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Filipe Nyusi pede oração pelo fim do sofrimento em Palma

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu, ontem, ao país, que ore e reflicta pelo fim da dor e sofrimento das populações atingidas pela violência armada na província de Cabo Delgado, região Norte.

04/04/2021  Última atualização 05H55
Chefe de Estado moçambicano envia mensagem de conforto às vítimas da violência armada em Palma por ocasião da Páscoa © Fotografia por: DR
"Que as orações e reflexões conduzam os moçambicanos para a paz, livrando as populações que hoje são directamente vítimas de terrorismo, do sofrimento e da dor”, afirmou Filipe Nyusi numa declaração transmitida pela emissora pública Rádio Moçambique a propósito da celebração da Páscoa, segundo a Lusa.

Mais de 9 mil pessoas fugiram da Vila de Palma desde o ataque de grupos ‘jihadistas’, no dia 24 de Março, relatou o gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
 "Pelo menos 9.158 pessoas - 45 por cento das quais crianças - chegaram aos distritos de Nangade, Mueda, Montepuez e Pemba, de acordo com a última actualização da Organização Mundial para as Migrações”, afirma o OCHA, em comunicado divulgado na sexta-feira.


Militares sul-africanos

O Presidente Cyril Ramaphosa, reconheceu, ontem, que militares sul-africanos estão no terreno, em Cabo Delgado, para garantir a segurança dos seus cidadãos afectados pelos atentados terroristas no Norte de Moçambique.

"Estamos a lidar com a situação de insegurança, acompanhando constantemente os acontecimentos. Já atendemos a retirada de sul-africanos retidos em Moçambique, tendo a Força Nacional de Defesa repatriado o corpo de um sul-africano que morreu, e continuamos envolvidos em garantir a segurança dos nossos cidadãos em Pemba e em Palma”, declarou o Presidente Ramaphosa, sublinhando que a Força Nacional está a trabalhar intensivamente para garantir a segurança de sul-africanos”.

O Chefe de Estado sul-africano falava, ontem, a jornalistas à margem de uma cerimónia do partido no poder, realizada em homenagem à activista Winnie Madiki- zela-Mandela, no Soweto, arredores de Joanesburgo.
A África do Sul reforçou em 27 de Março a sua missão diplomática em Moçambique na sequência do ataque terrorista na cidade de Palma, junto aos projectos de gás no Norte do país, anunciou o Governo de Pretória.

Seis cidadãos sul-africanos foram resgatados na passada terça-feira pela Força Aérea sul-africana, segundo o Ministério da Cooperação e Relações Internacionais (DIRCO, na sigla em inglês).
A operação de evacuação para a África do Sul, realizada pela Força Aérea (SAAF), envolveu também o repatriamento dos restos mortais de um homem sul-africano de 40 anos que morreu nos atentados terroristas na sexta-feira, na vila de Palma, referiu em comunicado.

Na segunda-feira, o embaixador da África do Sul em Moçambique, Siphiwe Nyanda, estimou ao canal público SABC que há 50 cidadãos sul-africanos afectados pelos últimos atentados terroristas no país vizinho.

Na sexta-feira, o Governo suíço disponibilizou um milhão de dólares para assistência humanitária aos deslocados. "O povo suíço vai disponibilizar um adicional de um milhão de dólares para ser utilizado para ajuda humanitária na região do Norte”, disse o coordenador humanitário da Embaixada da Suíça em Moçambique, Gianluca Guidotti, quando visitava Pemba para avaliar a situação.


 Franceses retiram pessoal do projecto de exploração de gás
A petrolífera Total retirou, ontem, o resto do pessoal que mantinha no projecto de gás no Norte de Moçambique, disseram à Lusa diferentes fontes que acompanham as operações.
 A retirada completa inclui empresas subcontratadas que se mantinham na área do maior investimento privado em curso em África e cujos trabalhadores saíram por via marítima e aérea, indicaram as mesmas fontes.

O canal de televisão moçambicano STV acrescentou que um barco com funcionários do projecto deve chegar hoje a Pemba, capital provincial, 200 quilómetros a Sul, assim como é aguardado, sem hora, um avião com 90 pessoas, maioritariamente deslocados, transportados a partir da pista de aviação de Afungi.

De acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), a Total estima que haja 23 mil pessoas refugiadas junto ao projecto (Quitunda e Afungi), meia dúzia de quilómetros a Sul da vila.
A zona está guarnecida pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas que estão no terreno para tentar recuperar o controlo de Palma.

Ao contrário do que vinha acontecendo, o Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas (UNHAS) não operou na sexta-feira a aeronave que chegava a fazer cinco rondas entre Pemba e Afungi para resgatar os casos mais vulneráveis entre deslocados, disseram pessoas ligadas à recepção em Pemba.

Um porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) moçambicano admitiu que pode haver "constrangimentos” operacionais nas operações de transporte de deslocados, sem detalhar, mas disse à Lusa que o organismo "continua a cumprir com a sua obrigação” de assistência à população e continua a ter a Total como um dos principais parceiros.

Segundo o porta-voz, a própria directora do INGD está desde ontem em Cabo Delgado para acompanhar as operações de transporte que continuam a ser planeadas por via aérea e marítima, com recurso a um navio que já esta semana transportou deslocados e que estará a ser sujeito a reparações.

A retirada completa da Total do distrito de Palma acontece após um ataque à vila sede que provocou um número de mortes ainda desconhecido e que está a colocar em fuga cerca de 10 mil pessoas - além das 23 mil reportadas pela petrolífera junto ao recinto. O ataque contrariou o anúncio de retoma gradual das obras, após uma primeira retirada de pessoal em Janeiro, na sequência de um outro ataque nas proximidades.

A violência desencadeada há mais de três anos na província de Cabo Delgado ganhou uma nova escalada há uma semana, quando grupos armados atacaram, pela primeira vez, a vila de Palma, que está a cerca de 25 quilómetros dos multimilionários projectos de gás natural. Os ataques provocaram dezenas de mortos e obrigaram à fuga de milhares de residentes de Palma, agravando uma crise humanitária que atinge cerca de 700 mil pessoas na província, desde o início do conflito, de acordo com dados das Nações Unidas.

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