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Excesso de reprovações leva à desistência de muitos estudantes

António Capitão | Uíge

Jornalista

Nos últimos três anos, tem-se notado que muitos estudantes das unidades orgânicas da Universidade Kimpa Vita (UNIKIVI) têm abandonado aquelas instituições para darem seguimento da formação em outras instituições, sedeadas na cidade do Uíge, sobretudo privadas.

12/05/2021  Última atualização 08H10
© Fotografia por: Edições Novembro
Os estudantes alegam que as desistências são motivadas pelas constantes e in-compreensíveis reprovações a que são sujeitos por parte de certos docentes, que fazem de algumas disciplinas  "bi-cho de sete cabeças”, enquanto são cadeiras que em outras instituições são de simples transição.
 Filomena João, de 27 anos, era estudante do 3º ano do curso de Direito, na Faculdade de Direito da Universidade Kimpa Vita. Há quatro anos que não consegue transitar para o 4º ano porque em  2017 foi reprovada na cadeira de Teoria Geral do Direito Civil (TGDC), disciplina que condiciona a participação em outras duas cadeiras no terceiro ano. 

"Não é uma cadeira complicada. O complicado é o docente que faz dela um "bicho de sete cabeças”, com o seu estilo estranho de avaliação. Há várias possibilidades para se superar  uma deficiência, como a prova de recuperação, recurso, exame especial e a repetição da cadeira no ano seguinte, mas infelizmente há quatro anos que todas as alternativas não têm surtido efeito porque o professor decide sempre me reprovar, sem nenhuma justificativa”, lamentou.

 Aborrecida com a situação, Filomena João, decidiu abandonar a UNIKIVI e, este ano, está a dar continuidade dos estudos no Instituto Superior Kalandula, em Luanda. Para a jovem estudante, o tempo que foi "penalizada” na Fa-culdade de Direito no Uíge,  seria "suficiente para concluir o mestrado”.

Lobato Pires, 38 anos, é outro estudante que ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Kimpa Vita em 2016. Também reclama das injustiças e má avaliação dos docentes das cadeiras de TGDC, no 2º ano, e Direito Administrativo, no 3º ano. Diz não compreender os métodos de avaliação que os docentes utilizam que levam à reprovação,  todos os anos, cerca de 97 por cento dos estudantes nestas disciplinas.

O aspirante a jurista, decidiu abandonar a instituição para no próximo ano académico dar continuidade no Instituto Superior Politécnico Privado do Uíge (ISPPU).
"Com esta situação, rotulam os estudantes desta universidade como incompetentes e com pouca capacidade de assimilação dos conteúdos, o que não é verdade.  O problema está nos docentes que, com propósitos inconfessos,  reprovam mais de 90 por cento da turma com 130 estudantes. A Reitoria tem de ver o que se passa, porque algo não está bem”, acentuou.

João Cateco, de 36 anos de idade, frequentava  o 2º ano de Direito na Faculdade da Universidade Kimpa Vita. Desde 2016 que não transita para o 3º ano, "tudo por conta das sucessivas reprovações em algumas disciplinas”, que condicionam a presença do mesmo a assistir as aulas em cadeiras da classe seguinte.

 "Dois professores decidem transformar as cadeiras que leccionam como se fossem rotundas onde os estudantes andam às voltas. Com estas duas reprovações  não poderia assistir outras duas cadeiras no 3º ano porque totalizam quatro disciplinas condicionantes”, disse.


 Vários cursos podem encerrar

Augusto Lunganga  disse que em função do mau estado da via que liga as zonas habitadas às instalações da universidade, muitos estudantes do período nocturno estão a desistir, por dificuldades de locomoção, pois,  os serviços de táxi quase que não funcionam à noite devido à falta de iluminação pública.

 "Se esta situação continuar  brevemente muitos cursos no período nocturno  poderão encerrar, pois, atendendo às normas e aos regulamentos dos cursos pós-laboral, e, de acordo com os estatutos da universidade,  deve haver um número mínimo de estudantes para que um determinado curso funcione. Portanto,  não havendo o número mínimo de estudantes, o curso é encerrado.  
Este é o grande risco que estamos a enfrentar em consequência das desistências devido ao mau estado da via”, lamentou.
  Inquérito
Situação preocupante 


O director do Gabinete de Informação Científica e Documentação da Universidade Kimpa Vita, Augusto Lunganga, disse que o problema é do domínio público, pois, as desistências e reprovações são problemas que fazem parte das principais preocupações da Reitoria.
Augusto Lunganga  informou que  foi cria-da uma Comissão de Inquérito que está a  apurar as razões desta problemática.

As reclamações dos estudantes, disse,  quanto às excessivas e incompreendidas reprovações, "não é um caso particular da Faculdade de Direito, mas também do Instituto Politécnico e da Faculdade de Economia onde existem discentes que não transitam do primeiro ano há três anos”.
 "Logo que terminar o inquérito”, prosseguiu  Augusto Lunganga, "vamos apurar a veracida-de dos factos e tomar as devidas medidas para sanar o problema que já está a preocupar o  reitor”, sublinhou, assegurando  que a instituição vai tornar público o resultado do inquérito.

"É um problema que já se vem arrastando há muito tempo e que as unidades orgânicas já deviam dar resposta”, acrescentou.
Segundo  o responsável, a direcção da instituição está preocupada com a polémica instalada  à volta das reprovações, pois,  "está  a prejudicar a boa  imagem” da universidade, pelo que vai esclarecer o assunto com brevidade.     

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