizam milhares de famílias camponesas naquelas províncias, surgem agora na estratégia de diversificação das culturas no Uíge.

Eduardo Gomes, director da agricultura no Uíge, diz não ter dúvidas do sucesso desta nova aposta. "Todo o processo passa pela adaptabilidade de outras culturas, mas vamos implementá-lo em todos os municípios da província", promete.
O projecto de relançamento da cultura de arroz no Sanza Pombo parece ter "pernas para andar". A equipa de jornalistas integrados no projecto "Andar o pais - Pelos Caminhos da Agricultura", testemunhou a abertura da colheita.
 O projecto jornalístico "Grande Reportagem – Andar o País pelos Caminhos da Agricultura e do Desenvolvimento” é uma iniciativa da emissora radiofónica Luanda Antena Comercial (LAC), que integra jornalistas de diferentes órgãos de comunicação social.
 Esta é a terceira edição. A primeira teve lugar em 2007 e a segunda em 2019. Devido à tendência de aumento de casos de Covid-19, em 2020 o projecto sofreu um interregno.  

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