Política

Especial/ 19º Aniversário da Paz e Reconciliação Nacional: Desminagem devolve segurança à terra

André dos Anjos | Lobito

Jornalista

À medida que os anos passam, aumenta no país o número de campos minados que cedem lugar a projectos agrícolas, industriais, habitacionais, rodoviários e ferroviários, embora os números apontem para um caminho ainda longo para que Angola seja declarada “território livre de minas”.

03/04/2021  Última atualização 09H00
© Fotografia por: DR
O balanço mais recente indica que, desde o arranque dos trabalhos, o processo permitiu a limpeza de uma área global superior a 13 mil milhões de metros quadrados de superfície, com a remoção de 453.161 minas anti-pessoal, 26.833 minas anti-tanque, 6,1 milhões de engenhos explosivos não detonados, 3,1 milhões de quilos de material letal diverso e 15,1 milhões de metais. Os benefícios disso, de acordo com o chefe-adjunto da Direcção de Engenharia do Exército e chefe da Sala Operativa da Comissão Executiva de Desminagem, brigadeiro António Jorge, vão desde o aumento do sentimento de segurança, para quem vive no país, à inspiração de confiança a investidores estrangeiros. 

Os ganhos, acrescenta o militar, estendem-se à recuperação 3.218 quilómetros de linhas de caminhos-de-ferro, à instalação de 10.006 quilómetros de extensão de fibra óptica, 350,3 milhões de extensão de linhas de transporte de energia eléctrica de média e alta tensão.  Os ganhos vão ainda da reabilitação de 109 mil quilómetros de estradas, incluindo secundárias e terciárias à construção e modernização de 1,3 milhões de quilómetros de água e canais de irrigação e 52 mil quilómetros de linhas sísmicas. 
A porção já desminada em todo o país, segundo dados cruzados pelo Jornal de Angola, corresponde a mais de dois terços da área global identificada logo depois da guerra. Dados compulsados por este jornal indicam que dos cerca de três mil campos de minas então identificados, mais de 2.000 já foram limpos, o que envolveu esforço financeiro de cerca de 500 milhões de dólares. 
O ritmo inicial dos trabalhos levou as autoridades a aprazarem para 2025 o término do processo, mas a crise económica e financeira que atinge o país, desde a queda abrupta em 2014 do preço do petróleo no mercado internacional, desacelerou o andamento dos trabalhos. Em consequência disso e após a divulgação, em Genebra, de um relatório do Landmine Monitor, o país pediu em 2018 uma extensão do prazo para até Janeiro de 2026 eliminar os campos residuais de minas. Na quinta-feira, o brigadeiro António Jorge, que apresentava aos jornalistas a trajectória e as perspectivas da desminagem no país, admitiu que o processo pode levar mais tempo do que o previsto. "Podemos estar a falar de 2040 e, na melhor das hipóteses, 2032”, vaticinou o oficial general. 
Comparticipação financeira 
Para fazer face à crise financeira que o país atravessa, segundo o brigadeiro, a Comissão Executiva de Desminagem adoptou uma política de comparticipação dos organismos e pessoas singulares nos custos operacionais, iniciativa já comunicada ao Ministério das Finanças. 

Os valores, segundo o oficial general, variam entre 30 e 160 kwanzas por metro quadrado, sendo que para as grandes empreitadas aplica-se o menor valor da tabela. "Quanto maior for o terreno a desminar, menor é o preço, devido aos custos operacionais, resultantes da movimentação de pessoal e equipamentos”, explicou. Os valores arrecadados são maioritariamente canalizados para a melhoria das condições de trabalho dos 4.215 sapadores espalhados pelo país que, devido à crise, viram amputados, entre outras regalias, os subsídios de risco a que tinham direito. 

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