Cultura

Escritor defende inclusão de livros infantis no ensino

O escritor John Bella defendeu, terça-feira, na cidade de Moçâmedes, que o Estado angolano deve incluir livros infantis entre os manuais do ensino primário, com vista a melhorar o aprendizado e ao mesmo tempo acudir os escritores nacionais que encontram dificuldades financeiras para a publicação das suas obras.

04/03/2021  Última atualização 08H25
John Bella quer literatura infantil de autores nacionais entre os manuais do ensino primário © Fotografia por: Paulo Mulaza | Edições Novembro
John Bella, que está na cidade de Moçâmedes, onde apresentou, na terça-feira, a sua mais recente obra intitulada "A lenda do ovo e da galinha – quem nasceu primeiro”, disse, em entrevista ao Jornal de Angola, que as restrições impostas pelo Covid-19, associadas à crise económica e financeira que o país vive, agravaram os custos da produção literária, sobretudo de livros infantis que, além de uma escrita rigorosa e de investigação, requer a criação de desenhos.

O escritor reparou que o Estado angolano tem gasto elevados montantes na produção de livros para o ensino primário, que muitas vezes são publicados com erros, defendendo por isso a inclusão de obras com carácter literário, sobretudo de autores nacionais, com ensinamentos geracionais sobre a cultura e as tradições africanas, entre outros conteúdos, explorando deste modo a criatividade artística.

"Se os livros didácticos do ensino primário são de distribuição gratuita, os de literatura infantil podiam ser vendidos a preços simbólicos, para dar o mínimo apoio possível aos escritores e desenhadores que actuam no campo da literatura infantil”, realçou, sugerindo que devem ser os auxiliares do titular do poder executivo a propor esta e outras soluções a quem de direito.
Com mais de dez obras publicadas, entre poesia, romance e livros infantis, John Bella, que iniciou a carreira como escritor nos anos 1990, refere que é preciso dar-se mais atenção aos escritores nacionais da nova geração, fazendo o devido acompanhamento do seu processo de criação e formação, para se evitar situações de plágio como as que se registaram em 2020, com os vencedores dos prémios "Jardim do Livro Infantil” e "António Jacinto”, a quem foram retirados os títulos por se constatar que incorreram nesta prática.

"Os escritores consagrados, os mais-velhos, devem ser eles os primeiros a observarem isso e a criticar os mais jovens, puxar-lhes as orelhas, e não apenas fazerem montes de elogios, como se estivesse tudo bem; porque eles sabem que não está”, disse.
Frontal, o escritor considera haver um certo "vício” na escolha dos membros do júri de determinados prémios literários, denotando-se a existência de esquemas que visam favorecer alguns em detrimento doutros. "Acontece que, às vezes, quem está no júri faz com que o escritor de seu interesse ganhe, para que este, quando vier a integrar outro júri, faça o mesmo tipo favor”, disse.

Autor dos livros "Água da vida”, "Panelas cozinharam madrugadas”, "Cântico romântico (à paz)”, "Embebedaram a chuva” (poesia), "Os primeiros passos da rainha Njinga” e "O regresso da rainha Njinga” (romance), mas é na literatura infantil que Jonh Bella mais se tem notabilizado, tendo publicadas as obras "A canção mágica”, "A lenda do gato e o rato”, "A esperteza dos animais”, "As orelhas do coelho Hélio”, "Nzamba – o rei sou eu”, "Estes dois são cão e gato” e "As lágrimas do rei sol”.

O livro "A lenda do ovo e da galinha” foi lançando em Janeiro deste ano, em Luanda, com a chancela da Editora das Letras. Com ilustração do designer Nelo Tumbula, o livro aborda a velha questão de quem nasceu primeiro entre o ovo e a galinha. Lúcia matos, especialista em literatura infantil, escreve no prefácio que, na obra, o autor "vai imprimindo a sua marca no seu fazer poético-literário e oferecendo ao leitor uma gama de possibilidades que vão surgindo, na medida em que a força da oralidade do texto se entrecruza no alinhamento das suas questões”.
John Bella refere que é um livro recomendado, primeiro, aos adultos, que poderão sugeri-lo aos seus filhos e educandos. A província do Namibe é a segunda escolhida para a apresentação deste livro.

Vladimir Prata | Moçâmedes

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