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Ex-funcionários da “Bromangol” exigem salários de mais de 20 meses

Cerca de 70 ex-funcionários do Laboratório de Controlo de Qualidade de Alimentos e Bebidas “Bromangol”, que alegam ter sido despedidos pela instituição sem justa causa, reclamam o pagamento de salários correspondentes há mais de 20 meses, além da indemnização.

04/02/2021  Última atualização 08H55
Na segunda-feira, os trabalhadores manifestaram-se junto às instalações da empresa © Fotografia por: DR
Alguns funcionários da "Bromangol”, contactados pelo Jornal de Angola, lamentam o posicionamento da direcção e dizem que alguns colegas foram coagidos a assinar um documento que põe fim ao vínculo laboral com a instituição. Rufino Semedo afirma ter sido coagido a assinar um documento com a promessa de receber os salários em atraso, o que, em seu entender, não passou de um argumento para colocar as pessoas "no olho da rua”. 

"O tempo vai passando e não sentimos que haja vontade da direcção da empresa em dar solução ao assunto, mesmo sabendo que temos inúmeras responsabilidades, pois somos chefes de família”, lamentou, para depois acrescentar: "temos filhos a estudar em colégios e não sabemos como pagar, porque a empresa demarca-se do compromisso assumido anteriormente”.

Funcionário há mais de sete anos na Bromangol, Rufino Semedo explica que o conflito começou com a perda do monopólio do mercado da inspecção e controlo de qualidade de alimentos importados, em 2017, e daí em diante só foi piorando. Segundo aquele funcionário, a direcção da empresa justificou, na altura, que a crise financeira obrigava a uma reestruturação que passaria pela redução dos colaboradores, embora o presidente do Conselho de Administração, Jorge Pontes, defendia a não redução do pessoal, mas, infelizmente, da intenção não passou.

Gabriel Yamba, outro colaborador que se encontra na mesma situação, disse, ao Jornal de Angola, que cerca de 75 por cento dos trabalhadores que se encontram em casa, devido à pandemia da Covid-19, receberam o salário de Agosto de 2019 um ano depois, ou seja, no mesmo mês do ano seguinte. "Entendemos que a crise afectou muitas empresas e, por conta disso, muitas estão a fazer corte nos gastos, mas não se justifica que os gestores da Brumangol maltratem os funcionários, ao ponto de instruírem os guardas a impedir-nos de entrar nas instalações, quando pretendemos resolver questões laborais”, deplorou.

Um dos funcionários, que pediu o anonimato, disse que muitos colegas que estão em casa, devido às restrições impostas pela pandemia da Covid-19, foram surpreendidos com o corte do seguro de saúde e com o agravante de não terem beneficiado dos subsídios da Covid-19."É só para se ter uma ideia de quantas famílias estão a passar por grandes dificuldades por causa desta situação. As coisas em Angola mudaram e todos podemos reivindicar, de maneira ordeira e sem medo de falar sobre os nossos direitos, pois a fase da escravidão já acabou”, rematou.
 Entretanto, a  directora da empresa Bromangol, Carla Martins,  em declarações ao  Jornal de Angola, não confirma o atraso de salário de 20 meses, mas assegurou que os colaboradores têm recebido periodicamente e, de forma paulatina, conforme os níveis actuais de arrecadação de receitas, "método adoptado após consulta e concertação com os próprios colaboradores”. "Desde que o Estado rescindiu o contrato com a empresa, em 2017, temos dado todos os benefícios aos trabalhadores durante um longo período, desde refeições, transporte e seguro de saúde, mesmo operando com prejuízo financeiro anual”, detalhou.

Carla Martins esclareceu que todo o processo que decorre actualmente, em matéria de suspensão de contratos, seguiu critérios estratégicos de governança corporativa e no estrito respeito da Lei. Explicou que as dificuldades financeiras que, efectivamente, existem e que impedem o cumprimento tempestivo de obrigações com colaboradores e terceiros tem a ver com o contexto económico que, de resto, afecta a maioria esmagadora das empresas angolanas. 

Sobre a alegação de que os trabalhadores foram forçados a assinar a rescisão de contrato por mútuo acordo, a directora garantiu que a concordância resulta na descontinuação da relação jurídico-laboral e garante que a empresa nunca forçou a rescisão de contratos. Lembrou ainda que todas as obrigações que a empresa tem para com os colaboradores foram integralmente assumidas e formalmente comunicadas a cada funcionário. "Logo, não vemos em que circunstância a empresa se furtaria das suas obrigações”.

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